Opinião
|
21 de janeiro de 2022
|
12:30

Um governador jovem, porém, um velho político (por João Victor Domingues)

Governador Eduardo Leite  | Foto: Divulgação
Governador Eduardo Leite | Foto: Divulgação

João Victor Domingues (*)

Entramos no último ano do Governo Leite. Como todo ano eleitoral, os próximos meses serão de muita articulação política para que o governo esteja representado na campanha. Ao contrário do que muitos imaginam, o fato de o atual governador não ser candidato à reeleição demandará um trabalho ainda maior para evitar rachas. Portanto, pouca coisa diferente do esperado pode acontecer e, diante disso, é possível ter um diagnóstico bastante razoável do que representará a atual gestão tucana ao final de 2022.

Ao longo do seu mandato, foi possível observar a boa capacidade de Eduardo Leite de manter a coesão de sua base e de manter uma excelente e inédita relação com a imprensa, em especial com o Grupo RBS. Ao mesmo tempo, foi possível observar o grande desconhecimento de Leite em relação à base produtiva do RS e menos ainda de ações concretas para seu fortalecimento.

Vamos aprofundar os fatos.  

O governador dificilmente fala algo sobre a matriz produtiva gaúcha. Não foi alvo de sua preocupação o fenômeno da desindustrialização, que nos faz voltar para o século XVII. Voltamos a ter grande dependência da exportação da soja e voltamos a exportar, em larga escala, gado em pé. Nossa produção industrial perde participação no PIB. Também não houve investimento forte em inovação tecnológica, aliás o pior desempenho dos últimos governos. Não há uma política de desenvolvimento correlacionada à matriz produtiva que precisa ser modernizada. Até mesmo para o setor primário, a tecnologia é fundamental para ganho de produtividade, em função das restrições da nossa fronteira agrícola. 

Com relação à crise climática, Eduardo Leite foi à COP26, mas não temos uma ação concreta contra a emissão de GEE, pelo contrário, seu governo foi responsável pela liberação de agrotóxicos que são proibidos de serem usados nos países onde são produzidos. Medida que atende produtores rurais, mas impede, nas áreas onde são usados, de nossos produtores obterem certificação e atuar na comercialização de créditos de carbono. Sem política de irrigação e de uso sustentável dos recursos hídricos. Ou seja, na contramão do estabelecido no âmbito da UNFCCC e de suas metodologias de planos de manejo sustentáveis.

Apesar de jovem, enxergamos em Eduardo Leite a figura de um velho político, preso na agenda política dos anos 80 e 90, suplantada pelo próprio capitalismo. Não há nada de concreto que o governador tenha feito para redução das desigualdades sociais e para retomada de um ciclo de desenvolvimento. No processo de privatização da CEEE não foi exigido, por exemplo, um investimento maior para a melhoria da qualidade da energia elétrica no meio rural. Uma contrapartida possível e uma ação urgente. Aqui se vê que privatizar é uma questão ideológica. Componente também presente na privatização da Corsan com o atropelo aos prefeitos municipais e a insegurança jurídica criada.

Se não bastasse, diz ainda que o debate sobre o Banrisul tem que ser pautado para a próxima eleição. Como um velho político, usando uma artimanha de caudilho local, esconde que o tema já foi pauta na campanha que o elegeu. Boa parte dos votos que Leite conquistou no 2° turno contra Sartori, se deu pelo compromisso veemente de não privatizar Banrisul e Corsan. Ora, o debate político foi feito e Leite não cumpriu com sua palavra. 

Apesar de jovem, as ações demonstraram que fomos governados por um velho caudilho, preso numa receita ultrapassada e sem futuro.

(*) Advogado, ex-secretário de Infraestrutura do RS

***

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora