O príncipe africano que criou o Bará do Mercado e aconselhou Borges de Medeiros

O príncipe africano Custódio Joaquim de Almeida viveu em Porto Alegre nas primeiras décadas do século 20. 

Mas sua história e seus feitos parecem ainda ser pouco conhecidos pelos moradores da cidade.

Ele morou por mais de 30 anos em POA e sua trajetória se cruza com muitos momentos importantes, como o colonialismo europeu e as conexões entre África e Brasil para além da escravidão.

Descendente do reino da República do Benin (onde hoje é a Nigéria), na África, teria se chamado Osuanlele Okizi Erupê.

Na capital gaúcha, era conhecido como o “Príncipe Negro” ou príncipe Custódio.

Acredita-se que sua saída da terra natal, no final do século 19, tenha sido consequência da invasão britânica.

A data e o local de nascimento do príncipe é desconhecida, provavelmente no ano de 1831.

De lá, passou pelo RJ até entrar no RS pelo porto de Rio Grande, nos anos finais do séc. 19.

Deve ter entrado no Brasil pela Bahia, quando Salvador era uma das mais importantes cidades do País.

O príncipe negro era devoto do orixá ogum.

Passou por Rio Grande e por Bagé. Em ambas cidades, fundou casas para a prática de religiões de matriz africana.

Em 1901, chegou a Porto Alegre e fixou residência num casarão na rua Lopo Gonçalves, nº 498, bairro na época denominado Areal da Baronesa, tradicionalmente ocupado pela população negra da cidade.

Acredita-se que ele tenha sido responsável pelo assentamento do Bará no Mercado Público e de outro Bará, no Palácio Piratini.

Em POA, manteve suas relações com adeptos das religiões de matriz africana.

Se relacionou com Júlio de Castilhos e foi conselheiro do então governador Borges de Medeiros.

Nos anos em que viveu em Porto Alegre, Custódio transitou pela alta sociedade da época. 

Ele morreu em Porto Alegre no dia 28 de maio de 1935, aos 104 anos de idade.

O príncipe Custódio teve oito filhos e, além dos familiares, viveu cercado por muitos funcionários.

FOTOS: ACERVO PÚBLICO, RAMIRO FURQUIM E LUIZA CASTRO

WEBSTORIE: ANNIE CASTRO

Texto: Luciano Velleda

Confira mais