Coronavírus
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6 de setembro de 2021
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14:13

Recusa na testagem entre alunos dificulta monitoramento da covid nas escolas da Capital

Por
Luciano Velleda
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Secretária de Educação, Janaina Audino, conduziu o processo da nova organização pedagógica na Capital. Foto: Alex Rocha/PMPA
Secretária de Educação, Janaina Audino, conduziu o processo da nova organização pedagógica na Capital. Foto: Alex Rocha/PMPA

Cerca de 30% dos casos avaliados para covid-19 nas escolas de Porto Alegre ficam sem resultado por recusa de coleta para realização do exame. Desde o dia 3 de janeiro deste ano, o rastreamento de casos nas escolas municipais, estaduais e particulares da Capital aponta 5.880 resultados negativos, 289 positivos e 2.589 recusas de coleta.

Os dados constam no último boletim covid-19 sobre as instituições de ensino, publicado dia 31 de agosto pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

Na semana epidemiológica 33, entre os dias 22 e 28 de agosto, foram 29 casos positivos que originaram a investigação de surtos, sendo um em escola municipal comunitária, quatro em escolas municipais da Prefeitura, três em escolas estaduais e 21 em colégios particulares.

Esses surtos resultaram na investigação de 320 pessoas, entre alunos, professores e funcionários, sendo 314 em escolas privadas. Da investigação, oito casos deram positivo e 183 negativos, um teve o exame negado e 128 ainda não tiveram o resultado divulgado.

O elevado número sem resultado tem ocorrido semanalmente. Em tese, a SMS fica aguardando o resultado dos exames na semana seguinte, mas eles acabam não vindo. São prioritariamente alunos cujos pais decidem manter o filho em quarentena e optam por não fazer o exame. Assim, com o passar dos dias, são incluídos na tabela como recusas de coleta.

Diretora de Atenção Primária da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Caroline Schirmer destaca ser importante estimular os pais a fazerem o exame nos alunos. Atualmente, 18 unidades de saúde da Capital oferecem gratuitamente o teste rápido de antígeno para detecção do coronavírus. A expectativa é ampliar para até 50 unidades.

Atualmente, a taxa de positividade (relação entre testes feitos e resultados positivos) na população de Porto Alegre está em 15%. Na última sexta-feira (3), a Secretaria Municipal da Educação (Smed) divulgou que, considerando apenas o universo das quase 53 mil pessoas que circularam nas 258 escolas (132 privadas, 77 comunitárias, oito estaduais e 41 municipais), sendo 44 mil alunos, o percentual de contaminação na comunidade escolar está em 0,05% do público.

O problema dessa análise é o alto índice de recusa de exame nos alunos, cerca de 1/3 do total, o que interfere no resultado final. Apesar do elevado número de estudantes que deveriam ser testados e não são, a diretora de Atenção Primária da SMS acredita não haver mascaramento de dados. E diz que o contágio nas escolas tem acontecido mais entre professores, seja no refeitório e nas áreas de convivência, e menos entre os professores e os alunos. “Tá sendo muito bom esse retorno às aulas, temos que cuidar”, afirma.

Tabela da Prefeitura mostra o alto índice de recusa de coleta nas escolas da Capital. Gráfico: PMPA/SMS

A maior negativa em realizar exame de covid-19 ocorre entre alunos das escolas particulares de Porto Alegre. No último boletim da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), dos 290 alunos em investigação, 14 eram a origem do possível surto, 111 testaram negativo, apenas 4 deram positivo e 161 ainda não se sabe o resultado.

Diretora do Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro-RS), Margot Andras diz ser preocupante o alto número de alunos que se negam a fazer o exame.

Na sua avaliação, o lugar com maior risco de contaminação dos alunos é o banheiro e reforça a necessidade de cumprir os protocolos. As escolas cheias com o rápido retorno às aulas presenciais também causa preocupação. “A gente teme. Está praticamente todo mundo vacinado (entre os profissionais da escola), mas o contágio permanece.”

Margot reconhece a dificuldade com os estudantes das escolas privadas que se negam ou não são levados pelos pais a fazer o exame de covid-19. “Se a turma está isolada, eles vão ficar em casa por 14 dias e não fazem o teste. A ideia de que possa estar assintomático não passa pela cabeça”, afirma. “Precisa de uma campanha, porque às vezes fica mais fácil isolar do que fazer o teste.”

O último boletim covid-19 sobre as instituições de ensino apresentou seis surtos confirmados em andamento. Quando o surto é identificado, a escola é obrigada a paralisar as atividades. A diretora do Sinpro pondera que tal exigência possa ser motivo para as próprias escolas tentarem esconder a situação. A medida, então, passa a ser interromper a aula presencial apenas da turma que teve casos positivos confirmados e não comunicar o surto.

“Muitas vezes não se sabe, muitas vezes se alega ser só uma turma. E aí se saia com essa turma. Enquanto a escola puder esconder, ela esconde. É quase como o aluno que não quer fazer o teste. É uma situação bem complexa, umas escolas levam muito a sério, outras ‘tapam o sol com a peneira’”, avalia.

A diretora do Sinpro reforça a necessidade dos pais cobrarem o cumprimento dos protocolos dos filhos e também por parte da escola para se conseguir frear a contaminação.

O uso de máscara, inclusive, é destacado por Caroline Schirmer, diretora de Atenção Primária da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), como importante para evitar a propagação do coronavírus e também de outros vírus respiratórios no ambiente escolar, como a bronquiolite. “São essas ações e o monitoramento que vão nos ajudar a enfrentar a crise.”


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