Política
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6 de novembro de 2021
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09:54

Cientistas rejeitam homenagem do governo Bolsonaro

Por
Sul 21
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Carta aberta anunciou decisão de rejeitar a Ordem Nacional do Mérito Científico | Foto: Reprodução
Carta aberta anunciou decisão de rejeitar a Ordem Nacional do Mérito Científico | Foto: Reprodução

Em carta aberta divulgada pelas redes sociais, 21 proeminentes pesquisadores e professores brasileiros recusaram a Ordem Nacional do Mérito Científico, concedida por decreto presidencial publicado na última quinta-feira. Os cientistas destacam que a decisão foi tomada após a exclusão de Adele Schwartz Benzaken e Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda da lista de agraciados em novo decreto presidencial publicado no dia 5.

“Tal exclusão, inaceitável sob todos os aspectos, torna-se ainda mais condenável por ter ocorrido em menos de 48 horas após a publicação inicial, em mais uma clara demonstração de perseguição a cientistas, configurando um novo passo do sistemático ataque à Ciência e Tecnologia por parte do governo vigente”, diz o documento.

A carta aberta com a recusa é assinada com a data deste sábado (6), mas começou a circular ainda na sexta-feira (5). Ela é assinada por Aldo Ângelo Moreira Lima (UFC), Aldo José Gorgatti Zarbin (UFPR), Alfredo Wagner Berno de Almeida (UEMA), Anderson Stevens Leonidas Gomes (UFPE), Angela De Luca Rebello Wagener (PUC-RJ), Carlos Gustavo Tamm de Araujo Moreira (IMPA), Cesar Gomes Victora (UFPel), Claudio Landim (IMPA), Fernando Garcia de Melo (UFRJ), Fernando de Queiroz Cunha (USP), João Candido Portinari (Projeto Portinari), José Vicente Tavares dos Santos (UFRGS), Luiz Antonio Martinelli (USP), Maria Paula Cruz Schneider (UFPA), Marília Oliveira Fonseca Goulart (UFAL), Neusa Hamada (INPA), Paulo Hilário Nascimento Saldiva (USP), Paulo Sérgio Lacerda Beirão (UFMG), Pedro Leite da Silva Dias (USP), Regina Pekelmann Markus (USP) e Ronald Cintra Shellard (CBPF).

Os signatários afirmam também que não compactuam o negacionismo, com a perseguição a cientistas e com cortes nos orçamentos para ciência e tecnologia que vêm sendo promovidos pelo governo federal.

Eles lembram também que a Ordem Nacional do Mérito Científico é um instrumento de Estado para reconhecer as contribuições científicas de personalidades brasileiras e estrangeiras e que as indicações dos agraciados são feitas por uma comissão formada por membros do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, por membros da Academia Brasileira de Ciências e por membros da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

“Consideramos, portanto, gratificante nossa presença nessa lista, e somos extremamente honrados com a possibilidade de sermos agraciados com um dos maiores reconhecimentos que um cientista pode receber em nosso País. Entretanto, a homenagem oferecida por um governo federal que não apenas ignora a ciência, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva, não é condizente com nossas trajetórias científicas. Entretanto, em solidariedade aos colegas que foram sumariamente excluídos na lista de agraciados, e condizentes com nossa postura ética, renunciamos coletivamente a essa indicação”, diz a carta.

A retirada das homenagens a Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda e a Adele Schwartz Benzaken também foi repudiada em nota da SBPC. “Seus nomes foram propostos, seguindo as normas do decreto que regula a condecoração, por uma comissão técnica na qual a SBPC e a ABC eram majoritárias. Fica evidente que o governo federal fez a cassação depois de saber que os dois cientistas renomados conduziam pesquisas cujos resultados contrariavam interesses de políticas governamentais, agindo como censor da pesquisa, sem o devido respeito à verdade científica e à diversidade”, diz a nota.

Marcus Vinícius coordenou um estudo no Amazonas que concluiu que a cloroquina não tinha eficácia contra a covid-19. Ja Adele é diretora da Fiocruz Amazônia e teve cargos no Ministério da Saúde nos governos Dilma e Temer, mas foi demitida por Bolsonaro.


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