Opinião
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31 de janeiro de 2022
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08:03

Trem ao futuro. Próximas paradas: Colômbia e Brasil (por Anisio Pires)

A expressão político-eleitoral do clamor popular por mudanças está sendo encabeçada por Gustavo Petro. (Facebook/Reprodução)
A expressão político-eleitoral do clamor popular por mudanças está sendo encabeçada por Gustavo Petro. (Facebook/Reprodução)

Anisio Pires (*)

Os povos cansados de tantos descarrilamentos provocados pelos inimigos da humanidade, agora são mais sábios depois de sofrer, resistir e lutar. Agora querem vencer. 

Na Nicarágua, o terrorismo que produziu mais de 240 mortes em 2018 não foi capaz de derrotar a consciência do povo. No dia 7 de novembro de 2021 elegeu o Comandante Daniel Ortega com mais de 75% dos votos numa participação histórica superior aos 65%. Aquela história dos “presos políticos” é completamente falsa. Caíram presos alguns políticos delinquentes que recebiam financiamento externo para desestabilizar o país. Dar credibilidade aos inventores das “armas de destruição em massa” no Iraque é pura estupidez. 

Em Cuba já ninguém lembra do show montado entre os dias 11 e 17 de julho de 2021. Agentes “cubanos” a serviço dos EUA manipularam uns poucos incautos através de uma poderosa operação nas redes sociais, quando pretendiam mostrar ao mundo o “descontentamento contra a ditadura cubana”. O Presidente Díaz-Canel marchou junto ao povo em Havana, desmontando a mentira. Meses depois (15nov) uma tal “Marcha Cívica pela Mudança” foi tão real que desapareceu ao se cruzar com o Unicórnio Azul de Silvio Rodríguez.  

A Venezuela, assediada como Cuba, também vem resistindo, lutando e vencendo desde que Obama a declarou em 2015 “uma ameaça inusual e extraordinária para a segurança dos EUA”. A campanha mundial contra “a ditadura venezuelana” foi derrotada nas eleições de 21 de novembro de 2021. Unidas, as forças bolivarianas ganharam 19 de 23 governos de estado e 205 prefeituras de 322. Com o objetivo de fazer da Revolução Bolivariana um processo irreversível, o Presidente Nicolás Maduro anunciou (15.01.22) um novo Plano de Transição ao Socialismo 2022-2030 baseado em três novos R que se somam à Revisão, Retificação e Reimpulso que tinha proposto o Comandante Chávez. O Presidente os denominou “3R.Nets” e estes seriam: “Resistência frente às agressões imperiais, Renascer do espírito original da Pátria e o Revolucionar permanente para fazê-lo melhor”.    

Honduras, depois de 12 anos de dura resistência, recuperou sua dignidade construindo uma formula unitária que elegeu a primeira mulher presidenta do país. Com uma participação superior a 65%, Xiomara Castro ganhou com mais de 51% dos votos, tirando quase 20% de vantagem do candidato da direita no poder. O povo ignorou a campanha de medo sobre o perigo “chavista-comunista”. Isso só funciona agora na mente anestesiada de uns poucos.     

Chile teve seu turno no dia 19 de dezembro de 2021. A repressão aos protestos sociais que começaram em 2019 não pode com o despertar do povo. A farsa do “modelo chileno” caiu e a repressão carabineira que causou muito dano, não assustou os chilenos. Com mais de 55% dos votos, Gabriel Boric derrotou o representante do pinochetismo. Allende vive!      

