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23 de abril de 2021
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18:10

#NemPenseEmMeMatar, campanha contra o feminicídio chega ao RS (por Telia Negrão e Niara de Oliveira)

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Sul 21
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#NemPenseEmMeMatar, campanha contra o feminicídio chega ao RS (por Telia Negrão e Niara de Oliveira)
#NemPenseEmMeMatar, campanha contra o feminicídio chega ao RS (por Telia Negrão e Niara de Oliveira)
Divulgação

Telia Negrão e Niara de Oliveira (*)

O Brasil transformou-se nos últimos anos num dos lugares mais perigosos para as mulheres. Aliás, sempre foi, pois as mesmas bases que sustentaram o sistema escravista no Brasil sustentaram o sistema patriarcal, os quais, articulados, passaram a se constituir em obstáculos permanentes para a igualdade de gênero e de raça ao longo dos tempos. O número de mulheres eleitas é um bom indicador para medir o grau de exclusão nos processos decisórios na sociedade. Mas também o assassinato de mulheres.

O que se imaginava é que no curso da história contemporânea tais mazelas poderiam ser vencidas. Mas a sociedade brasileira também tem dado muitas voltas, e de uma experiência de construção democrática de 30 anos pós Constituinte, o Brasil voltou a viver o clima de ódio, de insanidade, de misoginia, de racismo, de transfobia. Tais manifestações se agudizaram na pandemia e focalizaram nas mulheres.

No Brasil de hoje, ao ascenso das manifestações autoritárias e de tendência neofascista que atingiram o mundo da política e das organizações sociais, do uso de fakenews, ataques à liberdade de imprensa, uso da justiça contra o inimigo e trava nos sindicatos, corresponde o ataque inusitado às mulheres.

Marielle simbolizou esta ofensiva, embora não sendo assassinada nas relações de afeto, foi morta por ser mulher, e negra, e da periferia. Isso caracterizou um crime político e um crime de gênero.

Depois de Marielle, vieram pelo menos mais 4500 mil vítimas, na sua absoluta maioria assassinadas por “companheiros” ou “ex” – leia-se maridos, amantes, namorados, ficantes que, inconformados com a falta de exclusividade, a recusa, o desejo de construir uma nova vida, ou simplesmente porque não encontraram a comida pronta ou a casa limpa, tiraram a vida das mulheres.

O Brasil foi para o time dos países em que mais se matam mulheres. Cerca de 3 a 5 por dia. Em que mais se bate em mulher. Uma a cada minuto. Em que mais se estupra, algo como 180 ao dia, 70 mil ao ano, sendo os estupros corretivos e coletivos 1 a cada 2 horas.

Os governos que sucederam ao de Dilma Rousseff, além de promover o congelamento por 20 anos dos recursos para as políticas públicas viraram as costas para as mulheres. No ano passado, dos 126 milhões de reais destinados para o combate à violência contra as mulheres na pandemia, 5,6 foram gastos. O restante devolvido, mesmo diante de 35% de aumento das denúncias no Número 180. A única lei criada para combater este crime na pandemia não foi implementada. Só no estado de São Paulo 50 mil mulheres pediram Medida Protetiva.

É inaceitável a continuidade de tal convivência. No Rio Grande do Sul, 78 feminicídios em 2020, 323 tentativas, quase 2 mil estupros. É preciso dar um basta.

Por esta indignação, um grupo de mulheres decidiu em janeiro deste ano mover montanhas no Brasil. Assim surgiu o Levante Feminista Contra o Feminicídio, que criou uma campanha nacional chamada Nem Pense em Me Matar – Quem mata uma mulher, mata a humanidade. É na verdade um grito de socorro e ao mesmo tempo uma ação de empoderamento das mulheres.

Neste domingo esta campanha será lançada pelas redes sociais aqui no Rio Grande do Sul. E terá mulheres que conhecem bem o que é sofrer ataques misóginos, como a filósofa Marcia Tiburi, a deputada federal Maria do Rosário, a ativista do movimento de mulheres com deficiência Carol Santos.

Tendo como signos um girassol, a cor amarelo-ouro e o rosto de uma mulher negra, a campanha contra o feminicídio chega ao estado com o objetivo de nos tirar do vergonhoso pódio dos que mais matam mulheres no país por razões de gênero. Situação agravada pela necessidade de isolamento social imposta pela pandemia de Covid-19 e pela crise econômica que demite antes e mais as mulheres, e as confinou justamente no lugar mais perigoso, a sua casa.

A campanha é autofinanciada e baseada apenas no ativismo feminista. Nem Pense em Me Matar é ao mesmo tempo um desafio e uma provocação para a mudança da cultura e fim da impunidade.

O ​Manifesto​ do Levante Feminista já conta com 60 mil assinaturas. Ao chegar aos 100 mil irá até Brasília para exigir das autoridades o fim daquilo que a filósofa Marcia Tiburi chama de “guerra sangrenta que precisa ser estancada”. Iremos aos céus se necessário para acabar com essa guerra contra as mulheres.

(*) Jornalistas

Fonte:​ ​https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/

O Brasil aparece no quinto lugar em uma lista da Organização Mundial da Saúde (OMS) de países com maior número de feminicídios, atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e da Rússia.

Levante Feminista Contra o Feminicídio

Campanha #NemPenseEmMeMatar #QuemMataUmaMulherMataAHumanidade

Lançamento da campanha no RS em ​25/04/2021

Conheça o manifesto #NemPenseEmMeMatar:​ ​http://bit.ly/3vvuIVy

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