Política
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18 de março de 2022
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07:19

‘Lula vai ter que decidir entre a minha candidatura e a de Edegar’, diz Beto

Por
Luís Gomes
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Chapa entre Lula e Alckmin está próxima de ser formalizada. | Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
Chapa entre Lula e Alckmin está próxima de ser formalizada. | Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Após reunião entre as cúpulas dos partidos, realizada no último dia 9 de março, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, confirmou que os socialistas não irão fazer parte da federação a ser formada entre PT, PCdoB e PV. Por outro lado, na mesma ocasião, reafirmou o desejo do PSB de participar da coligação em torno da candidatura do ex-presidente Lula à presidência. Sem a federação, os partidos não precisam assumir o compromisso de estarem coligados em todos os estados, podendo ter candidaturas diferentes a governos e ao Senado. Este é o cenário que se vislumbra no Rio Grande do Sul.

Até o momento, o PT no Rio Grande do Sul defende a pré-candidatura do deputado estadual Edegar Pretto ao Palácio Piratini, enquanto o PSB aposta no ex-deputado e ex-secretário estadual Beto Albuquerque. Nesta semana, o Sul21 conversou com Beto e com o presidente estadual do PT, o deputado federal Paulo Pimenta, sobre as negociações que os partidos vêm fazendo a nível estadual e federal envolvendo o Rio Grande do Sul.

“Acho que está consolidado que o cenário a nível nacional definiu essa federação com o PV e com PCdoB e não descarta a possibilidade de ter coligações para as majoritárias. Então, nós vamos dar encaminhamento no Estado a partir dessas diretrizes”, diz Pimenta.

Pimenta avalia que o encerramento das conversas com o PSB para a composição ajudaram a consolidar a candidatura de Edegar Pretto ao governo. “O PSB tem muitas divergências nos estados, não consegue unificar uma posição nacional e optou por esse caminho. Agora, eventualmente, esse diálogo pode ser recolocado, porque tem prazo até o final de maio. Evidente que isso também consolida cenários. Consolida a candidatura do Haddad em São Paulo, consolida a candidatura do Edegar no Rio Grande do Sul, coisas que não ficam mais aguardando qualquer tipo de definição”, diz.

Já Beto Albuquerque pontua que o PSB considerou que a federação não faria sentido para o partido porque acarretaria na redução do número de candidaturas próprias a deputado federal e estadual, mas também reconheceu que ela foi dificultada pelas diferenças que existem entre os partidos em diversos estados.

“A federação ela foi criada para ajudar partidos em dificuldade. Esse foi o princípio que criou a federação. O próprio PCdoB, que é um partido histórico, teria dificuldades sozinho de vencer a cláusula de barreira. Mas quando você propõe uma federação entre dois partidos que não têm problema com a cláusula de barreira, as coisas se complicam mais, porque a federação impõe uma convivência de quatro anos. Portanto, nós vamos ter que enfrentar uma eleição nacional agora juntos e as disputas municipais, onde existem muitas diferenças entre todos nós em vários estados e municípios. Achamos que íamos ter mais problemas do que solução, de forma que o PSB decidiu não fazer a federação, mas quer coligar para apoiar a candidatura do Lula”, afirma.

Por outro lado, ele ainda não descarta a possibilidade de uma coligação com o PT no Rio Grande do Sul. Pelo contrário, acredita ser possível que a sua candidatura seja a candidatura única do palanque de Lula no Estado. Contudo, avalia que isso dependeria de uma decisão vinda das executivas nacionais dos partidos.

“Aqui no Estado, não haverá solução para as nossas candidaturas, a minha e a do meu amigo Edegar Pretto. Quem vai ter que tomar uma decisão, ao meu juízo, é a candidatura do Lula e as direções nacionais dos nossos partidos, porque os palanques estaduais devem servir ao maior projeto em disputa, que é o projeto do Lula”, diz.

 

Beto Albuquerque é pré-candidato ao governo do Estado pelo PSB | Foto: Divulgação/PSB

Beto relata que, na última terça-feira, conversou com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, sobre a necessidade de as cúpulas partidárias conversarem sobre as disputas nos estados. Para ele, um entendimento entre os partidos poderia se dar nos mesmos moldes da candidatura de Lula, que tem buscado atrair aliados de diferentes matizes políticas. Na avaliação dele, se houver um acordo a ser firmado entre os partidos para o Rio Grande do Sul, ele deverá sair até abril.

