Opinião
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24 de dezembro de 2022
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06:08

A privatização da natureza e a natureza da privatização (por Eduardo Ruppenthal)

Orla do Lami, em Porto Alegre, um dos alvos da privatização no RS. (Foto: Joana Berwanger/Sul21)
Orla do Lami, em Porto Alegre, um dos alvos da privatização no RS. (Foto: Joana Berwanger/Sul21)

Eduardo Ruppenthal (*)

A entrega de patrimônio público pelos governos neoliberais do Melo (MDB) e Leite (PSDB), das empresas estatais essenciais como transporte, energia e água, se aprofunda com a privatização de áreas verdes. No Rio Grande do Sul são os parques estaduais e o Jardim Botânico de Porto Alegre (JBPA) e na capital, a Orla do Guaíba, o Lami, os parques Harmonia, Marinha e da Redenção. Na lógica neoliberal até os parques e espaços públicos viram mercadoria e não escapam da sanha entreguista e privatista.

Leite e Melo seguem o caminho privatista do governo Bolsonaro, que entregou vários parques nacionais, como o Aparados da Serra e da Serra Geral no RS. Os “estudos” são realizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com contratação do consórcio Araucárias e do Instituto Semeia.

O Jardim Botânico de Porto Alegre tem 36 hectares, é um “pulmão verde” na área e na cidade, tem papel paisagístico único por sua beleza natural. Possui uma estrutura de laboratórios, gabinetes, salas de exposições e coleções científicas, constituindo um acervo diversificado de exemplares de animais, plantas e fósseis que representam a biodiversidade nacional e internacional, com ênfase no RS. É considerado um dos cinco maiores jardins botânicos brasileiros e tem classificação A, conforme a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

Segundo parecer elaborado pela ONG INGÁ, publicado no Sul21, há uma série de elementos graves no processo de privatização, que vão desde a falta de transparência até o desvio de finalidades, já que se prioriza a lógica de comércio e lucro em detrimento aos papéis essenciais de um jardim botânico: educação ambiental, pesquisas, manutenção e divulgação de acervos botânicos.

No primeiro leilão, do dia 19 de novembro, nenhuma empresa teve “interesse”, um jogo de faz de conta, para aumentar ainda mais as benesses das empresas interessadas e valores pífios, como foi a privatização do Parque Estadual do Turvo, que teve lance de meros R$ 125 mil reais por uma concessão de 30 anos.

Nossa luta continua, em defesa dos parques públicos: municipais, estaduais e federais. Pelo Lami, pela Redenção, pelo Harmonia, pelo Jardim Botânico públicos, abertos, vivos e bem cuidados.

NÃO À PRIVATIZAÇÃO!!

(*) Biólogo, professor da rede pública estadual, especialista em Meio Ambiente e Biodiversidade (UERGS), mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR-UFRGS), militante do coletivo Alicerce e da Setorial Ecossocialista do PSOL/RS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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