Eleições 2022
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21 de setembro de 2022
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18:25

Cassado e inelegível, Irigaray aposta no próprio pai para tentar manter votos de 2018

Por
Flávio Ilha
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Ruy Almeida Irigaray e Ruy Irigaray. Foto: Reprodução Instagram/Ruy Almeida Irigaray
Ruy Almeida Irigaray e Ruy Irigaray. Foto: Reprodução Instagram/Ruy Almeida Irigaray

O ex-deputado estadual Ruy Santiago Irigaray Junior, cassado em março deste ano por improbidade administrativa, encontrou um jeito pouco convencional de se manter na política e preservar os votos bolsonaristas de 2018: apostou no próprio pai, de quem herdou o nome, para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa. Sem filiação partidária, sem nunca ter disputado nenhum cargo eletivo antes, Ruy Almeida Irigaray, 85 anos, é empresário como o filho. E bolsonarista como ele. A ponto de incluir o sobrenome do presidente na urna eletrônica: Ruy Irigaray Bolsonaro.

Quem apenas lê o nome do candidato pode pensar que está diante de um equívoco: além da cassação, Irigaray ficou inelegível pelos próximos oito anos. Mas é intencional. Além de usar na urna o mesmo nome do ex-deputado, as redes sociais do candidato associam pai e filho de forma direta – além de mostrarem mais o parlamentar cassado do que o próprio postulante à Assembleia.

O ex-parlamentar foi flagrado utilizando mão de obra de servidores vinculados ao seu gabinete na reforma de um imóvel de sua propriedade e em tarefas domésticas, além de ser acusado de se apropriar de parte dos salários de funcionários, prática conhecida como rachadinha, e de atacar adversários políticos por meio de perfis falsos nas redes sociais.

A denúncia, surgida em fevereiro de 2021, foi aceita pela Comissão de Ética da Assembleia, que instalou uma subcomissão processante para analisar as denúncias. Em novembro do ano passado, a comissão aprovou por unanimidade parecer recomendando a cassação do mandato do deputado por promover o desvio de função de servidores de seu gabinete. As outras duas denúncias foram arquivadas. O parlamentar sempre negou as acusações. A cassação, conduto, foi incontestável: 45 deputados votaram a favor, e somente três contra.

No perfil no Instagram, candidato mantém imagem antiga estilizada. Foto: Reprodução/Instagram

Eleito pelo PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro (atualmente no PL) com 102 mil votos, Irigaray foi secretário de Desenvolvimento e Turismo do ex-governador Eduardo Leite (PSDB), candidato à reeleição. Sem tradição política, dono de postos de gasolina, Irigaray se elegeu na esteira do anti-petismo. Na campanha de 2018 também usou como estratégias uma suposta ameaça comunista no país e se alinhou ao discurso armamentista de Bolsonaro, posando em estantes de tiro portando fuzis.

O ex-deputado migrou para o União Brasil – resultante da fusão do PSL com o DEM – em abril deste ano e levou o pai, que assinou a ficha de filiação na data-limite para garantir a candidatura. A filiação, entretanto, foi contestada pelo Avante – partido alegou que Ruy Almeida Irigaray havia assinado ficha no partido um mês antes. A disputa pelos votos, e pelos recursos partidários, do pai do ex-deputado se arrastou até 8 de setembro, quando o TRE finalmente homologou a filiação no União Brasil.

Primeira foto nas urnas (dir.) precisou ser substituída porque não condizia com a aparência atual do candidato (esq.). Fotos: TSE

Os indícios de que a candidatura se destina a confundir os eleitores são eloquentes: além do mesmo nome do deputado cassado, a fotografia que constava na urna e na propaganda eleitoral era incompatível com a legislação, que determina a utilização de uma imagem recente dos candidatos. A primeira fotografia, que remetia à fisionomia atual de Irigaray Junior, teve de ser trocada por deliberação do TRE – embora continue no perfil de Instagram do candidato.

Irigaray, o pai, mesmo sem tradição política, recebeu o teto de doação destinada a candidatos à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul pelo União Brasil: R$ 190 mil do diretório nacional. É a única receita informada ao TSE na primeira prestação de contas do candidato. Apenas outros três candidatos a deputado estadual da lista do União Brasil receberam esse montante de recursos. A campanha de Irigaray, entretanto, já lançou gastos de R$ 275 mil – dos quais R$ 115 mil foram pagos.

Procurado pela reportagem do Sul21, o ex-deputado confirmou a candidatura do pai mas não respondeu aos nossos questionamentos.

O advogado que representa legalmente o candidato Ruy Irigaray Bolsonaro no TSE, Lucas Matheus Madsen Hanish, diz que renunciou ao cargo e que não responde mais pelo político. Ele não quis falar com a reportagem e nem explicar os motivos pelos quais renunciou à representação.

Outro advogado que representou Irigaray na homologação da candidatura junto ao TRE, Adauvir Della Torre Merib, disse que atuou no caso apenas “para ajudar um colega”. Ele afirmou ainda que não se lembra quem o convidou para ingressar com a representação junto ao Tribunal. “Atuei só nessa peça de defesa, nada mais. Ponto. Não conheço mais nada desse caso”, limitou-se a dizer, com certa irritação.


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