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27 de setembro de 2015
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18:35

Novos partidos e frentes com movimentos sociais sinalizam mudanças no quadro político nacional

Por
Sul 21
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Uma das novidades no cenário político brasileiro é a criação de frentes entre partidos e movimentos sociais, como ocorreu dia 5 de setembro, em Belo Horizonte, com o lançamento da Frente Brasil Popular. (Foto: Isis Medeiros/Divulgação)
Uma das novidades no cenário político brasileiro é a criação de frentes entre partidos e movimentos sociais, como ocorreu dia 5 de setembro, em Belo Horizonte, com o lançamento da Frente Brasil Popular. (Foto: Isis Medeiros/Divulgação)

Marco Weissheimer

A combinação do processo de denúncias de corrupção e das investigações sobre as mesmas  com a  instabilidade política provocada pelo terceiro turno que se seguiu às eleições presidenciais de 2014, somada às incertezas sobre os impactos do ajuste fiscal na economia, vêm alimentando movimentos no cenário político nacional cujas direções ainda não estão bem definidas. Esses movimentos incluem migrações partidárias surpreendentes como a ida de Marta Suplicy para o PMDB, a criação de frentes políticas reunindo partidos de esquerda e movimentos sociais e o surgimento de novos partidos, como a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, e o Partido Novo, que se assume como assumidamente de direita. Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul e dirigente nacional do PT, fala do fim de um período histórico que está atualizando as diferenças entre esquerda e direita, não só no Brasil, mas também em nível internacional.

A lógica de vários desses movimentos está ligada às eleições municipais de 2016, mas não se esgota nelas. Para além das disputas eleitorais, esses movimentos sinalizam para uma recomposição do quadro político nacional à esquerda e à direita. Há casos onde o interesse eleitoral parece ser mais explícito, como o de Marta Suplicy. Embora garanta que sua filiação ao PMDB não tenha a ver com uma candidatura à prefeitura de São Paulo no ano que vem, Marta vem falando como candidata. “São Paulo precisa voltar a ter prioridades corretas e se tornar um lugar onde todos sejam ouvidos”, disse Marta em artigo publicado na Folha de S.Paulo, onde busca justificar seu ingresso no PMDB. “Quis o destino me propiciar entrar num partido que tem o DNA da democracia”, disse ainda a ex-petista, referindo-se ao PMDB.

Outro traço do DNA peemedebista parece ser a capacidade de ser governo e oposição ao mesmo tempo, como vem ocorrendo de forma intensa nos primeiros meses de 2015. No momento em que algumas lideranças do partido discutem com a presidenta Dilma Rousseff uma ampliação de sua presença no governo federal, outras lideranças, como o deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara Federal, pregam o rompimento com o Palácio do Planalto.

O registro da Rede Sustentabilidade, dia 22 de setembro, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), já provocou mudanças no tabuleiro político dentro e fora do Congresso Nacional. (Foto: Divulgação)
O registro da Rede Sustentabilidade, dia 22 de setembro, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), já provocou mudanças no tabuleiro político dentro e fora do Congresso Nacional. (Foto: Divulgação)

A Rede entra no tabuleiro

O registro da Rede Sustentabilidade, dia 22 de setembro, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), já provocou mudanças no tabuleiro político dentro e fora do Congresso Nacional. Os dois primeiros parlamentares do novo partido vieram do Rio de Janeiro. Miro Teixeira, que havia trocado o PDT pelo Pros há 11 meses, decidiu mudar mais uma vez de sigla, oficializando a troca no dia 23. Um dia depois, foi a vez do deputado federal Alessandro Molon, que surpreendeu o PT ao anunciar que estava deixando o partido para ingressar na Rede. Na tarde desta sexta, mais uma adesão foi anunciada: o senador Randolfe Rodrigues, do PSOL.

