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18 de agosto de 2022
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10:18

Sob protesto de moradores de ocupações, Câmara aprova programa para revitalizar o 4º Distrito

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Sul 21
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Moradores de ocupação protestaram contra a exclusão das famílias em situação irregular dos planos da Prefeitura | Foto: Divulgação
Moradores de ocupação protestaram contra a exclusão das famílias em situação irregular dos planos da Prefeitura | Foto: Divulgação

A Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou nesta quarta-feira (17) o projeto de lei e a Mensagem Retificativa que instituem o Programa +4D de Regeneração Urbana do 4º Distrito de Porto Alegre, região que abrange os bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes, Humaitá e Farrapos. De autoria do Executivo, as propostas estabelecem regramentos urbanísticos específicos para a a região, além de incentivos urbanísticos e tributários. Apesar de aprovado com folga, por 23 votos a 10, a votação do projeto foi realizada sob protestos de moradores de ocupações do 4º Distrito, que criticavam a exclusão das famílias em situação irregular dos planos da Prefeitura.

Uma das metas do Programa +4D é ao menos triplicar o número de economias – endereços ocupados e ativos — na região. O Plano Diretor prevê densidade de 100 a 150 economias por hectare, mas a ocupação atual é de 32.9 econ/ha, segundo a Prefeitura.

Para incentivar o adensamento, o programa prevê a delimitação de uma zona prioritária de 267 hectares — inclui o bairro São Geraldo, o entorno da Farrapos da Estação do Trensurb até o viaduto da Conceição e as proximidades da Rodoviária –, em que serão oferecidos descontos substanciais no solo criado, que é o direito de construir, e será aumentado o índice construtivo, o que significa o aumento no tamanho permitido de construção.

Para determinar o nível de benefício a ser concedido, foi estabelecido um sistema de pontos que varia de acordo com a atividade do empreendimento (residencial, comercial, de serviço ou industrial), dos parâmetros urbanísticos do projeto, enquadramentos específicos e utilização de técnicas e práticas sustentáveis.

Também serão oferecidos incentivos de Imposto Sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para quem se instalar no 4º Distrito.

 

Mapa mostra área afetada pelo projeto | Foto: Reprodução /PMPA

Além dos incentivos, estão previstos investimentos públicos em obras nas avenidas Farrapos, Voluntários da Pátria, Cairu, Brasil, São Pedro, Dona Teodora, Leopoldo Bretano e A.J. Renner, entre outras vias. Os investimentos incluem obras de macrodrenagem no Arroio Tamandaré e a substituição de redes de água no Bairro Floresta

Com o objetivo de fomentar o turismo, o programa também cria o quadrilátero do entretenimento na área onde já se concentra boa parte das micro cervejarias da região.

“Porto Alegre precisa virar várias chaves no aspecto do desenvolvimento. O 4º Distrito é uma área com muito potencial e que já está se redescobrindo. A prefeitura está assumindo o seu papel para estimular de forma concreta essa transformação, com incentivos transparentes”, disse o prefeito Sebastião Melo (MDB) após a votação.

Manifestantes expuseram faixas nos vidros que separam os vereadores das galerias da Câmara | Foto: Divulgação

Durante a votação, moradores de ocupações na região e representantes de movimentos sociais protestaram nas galerias da Câmara com faixas e cartazes de protesto que cobravam os vereadores sobre como ficará a situação das famílias com o início dos investimentos na região. “Qual o plano da Prefeitura para as ocupações?”, dizia uma faixa. “Luta pelas casas, fomos enganados”, dizia outra.

O Fórum Popular 4º Distrito, que reúne representantes das 19 comunidades em situação irregular na região, diz que 2 mil famílias que estariam ameaçadas de despejo e remoção, além de conviverem com situação precária de fornecimento de energia, água e saneamento.

Em manifesto, o Fórum pontua que a Prefeitura pretende “usar recursos públicos para pintura de fechadas de imóveis abandonados (que serão valorizados também pelas obras públicas no seu entorno), ao mesmo tempo que se nega a garantir o mínimo de dignidade e melhorias na situação precária de moradia das famílias da região”.

A entidade pontua que os recursos originados com a venda do solo criado deveriam ser destinados para o Fundo Municipal de Habitação e usados para financiar a habitação popular, mas serão, no âmbito do programa de revitalização, voltados para o Fundo de Gestão de Território e “utilizados para embelezar os imóveis dos especuladores imobiliários”.

Por sua vez, o programa de revitalização prevê a regularização das casas da Vila Santa Terezinha, popularmente conhecida como Vila dos Papeleiros.

A Prefeitura também diz que haverá negociação para o reassentamento e formalização de pequenos negócios com recicláveis e atividades informais. Também pretende promover gerar empregos para moradores de comunidades a partir de parcerias entidades de formação para qualificar mão de obra em serviços.


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