Breaking News em Últimas Notícias > Política
|
25 de outubro de 2014
|
21:40

A política faz parte da vida de Tarso Genro desde a adolescência

Por
Sul 21
[email protected]
A vida política do governador, que tenta a reeleição no RS, começou quando ele secundarista e fazia campanha em favor das Reformas de Base propostas por Jango | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
A vida política do governador, que tenta a reeleição no RS, começou quando ele era secundarista e fazia campanha em favor das Reformas de Base propostas por Jango | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Adélia Porto

Tarso Fernando Herz Genro nasceu em 6 de março de 1947, em São Borja, terceiro dos seis filhos do professor, escritor e advogado Adelmo Genro e de Elly Herz Genro. Na adolescência, a política já integrava seu cotidiano. Era estudante secundarista no governo de João Goulart e fazia campanha de apoio às Reformas de Base propostas por Jango, às vésperas do golpe de 64. Seu pai, Adelmo, que fora eleito vice-prefeito de Santa Maria, em 1963, pelo PTB, foi cassado pelo regime militar. A militância estudantil estava proibida e Tarso, com os jovens secundaristas, criou o GVC – Grupo de Vanguarda Cultural. “O grupo funcionava como um biombo para que pudéssemos fazer política”, disse o companheiro Eliezer Pacheco, secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, no governo Lula. A cultura era a saída e, em 1965, o grupo teve a ousadia de encenar a peça A prostituta respeitosa, de Jean Paul Sartre, para escândalo da cidade. A censura de então permitiu a encenação, mas exigiu que a peça fosse anunciada nos cartazes como A P… Respeitosa. O bispo da cidade, que se chamava Luiz Victor Sartori – uma coincidência! –, recomendava nas missas e nos programas religiosos de rádio, que os católicos não assistissem à peça, cujo tema, porém, nada tem a ver com o título: trata da questão racial nos Estados Unidos. Embora a repressão, a peça foi um sucesso. A política era exercida na clandestinidade. Tarso aderiu à Ala Vermelha, surgida de uma cisão do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e, mais tarde, a outra cisão do grupo, o Partido Comunista Revolucionário (PCR), clandestinos, como outros.

Na adolescência, além de se dedicar à política e ao teatro, Tarso jogava basquete | Foto: Álbum de Família
Na adolescência, além de se dedicar à política e ao teatro, Tarso jogava basquete | Foto: Álbum de Família

Em 1968, aos 21 anos, foi eleito vereador em Santa Maria, pelo MDB, na época o único partido legal de oposição. Um ano depois, casou-se com Sandra Krebs, estudante de Medicina. A primeira filha, Luciana, nasceu em 1971 e duas semanas após o nascimento, o pai exilou-se na cidade uruguaia de Rivera, pois era procurado pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), que acreditava ser ele o militante de codinome Rui. O delegado Pedro Seelig esteve pessoalmente em sua casa, em Santa Maria, vistoriou a biblioteca e levou livros que considerou suspeitos. “Foi uma decisão muito rápida”, lembra a esposa Sandra, que recém tivera o bebê e ainda amamentava. Por dois anos Tarso viveu fora do país, dando aulas de português num cursinho pré-vestibular. Nos finais de semana, Sandra ia visitá-lo, levando o bebê. O exílio terminou em 1973. Tarso foi processado e inocentado. O casal se mudou para Porto Alegre. Sandra já era médica e Tarso estava formado em Direito, pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde também se especializou em Direito Trabalhista.

Um ano depois de eleger-se vereador de Santa Maria pelo MDB, aos 21 anos, Tarso casou-se com Sandra Krebs | Foto: Álbum de família
Um ano depois de eleger-se vereador de Santa Maria pelo MDB, aos 21 anos, casou-se com Sandra Krebs | Foto: Álbum de família

Na Capital, trabalhou no escritório de um colega por cerca de dois anos, até instalar o seu próprio, que cresceu em prestígio e tornou-se um dos escritórios de advocacia trabalhista mais importantes do Estado. O advogado Milton Camargo, amigo e ex-sócio, depôs sobre ele algum tempo atrás: “Tarso sempre foi muito sensível aos problemas dos trabalhadores e sempre teve uma relação muito próxima com os clientes”. Segundo ele, Tarso se caracteriza não só como defensor, mas como criador de teses que foram aceitas pelo Judiciário, como a da situação de ilegalidade da pré-contratação de horas extras de bancários. A tese, transformada em enunciado do Tribunal Superior do Trabalho (TST), foi defendida pela primeira vez por Tarso Genro, que também foi fundador e segundo presidente da Associação Gaúcha dos Advogados Trabalhistas – Agetra. “A Agetra foi uma entidade muito importante na época da repressão e um dos mecanismos de contestação a favor dos trabalhadores”, como lembrou Milton Camargo. Tarso licenciou-se do escritório para exercer os cargos públicos e em 2002 desligou-se definitivamente.

