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22 de fevereiro de 2011
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15:22

Emissoras de TV entram em guerra pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro

Por
Sul 21
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Lucas Uebel/Grêmio.Net
Foto: Lucas Uebel/Grêmio.Net

Jorge Seadi

A negociação dos direitos de transmissão por televisão do Campeonato Brasileiro para o triênio 2012, 13 e 14 está aumentando a “guerra” entre Globo e Record e, mais uma vez, divide os clubes brasileiros. Os direitos de transmissão são negociados pelo Clube dos Treze, presidido pelo gaúcho e ex-presidente do Grêmio Fábio Koff. A cada nova renovação, Koff tem conseguido aumentar a receita dos clubes. No entanto, sempre que há negociação, alguns clubes se revoltam e querem aumentar sua participação no bolo. E as TVs que brigam entre si fomentam essa divisão dos clubes na tentativa de pagar menos pelos direitos.

O Clube dos 13, associação que reúne os 20 maiores clubes do país, tem negociado os direitos, ao longo dos anos, em TV aberta, TV fechada, payper wiew e, agora, também internet. Para cada uma destas mídias o Clube dos Treze quer receber proposta separada. Isto significa que a rede que comprar os direitos para TV aberta, por exemplo, terá de negociar à parte a transmissão em TV fechada.

Hoje (22), a comissão dos clubes responsável por negociar os direitos de transmissão tem reunião em São Paulo para definir e formatar o edital de convocação que definirá as regras da concorrência. As propostas deverão ser apresentadas em envelope fechado. A grande diferença desta negociação para as anteriores é que a Rede Globo, atual dona dos direitos em TV aberta, TV fechada e payper wiew, não tem mais o direito de preferência que lhe dava uma grande vantagem, que era a de, no mínimo, igualar a proposta da concorrência e continuar com a exclusividade. No final do ano passado, depois de longo processo, o Conselho Admnistrativo de Defesa Econômica (Cade) proibiu que o Clube dos 13 desse essa preferência à  Rede Globo. Agora, outras emissoras, e principalmente a Rede Record, se mostraram interessadas na concorrência.

Globo x Record

A Rede Globo tem os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro e de outras competições esportivas há muito tempo. Por falta de interesse das demais redes, a Globo sempre teve exclusividade dos grandes eventos de futebol e também de esportes amadores. O telespectador acostumou-se a ver grandes eventos esportivos, como Pan-Americano, Jogos Olímpicos, Sul-Americanoe Liga de Vôlei, na tela da Globo. E sempre com exclusividade. Nos últimos anos, a Record entrou na concorrência e ganhou da Globo eventos como os Jogos Olímpicos de Londres, ano que vem. Só a emissora do bispo Edir Macedo vai transmitir a próxima Olimpíada em TV aberta. Os canais fechados Sportv, da Globosat, tiveram de pagar à Record para ter o direito de transmistir os eventos. Até agora, não há confirmação de que as emissoras chegaram a um acordo. O próximo Pan-Americano, que será realizado no México, também é exclusivo da Record.

A disputa pela audiência, pelos patrocinadores, é tão grande que a Rede Globo tem por norma dar o menor espaço possível para qualquer evento em que a concorrência tenha exclusividade. Apesar do tamanho de uma competição como os Jogos Olímpicos, é possível que na tela da Globo seja noticiado apenas em “notas peladas”, que quer dizer, no jargão de TV, apenas um texto lido pelo apresentador. Sem imagens.

O Campeonato Brasileiro de Futebol de 2012, 2013 e 2014 pode ficar restrito a este tipo de informação na Rede Globo se a TV dos Marinho não tiver a exclusividade. Nos últimos dias, os executivos da emissora carioca têm se movimentado nos bastidores na tentativa de colocar outros ingredientes nesse “prato saboroso” que é ter a exclusividade dos direitos de transmissão das partidas de futebol. Perder esse direito significa perder patrocinadores, grandes verbas, e perder audiência. É comum se andar por qualquer cidade deste país durante a transmissão de um jogo de futebol e a quase totalidade dos televisores estarem ligados na rede Globo. Você poderá fazer esta experiência amanhã à noite, durante o jogo do Internacional contra os mexicanos do Jaguares, pela Libertadores da América.

Não admitindo perder essa “arma” poderosa de audiência, de grana, de prestígio, a Rede Globo foi para os bastidores para minar a proposta da Record, que promete ser graúda. Os executivos da rede carioca disseram aos clubes que “nenhuma outra rede brasileira tem a qualidade de imagem, a penetração e a audiência dela e que isto deveria pesar na hora da decisão de quem deveria ficar com os direitos”. Segundo a coluna de Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, os clubes não levaram em consideração esta tentativa da Globo. Os clubes querem dinheiro. A proposta inicial é de R$ 500 milhões pelos direitos exclusivos de transmissão, contra R$ 250 milhões pagos pela Globo pelo campeonato deste ano. O presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil, que também faz parte da comissão do Clube dos 13 que trata dos direitos de transmissão, afirmou que “vai levar o campeonato a rede que pagar mais”.

Clubes x clubes

Se a “guerra” entre as emissoras favorece os clubes, a divisão do Clube dos 13 atrapalha a tentativa de ganhar mais dinheiro. O presidente do Corinthians, por exemplo, já disse que quer ganhar mais que os outros. “O Corinthians é o clube que dá maior audiência e por isso mererece ficar com a parte maior do bolo”, disse Andres Sanchez. E o presidente corintiano ameaça sair do Clube dos 13 ainda hoje se a divisão deste dinheiro das TVs não favorecê-lo. Ameaça também negociar isoladamente com a Rede Globo. Alexandre Kalil diz que “negociação em separado só prejudica os clubes e que não é recuperável antes de 20 anos”. Já o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, afirmou hoje que, se o Corinthians quiser negociar sozinho, pode fazê-lo. “Ele que procure o que é melhor para ele. Nós vamos seguir o nosso caminho”, disse Koff.

Na verdade, o presidente do Corinthians pode estar provocando essa divisão na tentativa de criar uma liga independente, com a participação de outros clubes, como o Flamengo, e com o apoio do presidente da CBF, Ricardo Texeira, inimigo declarado de Fábio Koff. Para que Andres Sanchez e o presidente da CBF tenham êxito, será preciso que tenham no seu grupo o maior número possível de clubes.

A guerra das TVs e a divisão dos clubes brasileiros não é nova, mas os resultados dessa batalha de hoje, em São Paulo, pode ter repercussões fortes nos próximos dias. É esperar para ver.


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