Recebido com protesto de ruralistas em Bagé, Lula ironiza: ‘Deviam ter protestado quando criamos a universidade’

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Luís Gomes
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Na primeira etapa da caravana, em Bagé, Lula visitou a Unipampa. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Luís Eduardo Gomes

A primeira parada da caravana do ex-presidente Lula pelo Rio Grande do Sul combinou momentos de tensão e emoção em Bagé. Após desembarcar no aeroporto da cidade, por volta das dez horas, a comitiva do petista, formada por três ônibus, se encaminhou para a Unipampa onde era esperada, de um lado, por multidão de alunos e simpatizantes e, de outro, por um protesto de ruralistas contrários à presença dele na cidade.

O protesto, patrocinado por ruralistas, mobilizou dezenas de pessoas desde cedo em Bagé. Nas primeiras horas da manhã, cerca de 50 tratores, acompanhados de ônibus e caminhões, fizeram uma carreata pela zona central antes de se deslocarem para um dos acesso à Unipampa. Ali, com o apoio de um guindaste carregando um simulacro de cela com o ex-presidente em roupas de presidiário, tentaram impedir o acesso de Lula ao campus. O clima hostil ao ex-presidente foi antecedido por uma moção de repúdio assinada no início de março por 14 dos 17 vereadores locais e por uma campanha dos ruralistas, que espalharam outdoors pela cidade e chegaram a pedir ao Ministério Público que barrasse a visita.

As ações, contudo, não atingiram o seu objetivo. A caravana chegou à Unipampa por um acesso secundário por volta das 11h. Nesse momento, porém, um dos manifestantes atirou uma pedra e provocou rachaduras no ônibus que levava o ex-presidente. Segundo a Brigada Militar, o homem que jogou a pedra foi detido. Posteriormente, quando ocorreram princípios de confrontos e trocas de xingamento entre os manifestantes e apoiadores do ex-presidente, um jovem identificado como pró-Lula também foi detido.

Mas, se nos arredores do campus o clima era de tensão, dentro, era de euforia. Nem bem desceram do veículo, Lula e a ex-presidenta Dilma Rousseff foram cercados por uma multidão. Inicialmente, a passagem de Lula por Bagé deveria se resumir a uma visita ao campus da Unipampa e a uma conversa com a reitoria. Contudo, o ônibus da caravana foi, logo ao chegar no local, cercado por uma multidão de alunos e apoiadores. Com isso, a visita acabou se transformando em uma ida ao saguão e a tentativa frustrada de chegar ao auditório, sempre seguido por um amontoado de gente.

Leilane Castro Guedes, estudante de Engenharia de Produção, na Unipampa. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Uma das alunas que se emocionou com a visita de Lula foi Leilane Castro Guedes , estudante do sétimo semestre de Engenharia de Produção, na Unipampa. Com a cara pintada de vermelho e um adesivo do ex-presidente no peito, ela disse que considerava a visita como muito importante especialmente dado o atual cenário político no Brasil. “Depois de sofrer um golpe, depois de perder a nossa primeira mulher presidenta, a presença do Lula e da Dilma aqui, por ele ter vindo da base e tudo mais, é muito importante eles estarem aqui com a gente, ainda mais porque ela foi criada no governo dele”, disse Leilane, que, mesmo com a possibilidade de Lula ser impedido de concorrer e de ser preso após a condenação pelo TRF4, defendeu o direito de o petista concorrer à presidência nas eleições de outubro. “Devido às outras opções do momento, seria muito importante se ele conseguisse ser candidato à presidência”, disse.

Diante da multidão que o cercou dentro da Unipampa, o ex-presidente resolveu então trocar a reunião inicial por uma fala pública fora de roteiro – o primeiro ato público estava marcado para a tarde, em Santana do Livramento, juntamente com o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica -, do lado de fora da universidade, onde também aguardavam apoiadores e militantes de movimentos sociais.

Foi antecedido por uma breve fala da ex-presidenta Dilma, que destacou que foram os governos petistas os que mais destinaram recursos para os produtores rurais do País, fossem eles grandes produtores, agricultores familiares ou assentados da reforma agrária. “Não houve ninguém nesse País que tivesse tanto compromisso com o setor da agricultura, que coloca o alimento na nossa mesa e gera recursos com as exportações, como o presidente Lula”, disse Dilma.

Joceli Machado: “Eu queria ver ele de perto”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Vindo de Hulha Negra para acompanhar a visita de Lula, o agricultor Joceli Machado, assentado na reforma agrária, corroborou a fala da presidenta eleita. “Eu queria ver ele de perto porque depois que entrou esse presidente [Temer], nós estamos cada vez mais sofridos. Esse não faz nada por nós”, disse Joceli, que planta milho, feijão e “tudo que é miudeza” como pequeno agricultor. “Depois que retiraram a Dilma, enfeiou. Tivemos uma estiagem braba e o governo não está nem aí”.

Em uma fala de poucos minutos, Lula destacou tanto a universidade quanto o protesto dos ruralistas. Ele iniciou lembrando que tinha vindo a Bagé em 27 de julho de 2005 para anunciar a criação da Unipampa e agora retornava com a universidade já sendo composta por 11 campi e tendo formado 13 mil alunos.

Por outro lado, lamentou o que chamou de tentativa da direita fascista de impedir a sua visita ao campus por meio de uma ação do Ministério Público, mas ironizou os manifestantes. “Essas pessoas deveriam ter feito o protesto quando a gente criou a universidade, porque a elite desse País nunca quis que a população tivesse acesso à educação”, disse o ex-presidente. “A nossa primeira universidade só foi criada no século XX. A elite desse país mandava os seus filhos para estudar na Europa e o povo pobre mal e porcamente terminava o segundo grau”.

Falando para uma plateia que também era formada por integrantes de movimentos sociais, Lula lamentou ainda o fato de que a pobreza voltou a crescer nos últimos anos e que as medidas econômicas do atual governo vão sempre na direção de retirar direitos ou impor sacrifícios aos mais pobres e não demostrou preocupação de não participar da disputa eleitoral. “O único medo que eles têm é que, se eu for candidato, eu vou ganhar e vamos outra vez diminuir a pobreza no Brasil”, disse, voltando a se referir ao protesto. “Não tenho nenhuma preocupação com esse protesto, as pessoas que estão protestando contra nós, amanhã estarão batendo palmas para a gente”.

A caravana irá passar por mais 22 cidades nos próximos dez dias, até se encerrar em Curitiba (PR), no dia 28 de março.

Confira a programação no RS:

Segunda (19/3)
:: Bagé, 10h30, visita ao campus da Unipampa (Universidade Federal do Pampa), fundada em 2006
:: 15h30, Santana do Livramento, conversa pública com Pepe Mujica

Terça (20)
:: Santa Maria, 14h, reunião com reitores e diretores na Universidade Federal de Santa Maria
:: 19h – Ato público na Nova Santa Marta

Quarta (21)
:: 14h, visita aos museus de Jango, de Getúlio e ao túmulo de Getúlio Vargas, em São Borja

Quinta (22)
:: 9h, visita sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões 
:: 12h30, parada em Cruz Alta
:: 18h, ato com movimentos sociais em Palmeira das Missões

Sexta (23)
:: 9h30, visita a unidades do Minha Casa Minha Vida Rural em Ronda Alta
:: 13h, Visita ao campus de Passo Fundo da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS, fundada em 2009)
:: 19h, Ato político em São Leopoldo

Galeria de imagens

19/03/2018 – BAGE – RS – Caravana do Lula em bagé. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21
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