“Em nível nacional, nós temos um acordo bastante claro, praticamente unânime dentro do PSB, de apoio ao Lula diante dessa polarização. Nos estados, continuamos com o PT. O PSB colocou alguns estados esperando contrapartida, reciprocidade de unidade, como é o caso de Pernambuco, onde já foi resolvido, aqui no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro com o [Marcelo] Freixo, no Espírito Santo com o Renato [Casagrande], São Paulo com o nosso amigo Márcio França. Nós achamos que estamos diante da hora de tomarmos decisão em relação aos estados. O mês de abril é o mês máximo. Já perdemos, a meu gosto, muito tempo discutindo outras coisas e a gente acaba com o inimigo da trincheira avançando mais rapidamente do que nós na articulação política, nas pré-campanhas e no diálogo”.

Para além da definição de quem disputará a corrida pelo Palácio Piratini, ainda está em aberta a definição de quem concorrerá ao Senado, também considerada uma disputa majoritária. No caso da federação PT-PCdoB-PV, Edegar Pretto formalizou nesta quinta-feira (17) o convite à ex-deputada Manuela D’Ávila para que represente a federação na disputa ao Senado. No encontro, ela disse que vai conversar com a família antes de anunciar sua decisão.

Ao Sul21, Pimenta disse que o PCdoB havia sinalizado com a intenção de colocar o nome da Manuela à disposição num cenário de acordo mais amplo do que a federação formada com o PV. “Agora, nós não refizemos essa conversa ainda. Mas, com certeza, se o PCdoB ainda tiver essa disposição, é um grande nome para poder consolidar essa frente. É um nome que tem dimensão nacional, tem muita força eleitoral e com certeza fortalece muito o nosso projeto no Estado”, afirma o deputado.

Mesmo com o campo progressista tendo ficado de fora do segundo turno em 2018, disputado por Eduardo Leite (PSDB) contra o então governador José Ivo Sartori (MDB), tanto Pimenta como Beto acreditam que é possível ter melhor resultado em 2022.

Para Pimenta, isso deve acontecer à medida que a polarização da disputa nacional entre Lula e Bolsonaro também deve se repetir no RS.

“O palanque do Bolsonaro vai ter uma candidatura competitiva. Não sei se vai ser o Onyx [Lorenzoni, PL], se vai ser o [Luiz Carlos] Heinze (PP), mas vai ter uma candidatura competitiva. O palanque do Lula, da mesma maneira, tem todas as condições, pelas características do Edegar, pela forma como estamos trabalhando o programa de governo, pela federação que estamos construindo, é uma candidatura que certamente estará no segundo turno. Então, nós vamos ter um segundo turno no Rio Grande do Sul que vai repetir um pouco dessa polarização nacional. Nós pretendemos que ocorra já com o Lula eleito no primeiro turno. E, no segundo turno no RS, nós temos condições de atrair setores médios da sociedade gaúcha que se afastaram do bolsonarismo”, diz.

 

Presidente estadual do PT, Paulo Pimenta avalia que candidatura de Edegar Pretto está consolidada | Foto: Divulgação/Agência Câmara

O presidente do PT avalia que há “setores médios” da sociedade política que se afastaram do bolsonarismo ao longo dos últimos três anos, o que abriria as portas para uma vitória do campo progressista. Por outro lado, diz que não vê, até o momento, um caminho para uma candidatura aliada ao governador Leite, que não deve tentar a reeleição, romper com essa polarização.

“Eu tendo a achar que os setores da direita conservadora, que parte deles votou no Eduardo Leite, vai se aproximar mais nítido do bolsonarismo. Então, eu entendo que vai haver uma polarização entre os dois palanques nacionais no Estado também”, diz.

Beto também acredita que a eleição deve ser polarizada no Estado, mas, mais uma vez, acredita que o campo progressista só terá chances reais se formar uma aliança mais ampla. “Aqui no RS, nós temos que fazer algo parecido com o que o Lula está fazendo a nível nacional. Montar uma chapa que tenha mais amplitude política e nos permita, o campo progressista, conversar com outras forças políticas no segundo turno, inclusive mais de centro, para poder construir a vitória. A eleição tá polarizada no RS também, a saída do Eduardo Leite do cenário da reeleição divide bastante o centro, inclusive incompatibiliza algumas relações no centro e, portanto, acaba aumentando ainda mais a polarização entre o nosso campo mais à esquerda e o campo bem à direita do Bolsonaro, que tem até o momento dois candidatos colocados, o Onyx e o Heinze”.


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