Noticias|Últimas Notícias>Política
|
26 de janeiro de 2011
|
18:27

Desenvolvimento regional será o foco de Jorge Pozzobom na Assembleia

Por
Sul 21
[email protected]
Desenvolvimento regional será o foco de Jorge Pozzobom na Assembleia
Desenvolvimento regional será o foco de Jorge Pozzobom na Assembleia
Jorge Pozzobom, futuro líder da bancada do PSDB

Felipe Prestes

“Tenho posição política, mas não sou xiita”, diz ao despedir-se, pelo telefone, o deputado estadual eleito pela primeira vez Jorge Pozzobom (PSDB). O tucano, que vai ser líder da bancada de seu partido, garante que apoiará o governador Tarso Genro em tudo o que “for bom para o Rio Grande”. Diz que não fará oposição “leviana”, como, acredita, a ex-governadora Yeda Crusius sofreu.

Pozzobom trabalhou com Yeda como secretário-geral adjunto de Governo e assessor do gabinete da ex-governadora. Diz que ela fez um dos melhores governos que o RS já teve, “do ponto de vista administrativo”, mas reconhece que houve um isolamento. “Faltou uma articulação política maior com os partidos da base aliada, que, quase todos, nunca estiveram juntos com a governadora”.

Em Santa Maria, Pozzobom trabalhou como secretário de Assistência Social e também na inédita pasta de Integração Regional, durante a administração de Cezar Schirmer (PMDB). A atuação nesta última pasta talvez explique os mais de oito mil votos obtidos fora de Santa Maria. Foram 33.474 votos, cerca de 25 mil em Santa Maria, onde também foi vereador, eleito em 2004.

Na Assembleia, o deputado diz que vai trabalhar principalmente na discussão do desenvolvimento regional e que não pretende apresentar muitas leis, considerando que já temos leis demais. Para “brigar” pela região de Santa Maria, Pozzobom diz que já está fazendo parceria com um velho adversário político, o ex-prefeito Valdeci de Oliveira (PT), que também chega à Assembleia. “A parceria está muito legal”.

Sul21: O senhor vai para seu primeiro mandato. Como foi a sua trajetória política até aqui? A que o senhor atribui sua eleição?
Jorge Pozzobom
: Fui suplente de vereador (de Santa Maria) em 2000. Faltaram 18 votos para eu me eleger. Fiz 1.193 votos. Em 2004, concorri novamente e fiz 5.120 votos. Faltaram 18 votos na primeira e sobraram 2.875 na segunda. Em 2006, concorri a deputado federal e fiz 36 mil votos, 30 mil só em Santa Maria. Estava me preparando para ser candidato a deputado federal novamente. Comecei a ver as dificuldades que eu teria. Precisaria de cerca de 100 mil votos para me eleger. Resolvi concorrer a deputado estadual. Fiz 25 mil votos em Santa Maria e 8 mil fora. Fui secretário aqui do município. Criamos aqui a primeira secretaria municipal de Integração Regional. Procurei em sites pelo Brasil e não vi algo semelhante. Nosso objetivo era buscar a união da Região Central do estado.

“Mostramos que era possível buscar uma integração regional, com resultado positivo para todos”

Jorge Pozzzobom

Sul21: Isto foi na administração de Cezar Schirmer?
JP
: É, eu fui secretário de Assistência Social e depois secretário de Integração Regional. Algumas pessoas não entendiam o que era esta secretaria. A gente começou um trabalho junto com os prefeitos da região, todos eles deram apoio integral. Santa Maria durante muito tempo deu as costas para a Região Central. Nós queríamos mostrar que isto tinha que acabar. Durante os dois governos do prefeito Valdeci, não havia esta ligação com os prefeitos da região. Havia uma queixa de que um município grande como Santa Maria estava isolado. Mostramos que era possível buscar uma integração regional, com um resultado positivo para todo mundo. Montamos aqui na região um consórcio intermunicipal para tudo. Se a prefeitura de Formigueiro quer comprar uma retroescavadeira e compra sozinho tem um custo muito maior do que via consórcio. Fui também secretário-geral de governo com a governadora Yeda, passei quatro anos trabalhando esta questão do desenvolvimento regional.