A primeira parada de 2022 será na Colômbia no dia 29 de maio. A possibilidade de que o regime narco-paramilitar uribista chegue a seu fim é muito real, apesar da história de violência da truculenta oligarquia colombiana. O desemprego, a fome e a miséria têm sido exponencialmente agravados pelos deslocamentos sociais forçados, a pandemia e a atrocidade sistemática de assassinatos de dirigentes populares e de ex-guerrilheiros que depuseram as armas com os acordos de Paz que não tem sido respeitados. A Colômbia tem décadas convertida num horripilante campo de concentração, sob o silêncio cumplice dos mesmos defensores dos DDHH que condenam a Cuba, Nicarágua e Venezuela. Mesmo assim, as mobilizações sociais que sacudiram o país desde maio de 2021 não têm parado um só dia. O povo colombiano adquiriu uma admirável coragem frente à morte. Segue lutando apesar dos massacres quase diários nas mãos das forças militares e policiais, de sicários e grupos paramilitares. A expressão político-eleitoral do clamor popular por mudanças está sendo encabeçada por Gustavo Petro. Em décadas, seria o primeiro presidente que não representaria a oligarquia entreguista e assassina. Nós, os humanistas do mundo, devemos trabalhar por sua vitória.       

A segunda parada de 2022 será no Brasil, ¡Lula Presidente! 

Sem dúvida, as eleições do próximo 15 de outubro no gigante latino-americano são as mais importantes e estratégicas para nosso continente e para o novo giro multipolar que atravessa o mundo. Todos sabem que a contrarrevolução golpista que destituiu a Presidenta Dilma Roussef e que encarcerou Lula, esteve motivada pela necessidade norte-americana de neutralizar o papel do Brasil no grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), ao qual Argentina poderia se somar. Por isso, foi facilitada a chegada ao poder no Brasil de um neofascista como Bolsonaro, algo menor para os estadunidenses que já tinham organizado o violento golpe de estado de 2014 na Ucrânia, buscando a desestabilização continuada da Rússia (que ameaça hoje a paz mundial). Lula aprendeu a lição e agora sabe bem: “Tenho muita clareza do papel histórico dos EUA”. 

Aqueles que criticam o Lula não entenderam as várias mensagens que ele deu em sua extraordinária e emotiva entrevista do dia 19 de janeiro passado. Sentindo-se afortunado por tudo o que tem vivido e conquistado em seus 76 anos, afirmou: “tudo o que eu fizer daqui pra frente tem que ser despojado da minha visão pessoal”. Uma generosidade que reforçou com a amplitude de sua perspectiva: “Eu sonho grande para acordar grande, para fazer coisas grandes nesse país”. 

Com os pés na terra, Lula alertou que frente ao “descalabro” produzido por Bolsonaro, reconstruir a Brasil “não será fácil”. O país que receberá em 2023 estará “muito, muito, muito mais destruído que o Brasil de 2003”, quando chegou pela primeira vez à presidência. Por isso, e pela necessidade de fazer política para os novos tempos, Lula diz aos ortodoxos que ele está vendo um mundo “mais colorido” que precisa de muita paciência e sabedoria para enfrentá-lo. No entanto, a chave de tudo está na altura moral de seu compromisso. Lula deixou bem claro que sua prioridade será “o povo brasileiro, o povo trabalhador, a classe média baixa”. E para quem achar que se trata apenas de uma promessa de campanha, declarou seu “compromisso de fé”: “Eu morei num quarto e cozinha com 13 pessoas, então eu tenho consciência do que esse povo está passando. Eu não posso mentir”. E destacou: “Eu não posso querer ser presidente da república para resolver o problema do sistema financeiro, para resolver o problema dos empresários, para resolver o problema daqueles que ficaram mais ricos na pandemia. Só tem uma razão de eu ser candidato a presidente da república. É para tentar provar que esse povo pode voltar a ser feliz”. Por isso, nós que lutamos pelo futuro, confiamos plenamente em Lula. 

Num mundo onde se usa a mentira para encarcerar, destruir e assassinar, Lula é autêntico, de verdade, com corpo e alma. Lula todo exala humanidade. É a esperança de um povo. Com sua vitória ganhará o Brasil, a Pátria Grande e a humanidade que quer Justiça e Paz. 

(*) Anisio Pires, sociólogo venezuelano (UFRGS/Brasil), professor da Universidade Bolivariana de Venezuela (UBV)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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