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14 de agosto de 2011
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13:28

Patrimônio: concluída parte do restauro da Igreja da Conceição

Por
Sul 21
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Nubia Silveira (texto) e Flavia Boni Licht (consultora)

Na quarta-feira (17), Dia do Patrimônio Histórico, será inaugurada parte do restauro da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre. A solenidade terá início às 10h. Já estão restaurados o Arco da Cruz, o Presbitério e seus entornos e o Altar Mor. Os trabalhos, sob a responsabilidade do arquiteto Edegar Bittencourt da Luz, começaram em agosto de 2009. A previsão de término depende de vários fatores, entre eles, a arrecadação, via Lei Rouanet, dos recursos necessários, orçados, inicialmente, em R$ 4,5 milhões. Esta é a primeira vez que a Igreja passa por uma restauração completa. Os problemas encontrados pelos restauradores foram provocados, basicamente, pelas infiltrações e pelos cupins, havendo necessidade de substituir madeiras.

Igreja de Nossa Senhora da Conceição começou a ser construída em 1851 l Foto: Museu José Joaquim Felizardo

A especialista Suzana Fernandez, integrante da equipe de Bittencourt da  Luz, dedica-se a restaurar os forros da Capela Mor e da Nave, as cimalhas da Nave e da Capela Mor, o Arco Cruzeiro, o Altar Mor e quatro retábulos laterais na Nave, oito tribunas, dois nichos em madeira entalhada, o Coro, os ornatos na parede do Coro, o paravento, o Batistério com Pia Batismal e o Oratório. Suzana descobriu que o entalhador João do Couto e Silva – o mesmo que fez a Igreja de Nossa Senhora das Dores — empregou, originalmente, no Altar Mor, a cor azul claro, com entalhes dourados.

Construção foi finalizada em 1880 l Foto: Museu José Joaquim Felizardo
Construção foi finalizada em 1880 l Foto: Museu José Joaquim Felizardo

Construída entre 1851 e 1880, a Igreja é, segundo o arquiteto Lucas Volpatto, um dos únicos exemplares, no Estado da arquitetura luso-açoriana, no estilo barroco tardio. “Ela é patrimônio por causa disso”, afirma o jovem arquiteto, que toca os trabalhos de rearquitetura do prédio, juntamente com o arquiteto Paulo Cesa Filho. Volpatto lembra que a Igreja sofreu algumas intervenções em 1940, quando um dos discípulos de Aldo Locatelli, Emílio Sessa, foi convidado a fazer algumas pinturas no templo, preparando-o para o Congresso Eucarístico Nacional, que se realizou em Porto Alegre, em 1948. Agora, também, será dada “uma solução nova de acessibilidade” ao templo, sendo construídas rampas e colocado elevador.

Podium de entrada voltará com uma nova leitura l Foto: Museu José Joaquim Felizardo

— Isto não vai descaracterizar o prédio tombado pelo município em 2007?
— A Igreja – diz Volpatto – tem passado por diversas intervenções e foi descaracterizada, por exemplo, quando alargaram a Avenida Independência e foi perdido o podium de acesso, que agora será retomado, com uma nova leitura. A Igreja terá um acesso que remeterá à época da construção do prédio.

Dia do Patrimônio

Escolhido como a data para apresentar aos gaúchos a parte já restaurada da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, o Dia do Patrimônio Histórico é uma homenagem ao advogado, jornalista e escritor Rodrigo Melo Franco de Andrade, que dirigiu o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, depois transformado em Instituto (IPHAN), de 1937, data de sua criação, até 1968, quando se aposentou. A arquiteta Flavia Boni Licht destaca que Melo Franco foi “um dos principais responsáveis pela criação da política brasileira de proteção, valorização e divulgação do patrimônio cultural”.

Rodrigo Melo Franco de Andrade: criador da política brasileira de proteção, valorização e divulgação do patrimônio cultural l Foto: falaouropreto.com.br

Flavia, uma admiradora de Melo Franco, diz que “talvez mais que tudo, ele tenha nos deixado como herança a consciência da responsabilidade que temos em defender, respeitar e cuidar de nosso patrimônio cultural”. Redator do Decreto Lei 25, de 1937, que organizou a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, Melo Franco pregava: “Somente a extensão territorial, com seus acidentes e riquezas naturais somada ao povo que a habita, não configura de fato o Brasil, nem corresponde à sua realidade. Há que computar também, na área imensa povoada e despovoada, as realizações subsistentes dos que a ocuparam e legaram às gerações futuras: a produção material e espiritual duradoura, ocorrida do norte a sul e de leste a oeste do país, constituindo as edificações urbanas e rurais, a literatura, a música, assim como tudo o mais que ficou em nossas paragens, como tração de caráter nacional, de desenvolvimento histórico do povo brasileiro. O acervo dessas produções da sucessão já longa dos nossos predecessores é que, ligando os brasileiros de hoje às populações que os antecederam, originárias da própria terra ou de províncias de outros continentes, em verdade autentica e afirma a existência nacional”.

