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16 de outubro de 2012
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09:00

RS pode se tornar referência nacional em semicondutores

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Sul 21
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RS pode se tornar referência nacional em semicondutores
RS pode se tornar referência nacional em semicondutores

Felipe Prestes

A HT Micron começa ainda no mês de outubro o encapsulamento e teste de chips para placas de memória RAM em solo gaúcho. A empresa é uma joint venture entre a sul-coreana Hana Micron e a brasileira Parit Participações e está localizada no Parque Tecnológico de São Leopoldo, o Tecnosinos. “O Brasil importa US$ 17 bilhões em semicondutores anualmente. A HT Micron vai preencher um importante elo da cadeia de semicondutores no Brasil. São empregos que hoje estão lá fora e vão ficar aqui”, afirma Susana Kakuta, gestora executiva do Tecnosinos, explicando a importância do empreendimento para o país.

Também ressaltando a subsituição de importações que o empreendimento proporciona, Rosana Casais, integrante da diretoria da HT Micron, ressalta que o setor de eletrônicos apresenta uma balança comercial bastante desfavorável para o Brasil. “E todos os produtos eletrônicos possuem semicondutores. Deixando de ter apenas montadoras aqui e produzindo pelo menos parte destes produtos este déficit se reduz”, diz.

Encapsulamento e teste de chips para placas de memória RAM começa ainda em outubro no RS | Foto: André Seewald / Unisinos

Além dos chips para placas de memória RAM, a HT Micron já realiza, desde o ano passado, o encapsulamento de semicondutores para smart chips, que são utilizados, por exemplo, em cartões de crédito. O encapsulamento é a ligação de circuitos internos do chip com lâminas (wafers) de silício. No caso das placas de memória, a joint venture repassará os chips à Teikon, empresa que também faz parte da holding brasileira Parit Participações e que já montava placas de memória RAM — tendo com um de seus principais clientes a Dell — mas precisava usar chips feitos inteiramente fora do Brasil. “Os coreanos procuraram a Teikon para ser parceira na manufatura, daí deriva a participação da Parit. A Hana Micron entrou com a tecnologia e com o suporte da cadeia de fornecedores. A Parit com o conhecimento de mercado, de logística e de governos, além de recursos humanos”, afirma Rosana Casais.

Atualmente, as operações ocorrem em um laboratório do Tecnosinos, com capacidade instalada para o encapsulamento de 3 milhões de smart chips por mês e outros 3 milhões para chips para placas de memória. Em maio de 2013 deve ficar pronta a fábrica definitiva da joint venture, numa área de 10 mil metros quadrados, que permitirá a gradual criação de novas linhas, cada uma com capacidade instalada para o encapsulamento de 3 milhões de chips por mês. Em 2014, o faturamento da empresa pode chegar a R$ 500 milhões. Casais explica que não há interesse em realizar todas as fases da produção de chips no país. “Há um consenso no grupo de semicondutores coordenado pelo Governo do Estado de que o diferencial se dá no encapsulamento de chips. É a fase que permite mais inovação”, afirma.

HT Micron
Estrutura definitiva da HT Micron deve estar concluída até meados de 2013 | Foto: Divulgação

Quando a HT Micron for para a sede definitiva, o laboratório em que hoje opera se tornará o Instituto de Semicondutores da Unisinos, que vai capacitar pessoas nesta área. “A HT Micron será a maior encapsuladora de semicondutores da América Latina. É uma produção que requer conhecimento específico e um maquinário muito caro. Ou seja, vamos ter uma qualificação tecnológica e de pessoal. Vamos ser o cluster de referência no Brasil na área de semicondutores”, afirma Susana Kakuta, gestora executiva do Tecnosinos.

Setor de semicondutores é estratégico para o Governo do Estado

Rosana Casais considera fundamental o apoio que governos tem dado à HT Micron. O empreendimento está dentro do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (PADIS) do Governo Federal, que estabelece uma série de desonerações de tributos, a empresas que tragam tecnologia para o país. “A Prefeitura foi muito ágil nos licenciamentos e o Estado tem nos apoiado muito também”, afirma.

O presidente do Badesul, Marcelo Lopes, que coordena um grupo voltado a discutir os semicondutores, revela que este é um setor estratégico para a política industrial do Estado. “Acreditamos muito no potencial deste segmento. Tem um potencial, inclusive, de modernização de outros setores da economia”, afirma.