Formada pela Universidade Federal de Santa Maria, Tarso especializou-se em Direito Trabalhista | Foto: Álbum de Família
Formado pela Universidade Federal de Santa Maria, especializou-se em Direito Trabalhista | Foto: Álbum de Família

Bem antes, na época em que se iniciava o processo de construção do PT, foi contratado como advogado do Sindicato dos Bancários, quando Olívio Dutra já fazia parte da direção da entidade. Olívio apoiou a contratação, sabedor de que o companheiro estivera exilado e era comprometido com os direitos dos trabalhadores. Nesse período, o hoje governador do RS e candidato à reeleição, que reforçava as posições de esquerda do PMDB, apoiou, nas eleições de 1982, o candidato do partido ao governo do Estado, Pedro Simon. Quem venceu foi Jair Soares, do PDS.

O político

A trajetória política e eleitoral de Tarso Genro começou a se consolidar nos anos 80. Em 1984, foi convidado a se filiar ao PT. Em 1986, foi eleito deputado federal constituinte e exerceu o mandato de 1990 e 1992. Foi vice-prefeito com Olívio Dutra, em 1988, e nas eleições seguintes, em 1992, foi eleito prefeito no segundo turno, com 60% dos votos, contra Cezar Schirmer, do PMDB. Voltou ao cargo em 2001, mas licenciou-se para concorrer ao governo do Estado, em 2002. Foi vencido por Germano Rigotto, do PMDB, por uma diferença de 230 mil votos. Tarso já havia sido candidato ao governo do Estado nas eleições de 1990, quando elegeu-se Alceu Collares. No governo Lula, presidiu o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, onde permaneceu até 2004. Substituiu Cristovam Buarque no Ministério da Educação e, nessa gestão, criou o Prouni – Programa Universidade para Todos, que concede bolsas de estudos integrais e parciais (50%) em cursos de graduação em instituições privadas de educação superior. Enviou ao Congresso os projetos de criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e do Piso Nacional dos Professores. Iniciou o processo de expansão das Escolas Técnicas Federais, que continuou na gestão de seu sucessor, Fernando Haddad. Ao longo desse período foram criadas mais de 200 escolas técnicas em todo o país, bem como universidades federais. Tarso deixou o ministério em 2005 e até o ano seguinte exerceu a presidência nacional do PT. Em 2006 foi nomeado ministro das Relações Institucionais e no ano seguinte, ministro da Justiça.

Tarso filiou-se ao PT em 1984. Dois anos depois foi eleito deputado federal constituinte | Foto: Álbum de família
Tarso filiou-se ao PT em 1984. Dois anos depois foi eleito deputado federal constituinte | Foto: Álbum de família

Brasília lhe ofereceu uma oportunidade de grande aprendizado. A jornalista Vera Spolidoro, que trabalha com ele, com algumas interrupções, desde seu mandato como vice-prefeito de Porto Alegre, acredita que o Ministério da Justiça colaborou para esse aprendizado por sua característica de transversalidade, porque dialoga com os outros ministérios e por ele passam todas as leis que o governo propõe. Tarso foi para a presidência do PT na época do “mensalão”, por acreditar que o partido era maior do que esse episódio. Foi um período duro, a partir do qual ele se afastou de algumas figuras políticas. Vera o considera um elaborador e um executivo e, por isso, um político acima da média. Um exemplo dessa capacidade de criação e de execução é o Pronasci – Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, que articula políticas de segurança com ações sociais e que começou a ser implantado durante sua permanência no Ministério da Justiça. Renunciou ao cargo de ministro em fevereiro de 2010 para concorrer ao governo do Rio Grande do Sul. Venceu em primeiro turno, com 54,35 dos votos válidos, concorrendo com José Fogaça, do PMDB, que obteve 24,73% dos votos, e a então governadora Yeda Crusius, que alcançou 18,39%.

Bruno Alencastro/Sul21
Em 2010, saiu vitorioso da campanha ao governo do Estado, elegendo-se no primeiro turno | Foto: Bruno Alencastro/ Banco de Dados / Sul21

Em casa

Tarso Genro e Sandra Krebs Genro têm as filhas Luciana, que este ano concorreu à presidência da República pelo Psol, e Vanessa, que é médica, como a mãe, e nove anos mais moça que Luciana. Segundo depõem elas, é um pai presente e participante. Em casa, é um homem preocupado com a manutenção das coisas, mas também gosta de permanecer no escritório, lendo e escrevendo – seus escritores preferidos são Thomas Mann e os pensadores Norberto Bobbio e Antônio Gramsci. Apreciador de poesia, é também autor e publicou seu primeiro livro, Vento Norte, em 1964, aos 17 anos. Em 1988, enfrentou a dolorosa perda do irmão mais moço, Adelmo Genro Filho – intelectual brilhante, autor de teses de filosofia, política e jornalismo. Adelmo faleceu aos 36 anos, em Florianóplis, vítima de uma virose. A perda foi uma forte comoção para a família e amigos.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora