Política
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28 de fevereiro de 2023
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19:09

Vereador ataca resgatados em Bento: ‘A única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor’

Por
Sul 21
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Vereador Sandro Fantinel durante sessão na Câmara de Vereadores de Caixas do Sul. Foto: Bianca Prezzi
Vereador Sandro Fantinel durante sessão na Câmara de Vereadores de Caixas do Sul. Foto: Bianca Prezzi

A fala xenofóbica de um vereador de Caxias do Sul em pronunciamento na tribuna da Câmara, em sessão nesta terça-feira (28), está repercutindo no Estado. Sandro Fantinel (Patriota), ao sair em defesa das vinícolas após o resgate de trabalhadores em situação análoga à escravidão, argumentou que os empresários não devem mais contratar pessoas “lá de cima”, em referência ao estado da Bahia. “[…] os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Deixem de lado, que isso sirva de lição. Deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa pra vocês não se incomodarem novamente”, disse ainda.

Para o parlamentar, a repercussão do caso é “midiática e exagerada” e as críticas a empresários acusados de se utilizar de trabalho análogo à escravidão são “desmedidas e injustas”. “Eles estão sofrendo um verdadeiro linchamento digital”, defendeu Fantinel. “Como de costume, o empresário é tratado como vilão nesse país”.

Fantinel citou ainda trecho de relato publicado pelo Sul21, fora de contexto: “Pasmem que agora é triste, é complicado, é absurdo o que a gente vai ouvir esse homem dizer”, observou antes de ler o trecho em que o cozinheiro Vitor Hugo Abreu, que trabalhou na colheita da uva em Bento Gonçalves em 2021, conta que “começou a perceber trabalhadores cansados, estressados, alguns de ressaca por uma noite de bebedeira”.

“Aonde é que escravo sai de noite pra ir em bodega enchera cara? Em qual lugar do mundo existe esse tipo de escravidão? E aí chamam de escravidão o cara que sai pra encher a cara e no outro dia tá cansado, com ressaca?”, questionou o vereador em tom elevado na tribuna.

“É um absurdo. O mesmo supervisor, buscando dar um enfoque político pra situação, chegou a dizer que quando alguém não trabalhava direito, ele tinha que entregar o nome para um cara, pasmem, que andava armado com a camisa do Bolsonaro. Eu compreendo que existem as ideologias e cada um defende a sua, mas quando a gente atinge a hipocrisia máxima no limite absoluto, um cara desses tinha que ir preso, porque passar de todos os limites desse jeito é inaceitável”, afirmou o vereador, voltando a se exaltar.

O parlamentar do Patriota, no entanto, não fez referência, por exemplo, à máquina de choque e aos tubos de spray de pimenta, usados contra os trabalhadores e mencionados tanto por Vitor quando pelo Ministério do Trabalho, que os encontrou no alojamento usado pelo grupo resgatado.

Fantinel narra ainda que teria visitado um alojamento disponibilizado por um agricultor próximo a Caxias do Sul para abrigar trabalhadores temporários por um mês. Segundo o vereador, os funcionários foram embora depois de uma semana e deixaram o local em péssimas condições: “Não dava pra entrar no alojamento do fedor de urina, do fedor de podre e da imundície que eles deixaram o alojamento em uma semana e meia. E a culpa é de quem?”, questiona.

“Agora o patrão vai ter que pagar funcionária pra fazer a limpeza todo dia pros bonitos? Temos que botar eles em hotel 5 estrelas pra não ter problema com o Ministério do Trabalho? É isso que nós temos que fazer?”, prossegue o vereador.

“Eu só vou dar um conselho”, diz ele se dirigindo aos empresários do setor, “não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e contratar argentinos, porque todos os agricultores que tem argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam. Em nenhum lugar do estado, na agricultura, teve problema com os argentinos, mas agora os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Deixem de lado, que isso sirva de lição. Deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa pra vocês não se incomodarem novamente”, encerra os ataques.

O deputado estadual Leonel Radde (PT) informa que registrou um Boletim de Ocorrência contra a fala racista do vereador Sandro Fantinel. O PSOL do Rio Grande do Sul também divulgou que irá solicitar ao Ministério Público a prisão em flagrante do vereador, além de pedir a cassação do mandato do parlamentar. Presidente do PSOL-RS, a deputada estadual Luciana Genro informou que o pedido ao MP será feito com base na Lei Nº 7.7716/89, que define os crimes de preconceito de raça ou cor e deverá ser protocolado ainda nesta terça-feira.


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