Fim do restauro depende da obtenção de recursos l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Fim do restauro depende da obtenção de recursos l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
O dourado permanece nas peças restauradas l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
O dourado permanece nas peças restauradas l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Restauro do Alto Mor será entregue na quarta-feira l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Restauro do Alto Mor será entregue na quarta-feira l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Pintura externa do templo está em fase de conclusãol Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Pintura externa do templo está em fase de conclusãol Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Cores suaves lembram as originais l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Cores suaves lembram as originais l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Entalhes em madeira foram prejudicados pela infiltração e pelos cupins l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Entalhes em madeira foram prejudicados pela infiltração e pelos cupins l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Igreja ganha uma rampa de acesso l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Igreja ganha uma rampa de acesso l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Restauro dos entalhes está a cargo de Suzana Fernandez l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Restauro dos entalhes está a cargo de Suzana Fernandez l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Exemplo francês

Os irmãos Pedro e Antônio Chaves Barcellos eram empresários, amigos e sócios. Quando Pedro faleceu, Antônio decidiu homenageá-lo com a construção de uma galeria, que ligaria a Rua dos Andradas, conhecida como Rua da Praia, à Rua José Montaury. A história é contada pelo mais jovem Pedro Chaves Barcellos, que administrou a Galeria Chaves por quase 20 anos, de 1990 a 2008, quando o local foi vendido para um grupo de fora do Estado. As fotos com detalhes da Galeria foram publicadas na semana passada e identificados corretamente por Lucas Volpatto e Fatima Ávila. Construída em 1936, para ser, ao mesmo tempo, local de comércio e de moradia, nos anos 60, lembra Pedro, os apartamentos começaram a perder espaço para o comércio e a se transformar em sedes de escritórios de advocacia, laboratórios de análises clínicas, consultórios médicos, entre outros comércios e serviços.

Galeria Chaves: ponto de encontro e de footing, na primeira metade do século XX l Foto: Arquivo Pessoal

O arquiteto Luiz Merino, do Programa Monumenta, em Porto Alegre, afirma que o projeto do arquiteto Fernando Corona, no que diz respeito à galeria, inspirou-se nas passagens de Paris, do século XIX, que eram “cobertas, iluminadas e de luxo”. Este modelo se espalhou pelo Brasil no início do século XX, chegando à capital gaúcha na década de 30. Na parte externa, o prédio é de inspiração italiana, no estilo renascentista de Florença.

Tombada pela prefeitura em 1986, a Galeria Chaves lembra, entre outras, a Vittorio Emanuelle de Milão, diz Merino. Ponto de encontro desde a sua inauguração e local para o tradicional footing dos anos 40 e 50, a Galeria passa por uma reforma, tendo ganho, além de um novo elevador, duas  escadas rolantes, que ligam o piso inferior, com entrada pela José Montaury, ao superior, com entrada pela Rua da Praia.

Nos anos 70, estavam instalados na galeria – lembra Pedro Chaves Barcellos – o Laboratório Weinmann e a Lancheria Vips, onde políticos e artistas costumavam se reunir. Flavia Boni Licht lembra-se da Joalheria Ibañez e da Loja Beethoven. Hoje, uma das proprietárias do Café Chaves, Juliana Severo, diz que o local é muito procurado por turistas, que querem fotografar a galeria.

Galeria Chaves: estilo renascentista florentino l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Galeria Chaves: estilo renascentista florentino l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Inicialmente, os andares superiores eram detinados à moradia l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Inicialmente, os andares superiores eram detinados à moradia l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Parte interna da galeria seguiu o exemplo das famosas passagens de Paris l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Parte interna da galeria seguiu o exemplo das famosas passagens de Paris l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Projeto foi do arquiteto Fernando Corona l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Projeto foi do arquiteto Fernando Corona l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Detalhes chamam a atenção dos turistas l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Detalhes chamam a atenção dos turistas l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
O piso é de ladrilhos decorados l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
O piso é de ladrilhos decorados l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Galeria foi construída em 1936 l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Galeria foi construída em 1936 l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Ornamentos são do também escultor Fernando Corona l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Ornamentos são do também escultor Fernando Corona l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Galeria Chaves foi tombada pelo município em 1986 l Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Galeria Chaves foi tombada pelo município em 1986 l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Endereços:

— Igreja de Nossa Senhora da Conceição – Avenida Independência, 230

— Galeria Chaves – Rua da Praia, 1444

De onde são?

Olhe bem estas fotos e descubra de que prédio histórico de Porto Alegre são estes detalhes.

Ramiro Furquim/Sul21
Ramiro Furquim/Sul21
Ramiro Furquim/Sul21
Ramiro Furquim/Sul21

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