A agenda política que será defendida pelos primeiros parlamentares do novo partido ainda é uma incógnita. Nas eleições de 2014, Marina Silva, principal liderança da Rede, apoiou o candidato do PSDB, Aécio Neves, no segundo turno da eleição presidencial, e defendeu propostas como a da independência do Banco Central.  Uma das ênfases dos integrantes da Rede é a defesa de um “novo modo de fazer política”. Após a decisão do TSE, Marcos Rolim, ex-deputado federal pelo PT e hoje integrante da Rede no Rio Grande do Sul, escreveu em sua página no Facebook: “O novo partido tem muito espaço para crescer e se firmar como alternativa para o País. A  Rede quer pensar a política com pressupostos éticos e fazê-la com imaginação e coragem. Seu desafio está sintetizado no verso de Calle 13:  Si quieres un cambio verdadeiro, camina distinto”.

As frentes com movimentos sociais

Assim como ocorreu com o PSOL, quando de sua fundação, a Rede também esperar atrair uma parcela dos descontentes hoje no PT, como ocorreu esta semana com Alessandro Molon. Entre a maioria desses descontentes, porém, cresce a simpatia pela constituição de uma frente política reunindo integrantes de partidos e de movimentos sociais para recompor um campo e um programa de esquerda no país. Nos últimos meses, vários encontros e grupos vêm se formando e propondo iniciativas nesta direção. Nos próximos dias, várias atividades estão programadas em torno dessa agenda. Algumas das principais são as seguintes:

Ato da Frente Brasil Popular no RS

No último dia 5 de setembro, representantes de sindicatos, movimentos sociais, partidos políticos, intelectuais e entidades estudantis reuniram-se em Belo Horizonte para o lançamento da Frente Brasil Popular, uma coalizão que pretende configurar um novo bloco político e social no campo da esquerda brasileira. Participaram do encontro, representantes, entre outras organizações, da CUT, do MST, da UNE, do PT e do PCdoB, e lideranças políticas de outros partidos. No dia 3 de outubro, ocorrerá o lançamento da Frente Brasil Popular no Rio Grande do Sul. O ato iniciará às 10 horas, no Largo Glênio Peres. A manifestação será em defesa da democracia, de uma nova política econômica e dos direitos do povo brasileiro sobre o petróleo.

Por um Brasil Justo e Democrático

As políticas de ajuste fiscal implementadas pelo governo federal também são objeto de crítica das entidades que lançarão segunda-feira (28), em São Paulo, o documento “Por um Brasil justo e democrático”. Elaborado por mais de uma centena de especialistas, o documento busca construir consensos em torno de um projeto de desenvolvimento nacional e alerta que o ajuste fiscal não caminha nessa direção. O lançamento reunirá representantes de movimentos sociais, de sindicatos, de partidos políticos, de organizações da sociedade civil e de personalidades do campo progressista.

O documento é uma iniciativa de: Brasil Debate, Centro Internacional Celso Furtado de Políticas Para o Desenvolvimento, Fundação Perseu Abramo, Fórum 21, Plataforma Política Social, Le Monde Diplomatique Brasil e Rede Desenvolvimentista.

Frente Brasil Sem Medo

“O mundo vive sob o signo de uma profunda crise do capitalismo, que perdura desde 2008. Medidas de austeridade econômica dominam a agenda política, multiplicando desemprego, miséria e redução dos direitos trabalhistas. Por outro lado, os banqueiros comemoram cada aniversário da crise, aumentando seus já exorbitantes lucros. No Brasil, as medidas econômicas não deveriam seguir o mesmo script. O ajuste fiscal do governo federal diminui investimentos sociais e ataca direitos dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, medidas presentes na Agenda Brasil como, aumento da idade de aposentadoria e ataques aos de direitos e à regulação ambiental também representam enormes retrocessos”. Esse é um trecho da carta convocatória do ato de lançamento da Frente Brasil Sem Medo, que ocorrerá dia 8 de outubro, em São Paulo.

Convocado por entidades como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Intersindical, União Nacional de Estudantes (UNE), Coletivo Juntos e Mídia Ninja, entre outras organizações, o objetivo da iniciativa é criar uma frente nacional de mobilização, protagonizada pelos movimentos sociais. A pauta dessas organizações inclui tanto o combate à ofensiva conservadora e as saídas à direita para a crise, quanto as políticas de austeridade aplicadas pelo governo federal, em nome do ajuste das contas públicas.


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