Sempre defendi uma espécie de voto distrital, mostrando a carência que nossa região tinha de representação. Agora, teremos três deputados da região. Aqui de Santa Maria, eu e o Valdeci, mais o Chicão (José Francisco Gorski, do PP), de Santiago. Sempre tive divergência político-partidária com o Valdeci, mas sempre tivemos ótima relação pessoal. Estamos indo juntos a diversos lugares e assumindo o compromisso de continuar cada um defendendo suas convicções políticas, mas, acima de tudo, de brigar pela região. Está um negócio legal. Tem uma série de projetos que estão em andamento e que nós estamos capitaneando: hospital regional, presídio regional, a primeira UPA do estado, que está instalada em Santa Maria e foi um pedido pessoal meu para a governadora.

Sul21: O senhor vai trabalhar bastante esta questão do desenvolvimento regional na Assembleia?
JP
: Estudei muito este tema. O nosso Corede, aqui da região, tem um trabalho científico sobre desenvolvimento regional, planejamento estratégico. É uma metodologia que pode ser aplicada em qualquer região. A gente quer discutir isto dentro da Assembleia. Eu tenho a convicção de que, se a gente consegue implantar uma metodologia de desenvolvimento em uma região, a gente consegue implantar nas outras regiões.

Jorge Pozzobom

Sul21: Que ideias centrais tem neste estudo?
JP
: Primeiro, tu pegas todas as dificuldades de cada região. Aqui em Santa Maria não estamos enfrentando o que Bagé está enfrentando, a questão da seca. Nós temos outros problemas. Um problema estrutural muito grande. Todas as rodovias desembocam aqui em Santa Maria. Temos que discutir urgentemente um anel rodoviário. Quando tu desenvolves uma região, acabas ajudando o estado como um todo. Cada região tem que se focar na resolução destes problemas e, a partir daí, buscar soluções de maneira conjunta.

Cada deputado representa uma região, acho que eles terão interesse neste planejamento estratégico para sua região. Entendo que na Assembleia, com todo o aparato que dá para os deputados, só não vai trabalhar quem não quiser. Pela estrutura que a Assembleia tem, as comissões, o grande número de servidores, a experiência que tem o Parlamento gaúcho, estou convencido de que dá para fazer um excelente trabalho. E trabalharei em dois eixos: o desenvolvimento regional e também a questão de infraestrutura, com uma visão de futuro que é logo ali, na Copa do Mundo de 2014. Entendo que a governadora Yeda avançou muito na questão da infraestrutura, principalmente porque ela conseguiu botar R$ 950 milhões no Daer para fazer obras importantes. A RS-471, a ponte de Agudo, construída em 261 dias, um tempo recorde.

Sul21: O senhor será líder da bancada do PSDB. Como o senhor conseguiu chegar à liderança já no primeiro mandato? Como foram as conversas na bancada?
JP
: É aquela receita: eu queria, não pedi, me ofereceram e eu aceitei (risos).

Sul21: E por que lhe foi oferecida a liderança?
JP
: Não sei. Nós estávamos conversando em uma reunião, um já tinha sido, outro já tinha sido, e aí perguntaram se eu queria a oportunidade. Não sei se teve algum motivo específico, mas eu fiquei muito feliz, porque foi uma escolha conjunta com todos os cinco deputados.

Sul21: Como será o tom da oposição que o PSDB vai fazer? Isto já foi conversado?
JP
: Eu posso te dizer o ponto de vista que eu defendo. Não farei uma oposição leviana e irresponsável como a governadora sofreu. Posso falar por mim. Esta é a conduta que eu vou ter como líder da bancada. Tudo o que for bom para o RS, o governador Tarso pode ter a certeza de que terá meu apoio. Estamos enfrentando duas questões agora: a presidência do Irga e o conselho da Agergs. Não vou entrar em questão política, pois o governador Tarso entendeu juridicamente que podia fazer – tanto que foi negado o mandado de segurança do Vicente (Britto, indicado para o Conselho da Agergs). Mas entendo que houve um atropelamento ao Poder Legislativo. A Assembleia aprovou o nome do conselheiro, como ocorreu com a lei votada pelos deputados para a nomeação do presidente do Irga. E o governador revoga a lei para fazer a nomeação partidária de um membro do PT. Essas são algumas questões que vão além de fazer uma disputa PSDB x PT. É uma questão muito mais de respeito aos poderes.

