Eleições 2022
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9 de outubro de 2022
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08:44

Xenofobia toma as redes após 1º turno e mais de 2 milhões de tweets citam o Nordeste

Por
Duda Romagna
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Lula e Bolsonaro. Fotos: Guilherme Santos/Sul21 e Marco Corrêa/Fotos Públicas
Lula e Bolsonaro. Fotos: Guilherme Santos/Sul21 e Marco Corrêa/Fotos Públicas

Durante a apuração da eleição presidencial no último domingo (2), os dois principais lados da disputa tomaram as redes para repercutir os resultados e um tópico se mostrou central: o Nordeste. Para a esquerda apoiadora do ex-presidente Lula (PT), a região representava a esperança de uma virada e da eleição em primeiro turno; para os bolsonaristas, era o medo da derrota e alvo de discursos de ódio.

Ao fim da apuração, se comprovou tecnicamente que lá foi registrada a votação mais expressiva do petista. Apesar disso, é interessante destacar que os estados em que a votação de Bolsonaro caiu na comparação com o primeiro turno de 2018 ficam em outras regiões. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, do Sudeste, Rio Grande do Sul e o Distrito Federal foram as únicas unidades da federação onde foram registrados menos votos nominais para Bolsonaro em 2022 do que em 2018.

A partir da definição de um segundo turno entre os dois candidatos, os ataques e as defesas aos nove estados da região Nordeste se intensificaram. A Safernet, ONG brasileira que mantém a Central Nacional de Denúncias de Violações contra Direitos Humanos e o Canal Nacional de Apoio e Orientação sobre Segurança na Internet, relatou que, na segunda-feira (3), recebeu 348 denúncias de xenofobia, sendo 232 delas links únicos. No dia da eleição, foram 10 denúncias, 9 únicas e uma duplicada. Em uma semana, 2.678.200 publicações foram feitas no Twitter sobre o Nordeste. Às 20h do domingo houve um pico de 11.800 tweets por minuto.

À esquerda, influenciadores como Felipe Neto, Juliette e Giovanna Ewbank tiveram as interações mais expressivas.

À direita, Rodrigo Constantino, Roger Rocha Moreira e General Heleno lideraram.

O próprio Presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), reforçou a narrativa de seus apoiadores de que o Nordeste teria o maior eleitorado de Lula porque tem mais analfabetos. Após receber retaliação, Bolsonaro alegou que os dados seriam retirados de uma matéria do UOL Notícias, mas em uma relação de causalidade que não é respaldada nos fatos.

Para Fabiana Moraes, jornalista, professora e pesquisadora do Núcleo de Design e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (NDC/UFPE), em alguns casos a imprensa serve de “gasolina para o jet ski” do presidente. “Ele está repercutindo uma fala preconceituosa, e ele é preconceituoso, mas a gente precisa admitir, de maneira muito triste, que ele não está fazendo isso sozinho. Bolsonaro é esse epítome da arrogância, da falta de educação, de intolerância, mas boa parte da imprensa comercial tem caminhado ao lado dele, mesmo tentando às vezes se esconder. Você vê esse jogo duplo que também serve de anteparo de estrutura para fascismo, para xenofobia e que, ao mesmo tempo, tem uma certa performance de democrático, de técnico, de objetivo.”

Há também o discurso mais explicito, que ataca sem qualquer tentativa de respaldo em fatos. “Sobre esse outro grupo, não vejo isso como uma coisa fora da curva. Para mim, só é a confirmação do mais do mesmo. Desse bolsonarismo que tem o pé fincado nessa ideia de superioridade de uma região que trabalha em relação a região que é “preguiçosa”, declara Fabiana. “Eu acho que talvez seja até menos “danoso”. Porque no primeiro caso você tem essa performance de democracia. Nesse segundo caso, você tem o radicalismo, que arreganha os dentes e está como sempre esteve, é mais fácil identificar e portanto é mais fácil de combater. No segundo caso, eu acho que com fascista não se conversa, se vai para cima também.”

Para combater o primeiro cenário, a pesquisadora diz que um movimento da imprensa é necessário. “Existem diversas maneiras de você combater, e uma delas é um jornalismo responsável, engajado, e que não tem medo de fazer concessões frente ao combate ao fascismo. Por exemplo, agora mesmo, a gente viu uma frente ampla ser formada, com Lula, Alckmin, Simone Tebet, FHC, Meireles, nomes de centro, nomes de direita e nomes da centro esquerda estão juntos. E isso não tem sido um tópico importante para a imprensa brasileira. Talvez pelo fato de essa frente ampla não ser capitaneada pela terceira via que a imprensa tentou inflar e não conseguiu. Entre Lula e o fascismo, a gente tem visto, novamente, uma dúvida. É estarrecedor!”

A xenofobia, discriminação com base na origem, é crime e quando ocorre nas redes sociais, segundo a jurisprudência do STJ, é atribuição da Justiça Federal e torna-se qualificado e a pena, que é de reclusão de 1 a 3 anos, mais multa, passa para reclusão de 2 a 5 anos, mais multa. Ainda, como previsto na Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 em redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97:

  • Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

No âmbito eleitoral, está previsto como crime no Código Penal, em artigo incluído pela Lei nº 14.197, de 2021.

  • Art. 359-P. Restringir, impedir ou dificultar, com emprego de violência física, sexual ou psicológica, o exercício de direitos políticos a qualquer pessoa em razão de seu sexo, raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

 

 


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