Marcelo Lopes, presidente da Badesul
Projeto da HT Micron é “estratégico”, diz Marcelo Lopes, da Badesul: “Estamos completamente envolvidos” | Foto: Caco Argemi / Palácio Piratini

O dirigente considera muito importante que o encapsulamento de semicondutores da HT Micron seja bem-sucedido, porque o Rio Grande do Sul pode se tornar referência nesta área no Brasil. “Com know-how da Coreia do Sul e capital nacional, com empresas gaúchas que vão absorver a tecnologia, é um modelo de negócios importante. Já temos a CEITEC, que produz em Porto Alegre wafers de silício para chips. Com a HT Micron e o Instituto de Semicondutores da Unisinos, podemos ter uma base para consolidar o RS como uma liderança neste segmento no país”.

O presidente do Badesul afirma que o Estado tem dado prestado apoio financeiro e institucional ao empreendimento da HT Micron. O banco gaúcho foi o fiador bancário de um empréstimo de R$ 50 milhões do BNDES para a construção da fábrica da HT Micron, que ficará pronta na metade do ano que vem. Além disto, o banco já financiou cerca de R$ 6 milhões para o empreendimento. “Também estamos dando apoio institucional, junto ao BNDES, ao Ministério da Ciência e Tecnologia, à Secretaria da Fazenda. Este projeto é estratégico para nós, estamos completamente envolvidos”, afirma Lopes.

Ele revela que recentemente integrantes do Badesul e da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI) estiveram, inclusive, no Vale do Silício, na Califórnia, região que tem uma enorme concentração de empresas do ramo da inovação tecnológica, incluindo a fabricação de chips. “Foi muito importante lá a participação das universidades, como Stamford e Berkeley. Se fosse um país, a Califórnia teria a oitava economia do mundo. Em grande parte, devido a este setor”, afirma.

Tecnosinos surgiu como alternativa à fuga de empresas do ramo calçadista do Vale dos Sinos | Foto: André Seewald / Unisinos

Parque Tecnológico conta com 74 empresas e gera 4 mil empregos

Rosana Casais relata que a aproximação entre universidades e empresas deu certo na Coreia do Sul e que a atuação da Unisinos contribuiu para que os sul-coreanos investissem no Rio Grande do Sul. “Sem dúvida foi um diferencial”, diz. Agora, a universidade também deve se beneficiar com a vinda da HT Micron. Como contrapartida ao PADIS, a HT Micron precisará investir 5% de seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento. “É um valor alto e há o compromisso de investir na Unisinos”, afirma Rosana Casais.

Susana Kakuta conta que o Tecnosinos surgiu há 13 anos, para que o setor da tecnologia se apresentasse como alternativa à fuga de empresas do ramo calçadista para a Ásia e outras regiões do país, como o Nordeste. Hoje, o parque já conta com 74 empresas de cinco áreas diferentes: tecnologia da informação, semicondutores, comunicação e convergência digital, nutracêutica e novas energias e tecnologia ambiental.

Susana Kakuta
Solidez de projeto da Unisinos e abundância de recursos humanos são diferenciais, afirma Susana Kakuta | Foto: Christiaan van Hattem / Unisinos

O Tecnosinos possui uma mescla de pequenas e grandes empresas; de marcas globais e locais, que empregam cerca de 4 mil trabalhadores. Há no parque empresas estrangeiras, de países como Alemanha, Itália e Argentina. Kakuta afirma que os diferenciais do local são o fato de já estar consolidado e a abundância de recursos humanos. “Nisto a Unisinos joga um papel fundamental, assim como escolas técnicas da região. Temos muita competência não só nas áreas específicas, mas em idiomas, especialmente inglês, espanhol e alemão”.

A gestão do Tecnosinos é feita pela Unisinos, pela Prefeitura de São Leopoldo e pela associação das empresas que estão no parque. A Unisinos tem papel fundamental na gestão dos institutos de tecnologia estabelecidos para capacitação de pessoas para atuar no Tecnosinos. Será criado, por exemplo, um instituto de encapsulamento de semicondutores.

A Prefeitura atua na atração das empresas, e o parque também conta com a atuação dos governos estadual e federal. “O Estado é nosso parceiro estreito. Por meio de editais, está proporcionando a ampliação do parque. Todo parque tecnológico precisa de uma instituição de ensino e pesquisa, da atuação de governos e de empresários ousados, porque a inovação oferece riscos”, afirma a gestora executiva.


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