Sul21: Mas no caso do Irga, por que esta lei não foi aprovada no início do governo Yeda?
JP
: É aquela velha expressão jurídica: “Dormientibus non succurrit jus”, o direito não socorre os que dormem. Os caras dormiram, então agora têm que acolher as consequências.

Sul21: O senhor trabalhou como assessor do gabinete da governadora…
JP
: Fui secretário-geral de Governo adjunto e depois fui assessor dela.

Sul21: Como foi esta experiência no governo do estado?
JP
: Não tenho nada do que me queixar de quando trabalhei com a governadora, porque consegui muita coisa para minha região. Muitas e muitas demandas atendidas aqui passaram por um trabalho pessoal que eu fiz com ela. A primeira UPA do estado, a ponte de Agudo, que foi um trabalho que lutamos muito para que acontecesse de maneira rápida, devido ao grande prejuízo que estávamos sofrendo na região. Só tive experiências positivas. E os problemas políticos que ocorreram no governo fazem parte de todos os governos. Se houve acerto, ou erro político cada um tem que ser responsabilizado por sua ação. Nos momentos de muita dificuldade da governadora, fiquei do lado dela. O próprio Valdeci me disse: ‘Pozzobom, a gente gosta de ti e nós do PT temos respeito por ti, por tua postura de ter ficado ao lado da governadora no momento difícil’. Basicamente o que o pessoal do PT sofreu com o mensalão do Lula. Eu entendo que a palavra lealdade tem que ser forte não só no nome.

“Estou convencido que o governo Yeda foi um dos melhores, do ponto de vista administrativo”

Jorge Pozzobom e a ex-governadora Yeda Crusius

Sul21: O senhor considera que houve erros políticos no governo Yeda?
JP
: Ocorreram erros políticos estratégicos, que inviabilizaram um segundo mandato da governadora. Eu sou suspeito para falar por questão político-partidária, mas estou convencido de que fizemos um dos melhores governos do ponto de vista administrativo. Faltou um diálogo maior, uma articulação política maior com os partidos da base aliada, que, quase todos, nunca estiveram juntos com a governadora. São questões que tu vais discutir para poder não cometer o mesmo erro em outras oportunidades. Mas essa questão já passou. Em um café da manhã que a governadora nos chamou para tomar, algumas pessoas quiseram discutir que erros haviam ocorrido. Eu disse que iria discutir de maneira propositiva o futuro, que erros a gente tinha que discutir em outro momento.

Sul21: Como vai ser o futuro do PSDB aqui no estado, sem ter cargos no governo federal, fora também agora do governo estadual e sem administrar cidades importantes no estado? Como está a situação financeira do partido?
JP
: Todas estas questões teremos que discutir internamente. Haverá eleição neste ano, faremos esta discussão. Podemos estar com uma deficiência aqui no RS, mas o PSDB no país governa inúmeros estados, mesmo estando há oito anos fora do governo federal. (O PSDB) foi a maior surpresa (nas eleições). Primeiro, todo o mundo imaginava que a Dilma venceria no primeiro turno, e não ganhou. Todo mundo imaginava que o PSDB perderia muitos governos de estado, e não perdeu. Ganhou em muitos estados. Se tu pegares PSDB e DEM, temos oito governos de estado e a maioria da população do país. É uma experiência que vamos discutir agora dentro do partido. A nova direção que assumir é que terá que fazer esta discussão. Estou convencido de que os dois verdadeiros partidos que existem hoje são PSDB e PT. Entendo que são partidos que têm posições bem definidas. São partidos que estão consolidados. Não faço crítica pontual a nenhum outro partido, mas não podemos esquecer que hoje dentro do governo federal estão PP, PMDB, PDT e PTB. Aqui no estado, tem gente do PP que quer entrar no governo Tarso. Tem gente do PMDB, aqui do RS, que está junto com a Dilma e não está com o Tarso. Aqui no PSDB a gente tem posição bem definida. Ou tu estás no PSDB, ou não estás.

