Opinião
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27 de dezembro de 2021
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15:45

A esquerda na sucessão gaúcha (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini
Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

A pesquisa divulgada ontem (26) pelo instituto Atlas mostra Edegar Pretto (PT) e Onyx Lorenzoni (DEM) liderando a disputa de 2022 pelo Palácio Piratini como 18,6% e 17,8% das intenções de voto, respectivamente. A sondagem trouxe ainda outras informações importantes. A esquerda, que além de Edegar Pretto, tem as pré-candidaturas de Beto Albuquerque (PSB) e Pedro Ruas (PSOL), soma hoje 34,8% das intenções de voto – 18,6% de Edegar, 8,4% de Ruas e 7,8% de Beto.

Apesar da liderança numérica de Edegar Pretto, a esquerda tem o desafio de evitar a fragmentação de candidaturas no campo progressista. Na eleição de 2018, por exemplo, Miguel Rossetto (PT) conquistou 17,76% dos votos válidos, Jairo Jorge (PDT) teve 11,08% e Roberto Robaina (PSOL) fez 0,64%. Somados os percentuais de Rossetto, Jairo e Robaina, a esquerda conquistou 29,48% no primeiro turno. O percentual foi inferior aos 35,90% de Eduardo Leite (PSDB) e 31,11% de José Ivo Sartori (MDB). Porém, caso o campo progressista estivesse menos pulverizado, a chance de estar no segundo turno aumentaria. 

Guardadas as devidas proporções, a configuração do tabuleiro nesse momento, caso não ocorra uma concertação política entre as esquerdas, traz o risco do cenário de 2018 se repetir em 2022. Embora os nomes citados do PSDB (Ranolfo Vieira Júnior) e do MDB (Alceu Moreira) apareçam mal posicionados na pesquisa, quem representar o governo Eduardo Leite (PSDB) tem boas chances de estar no segundo turno. E temos ainda o campo bolsonarista, hoje dividido entre Onyx e Luis Carlos Heinze (PP).

Diante deste cenário, é importante observar o histórico recente das eleições para governador no RS. De 1994 a 2018 – últimas sete eleições – PT, PSB e PCdoB estiveram juntos em 1994, 1998 e 2010. Em duas oportunidades, 1998 (com Olívio Dutra) e 2010 (com Tarso Genro) a esquerda elegeu o governador. A única derrota quando esses três partidos estiveram coligados desde o primeiro turno foi em 1994. Mesmo assim, naquela disputa, quando Antonio Britto, então no PMDB, venceu Olívio, o PT teve uma vitória política, já que Olívio saiu de 34,73% no primeiro turno para 47,79% no segundo turno.

Outra peça importante nesse xadrez é o PDT. Embora em 1998 os pedetistas tenham concorrido com a então senadora Emília Fernandes no primeiro turno, o apoio a Olívio no segundo turno foi determinante para a vitória sobre Britto. Já em 1994, o PDT, que no primeiro turno daquela eleição concorreu com Sereno Chaise, ficou neutro no segundo turno. E em 2010, mesmo com o PDT tendo Pompeu de Mattos como vice de José Fogaça (PMDB), parte do PDT aderiu a Tarso, que venceu em primeiro turno. 

Em outros pleitos, com a exceção de 1994, quando PT, PSB e PCdoB não estiveram juntos, o campo progressista foi sempre derrotado. Em 2002, Tarso Genro teve o apoio do PCdoB, PCB e PMN. O PSB lançou Caleb de Oliveira e o PDT apoiou Antonio Britto (PPS). No segundo turno entre Tarso e Germano Rigotto (PMDB), o PDT optou por Rigotto. E o PSB seguiu Tarso.

Em 2006, Olívio Dutra teve o apoio apenas do PCdoB. O PSB lançou Beto Grill. O PDT concorreu com Alceu Collares e o PSOL com Roberto Robaina, que teve o apoio do PCB. No segundo turno, PDT optou por Yeda Crusius (PSDB) e o PSB apoiou Olívio, que acabou perdendo para Yeda. Nas eleições de 2014, Tarso teve o apoio do PCdoB, PTB, PTC, PROS, PR e PPL. O PSB apoiou José Ivo Sartori (PMDB) e o PDT concorreu com Vieira da Cunha. No segundo turno entre Tarso x Sartori, vencido pelo PMDB, o PDT optou por Sartori.

E em 2018, Miguel Rossetto teve somente o apoio do PCdoB. O PDT lançou Jairo Jorge, que foi apoiado pelo PV, SD, Podemos, Avante, PMB e PPL. E o PSOL concorreu com Robaina, que teve o PCB como aliado.

Embora cada eleição tenha sua dinâmica, é importante observar a história ao traçar estratégias eleitorais. E a história mostra que quando PT, PSB e PCdoB estão juntos desde o primeiro turno crescem as chances de sucesso eleitoral. Por outro lado, quando os três partidos se dividem, aumenta o risco de derrota.

Como historicamente o PDT tem candidatura própria no Estado, uma aliança entre PT, PSB, PCdoB e PDT é improvável neste momento. Porém, uma construção política desse porte não deve ser descartada. Mesmo que um entendimento entre os quatro partidos ocorra somente num eventual segundo turno, a densidade eleitoral do campo progressista cresceria no RS. 

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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