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13 de outubro de 2012
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09:00

Quase 40 anos depois, o Coronel civil foi eleito

Por
Sul 21
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Milton Ribeiro

Luiz Coronel foi eleito Patrono da 58ª Feira do Livro de Porto Alegre, a ser realizada entre 26 de outubro e 11 de novembro, mas nem sempre suas eleições foram tão tranquilas. Nos anos 70, durante a ditadura militar, o poeta e publicitário Luiz Coronel candidatou-se a vereador em Porto Alegre. O slogan do poeta traía o publicitário. Dizia assim: “Vote num coronel civil”. Não durou dois dias. O comando militar achou achou aquilo um abuso e proibiu a frase. Coronel não foi eleito. “Porém depois, a convite de Hamilton Chaves, Pedro Simon e Ulysses Guimarães, criei campanhas para a redemocratização do Brasil: ‘MDB, o povo de novo’ e ‘MDB, você sabe por quê’, que foram  utilizadas numa época em que poucas agências se envolviam com a oposição, porque estavam de olho nas contas do governo”, diz Coronel.

“Cultivo o humor e a alegria para viver. E a poesia para entender e sentir o milagre, os sonhos e os pesadelos da vida” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

O poeta e publicitário nunca se elegeu vereador e nem tentou fazê-lo após os anos 70, mas certamente a política gaúcha perdeu um grande contador de histórias e piadista. A reportagem do Sul21 riu muito dos causos que o poeta contou nos poucos minutos de entrevista. “Cultivo o humor e a alegria para viver. E a poesia para entender e sentir o milagre, os sonhos e os pesadelos da vida”. Mas também falamos de sua obra.

“Não estou batendo palmas para mim, mas sinto que não chego ao cargo ou ao encargo de patrono com as mãos vazias. São mais de 50 livros que incluem poesia, livros infantis, contos, e revisões do anedotário e dos causos gaúchos”.

“Calça Cuecão não tem guilhotina no zíper” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Da rua para o cursinho e dali para a propaganda

Luiz Coronel nasceu em Bagé em 1938. Veio para Porto Alegre em 1963, logo ingressando nos cursos de Direito e Filosofia da Ufrgs. Morava na Casa do Estudante. Como tinha pouco dinheiro, pegava seus livros de história, sublinhava o que os estudantes deveriam saber para passar no vestibular e ia vendê-los nos cursinhos pré-vestibulares: “Olha aqui tudo sobre a Primeira Guerra Mundial, olha aqui tudo sobre a Segunda”, e negociava os livros — que depois tornaram-se polígrafos mimeografados — com as marcações. “Um dia, o Prof. Ripoll me convidou para subir, conversamos, ele fez um teste comigo e acabei professor de cursinho. Entrei lá com menos de 20 anos e fui por 12 professor de pré-vestibulares no Mauá, depois no IPV e no Arquimedes”, conta Coronel.

Depois, trabalhou como advogado até ser convidado por um amigo para escrever alguns textos publicitários. “Então, passei a escrever as frases mais estapafúrdias como ‘Calça Cuecão não tem guilhotina no zíper’, ‘ Calça Cuecão não aperta teus documentos’, ‘Ali onde a Ramiro se encontra com a Independência e cada uma segue para seu lado’, etc.”. Em 1971, passaram-lhe a conta do Zaffari e o poeta tornou-se definitivamente publicitário. “Eu sempre fui poeta, nunca deixei de escrever, mas admito que a publicidade ensinou o poeta a ser enxuto, a eliminar os excessos”. Coronel faz questão de dizer que deve muito a seus atuais sócios da Agência Matriz a possibilidade de ter uma produção literária tão intensa. “Sem eles trabalhando, nunca poderia”, repete.

Mostrando a menina dos olhos para o Sul21| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Repentinamente, Coronel ergue-se e diz que vai mostrar para nós a menina dos olhos. Vai até a estante e traz alguns volumes da Coleção Dicionários que tem projeto e coordenação sua. São volumes que apresentam e analisam obras de escritores como Erico Verissimo, Mario Quintana, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Gabriel Garcia Márquez, William Shakeaspeare, entre outros. Já está em oito volumes. Este ano, será a vez de Carlos Drummond de Andrade. Cada pesquisa envolve o trabalho mais de 40 pessoas.

Os vários truques

“Uma vez o Walmor Chagas me disse que o maior erro do artista é permanecer cativo de seu truque. Então eu me policio muito, procuro alternativas novas para não ficar na mesmice. Por isso é me divido entre poesia, livros infantis, letras de músicas, etc.”. Mas confessa sentir-se mais à vontade quando escreve sobre o Rio Grande do Sul, “porque aí ressurge minha infância em Bagé e em Piratini, porque escrevendo sobre nosso estado, reviso de alguma forma minha coleção de lembranças”.

“As profissões foram as variáveis, a constante foi o poeta” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

O primeiro livro veio em 1973, Mundaréu, e o último foi o quarto livro do Quinteto do humor pampeano, o livro de causos Filé de Borboleta. Haverá lançamento de dois livros infantis na Feira do Livro. Coronel cita Borges ao afirmar que não acredita num paraíso sem livros, e reclama da primazia que o mundo contemporâneo dá à imagem em detrimento da palavra. “A palavra é a espinha dorsal da consciência. Dentro disto, amo especialmente a poesia, pois quando nos faltam as palavras, sobra-nos as metáforas. Imagem é impressão, palavra é conceito”.

Luiz Coronel tem também atuação como letrista de músicas – as músicas mais conhecidas com letras suas são Cordas de Espinhos, Gaudêncio Sete Luas e Pilchas – e como recitalista de poesias. Ele tem um programa como recitalista chamado Poesia e Música Social Brasileira que será apresentado durante a Feira do Livro deste ano.

“Eu acho que eu tudo que eu fiz sempre fui um poeta. Desde quando coroinha em Bagé até hoje, como empresário, as profissões foram as variáveis, a constante foi o poeta.

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A 58° Feira do Livro de Porto Alegre acontece entre os dias 26 de outubro e 11 de novembro de 2012. Ao longo dos 17 dias de evento, o público pode participar das diversas atividades oferecidas para todas as faixas etárias. São centenas de sessões de autógrafos e de programações culturais, tendo como norte o livro, a leitura e a literatura. No decorrer da Feira, ocorrem debates, mesas-redondas, seminários, encontros com autores, oficinas, leituras, contações de histórias e programações artísticas inteiramente gratuitas.

Dando continuidade ao que foi feito em 2011, nesta edição os dias temáticos estão divididos da seguinte forma: Bibliotecas (26/10), Jorge Amado (27/10), Bem Viver (28/10), Cuba (29/10), Viagem (30/10), Poesia (31/10), Imagem e Literatura (1º/11), América Latina (2/11), HQ (3/11), Literatura Fantástica (4/11), Rio Grande do Sul (5/11), História (6/11), Humor (7/11), Música (8/11), Cultura Popular (9/11), Novos Leitores (10/11) e Consciência Planetária (11/11). Diariamente, está prevista pelo menos uma atividade temática na programação.


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