O indigenista que precisou deixar o Brasil para não morrer

Em novembro de 2019, Ricardo Henrique Rao, indigenista especializado da Funai, entregou à Câmara dos Deputados um dossiê denunciando crimes cometidos contra povos indígenas do Maranhão.

O documento denunciou a atuação miliciana conectada ao crime organizado madeireiro, ao narcotráfico e a homicídios cometidos contra os povos indígenas do Maranhão.

Após entregar o dossiê, avaliando estar marcado para morrer, Ricardo Rao solicitou asilo diplomático a Noruega, a partir de contatos que havia estabelecido com povos originários daquele país.

Segundo Ricardo Rao, as coisas começaram a piorar para os indigenistas e os povos indígenas desde o início do governo Temer. Com o governo Bolsonaro, tudo só foi se agravando.

“Um destacamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi na Funai, atrás de mim, em 2019. Um dia depois, a Funai abriu um processo disciplinar contra mim com uma acusação absurda”, conta.

Depois da morte de Paulo Paulino Guajajara, guardião da floresta assassinado em uma missão de vigilância dentro da Terra Indígena Arariboia, Ricardo preparou o dossiê e decidiu sair do país.

“Depois da morte do Paulino eu sabia que seria o próximo. Um sujeito apelidado de Carioca já tinha me dito que “aqui namoradinho de índio morre cedo””, relatou.

O indigenista assinala ainda que, hoje, dentro da Funai, quem tem um perfil combativo e idealista, vive uma situação de acosso permanente.

Ele lembra o trabalho do indigenista Bruno Pereira, com quem chegou a trabalhar:

"Ele era um modelo para todos nós indigenista brasileiros. Era 24 horas dedicado à causa indígena".

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL, SURVIVAL INTERNACIONAL E REPRODUÇÃO

WEBSTORIE: ANNIE CASTRO

Texto: Marco Weissheimer

Confira mais