Sul21: Sendo os dois partidos com posições mais definidas, quais são as maiores diferenças entre PT e PSDB?
JP
: Vou te dizer uma coisa, por incrível que pareça, de tão antagônicos que são, vai cada um para sua ponta extrema e se encontram nos extremos. (PT e PSDB) têm duas políticas parecidas. A política econômica que o PT exerceu nos seus oito anos de governo foi herdada do governo FHC. Prova concreta disto, foi a permanência de Henrique Meirelles no Banco Central. Talvez venha a mudar agora, com a saída dele. Há os projetos sociais, pelos quais o PT se vangloria, como o Bolsa-Família, que foram criados pelo PSDB. Então são partidos que tem duas imposições muito parecidas. Evidentemente que o PT faz muito mais marketing que nós, uma discussão que temos que fazer.

“Sempre tive preferência pela candidatura do Aécio, por ser um cara mais novo”

Jorge Pozzobom (C)

Sul21: Isto é algo que o PSDB precisa aprender?
JP
: O PT sempre fez marketing melhor. Eu tenho exemplo aqui em Santa Maria. Quando foi construída uma rua, cada quadra que era asfaltada, o prefeito Valdeci reunia toda a equipe dele e fazia um carnaval, de forma legítima. Sob o ponto de vista do cidadão que mora em uma rua que só tinha barro e poeira, daí tocam asfalto e, no período de um mês, tem cinco festas, parece que são cinco grandes obras. Entendo que é legítimo e que o PT faz bem isto.

Sul21: Já que falamos deste antagonismo entre PT e PSDB, o senhor acredita que o tempo do José Serra passou? O PSDB deve buscar outro candidato para a presidência da República?
JP
: Não é uma questão de tempo do Serra. É muito difícil hoje, quando termina uma eleição, já querer estar discutindo se é tempo de quem. Isto teremos que discutir dentro do partido. Eu sempre tive preferência pela candidatura do Aécio, por ser um cara mais novo. Entendo que o Aécio é um cara que iria representar algo diferente. Mas sempre respeitei a decisão do partido. Nenhum tempo passa. O Serra tem uma baita de uma trajetória pública. Uma história bonita. O Serra levou a Dilma para o segundo turno, quando já havia petistas discutindo ministérios. É muito cedo para dizer que o tempo de um ou de outro passou. A história do Serra é bonita. A história do Fernando Henrique é bonita. A história do Alckmin, do Mario Covas, Franco Montoro. Nós temos uma história. Como temos hoje a história do Lula. Quem é que vai dizer que a história do Lula não é uma história bonita? Só alguém que seja um acéfalo político. Evidentemente cada um dentro de seus eixos temáticos, mas, volto a te dizer: muitas e muitas coisas que o PT falava do PSDB fez igualzinho quando governou.

Sul21: O senhor tem algum projeto específico que vai apresentar na Assembleia?
JP
: Sabe, temos lei demais. Tem lei para tudo. Eu respeito a posição de quem gosta de fazer projeto de lei para tudo. É legítimo. Mas acho que temos papéis mais importantes, questões para discutir na Assembleia. Uma delas não é um projeto de lei, mas um projeto de estado, que é a questão do desenvolvimento regional. Eu vou tentar com toda minha dedicação discutir isto com os deputados. Se eu vou conseguir, ou não, é outra coisa. Pessoas até acharam engraçado quando eu disse que queria discutir a questão da obesidade infantil. É uma questão de saúde.

Sul21: Então, o senhor acha que é mais importante que os deputados discutam temas importantes do que apresentem leis?
JP
: Depende da lei que vamos fazer. Tu achas que vou fazer uma lei para dizer que o Ronaldinho é persona non grata no estado, porque não veio para o Grêmio? O deputado Sossella fez. Respeito a posição dele, mas eu jamais faria uma lei deste tipo. Se tu falares com 100 pessoas, 150 vão debochar do Sossella, dizer que este não é o papel do deputado. Entendo que tem coisas em que podemos contribuir de maneira importante. Executivo e Legislativo são poderes independentes, mas harmônicos entre si. Portanto, em muitas questões que são de atribuição exclusiva do Executivo, a gente pode discutir dentro da Assembleia e discutir com o governador, que não é o governador de um partido, mas do estado. Vou procurar ser extremamente rigoroso comigo mesmo. Se é uma lei que eu tenha dúvida que vá produzir algum resultado positivo para o estado, vou usar aquele lema que nos orienta na estrada: “Na dúvida, não ultrapasse”. Na dúvida, não vou apresentar o projeto.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora