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16 de outubro de 2012
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17:31

PT lambe as feridas e analisa erros na eleição de Porto Alegre

Por
Sul 21
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PT lambe as feridas e analisa erros na eleição de Porto Alegre
PT lambe as feridas e analisa erros na eleição de Porto Alegre
Apesar da presença do governador Tarso Genro na reta final de campanha, votação de Adão Villaverde ficou abaixo da média histórica do PT em Porto Alegre | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Rachel Duarte

Em números, o resultado do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições municipais de 2012, no Rio Grande do Sul, foi positivo. A sigla foi a mais votada no estado e apresentou crescimento na quantidade de candidaturas eleitas em comparado com as eleições de 2008. Por outro lado, o partido ainda busca compreender as razões que levaram à derrota ainda em primeiro turno em Porto Alegre, um dos seus principais redutos políticos. Os dirigentes estaduais do PT e o diretório da capital gaúcha se reúnem entre segunda (15) e terça-feira (16), para avaliar o processo eleitoral e o desempenho da legenda. Alguns já reconhecem, no entanto, que os principais erros no processo eleitoral teriam sido cometidos pelo próprio PT.

A necessidade de refletir sobre as eleições de 2012 surgiu ainda no domingo da eleição, quando nem 10% dos votos válidos em Porto Alegre foram dados ao candidato petista Adão Villaverde. A reunião do diretório municipal acontece às 19 horas desta terça-feira (16). O clima deve ser quente, uma vez que as diferentes tendências de pensamento dentro do PT divergiram sobre os rumos que o partido deveria ter adotado na disputa da capital. Porém, a ordem da direção estadual é não disputar quem tinha razão. “Não cabe agora alguma corrente fazer profecia do passado e assumir qualquer razão. A decisão da candidatura própria foi unânime. Talvez não se conseguiu o nome mais consensual, mas os mais conhecidos declinaram, como a Maria do Rosário, Olívio Dutra e Henrique Fontana”, diz o presidente do PT-RS e deputado estadual Raul Pont.

Raul Pont: “Tivemos uma perda de relações com movimentos sociais e sindicais. Estes votos foram para o PSOL e PSTU” | Foto: Ramiro Furquim / Sul21

Reconhecendo a importância da reflexão sobre o resultado em Porto Alegre, Pont faz uma profunda autocrítica. “O uso da máquina pelo (atual prefeito José) Fortunati e a candidatura declarada de Manuela (D’Ávila) desde 2008 tornaram a disputa difícil, mas só isso não explica a nossa derrota. Tivemos uma perda de relações com movimentos sociais e com o movimento sindical. Estes votos foram para o PSOL e PSTU”, afirma o ex-prefeito de Porto Alegre.

O presidente do PT em Porto Alegre, vereador Adeli Sell acredita que não adianta “cristianizar o candidato” escolhido nas prévias internas do partido. A incapacidade de pactuar uma política de alianças com alguma das candidaturas adversárias que integram a base aliada do governo Tarso Genro foi um dos aspectos que ele considera como equivocados no processo interno do PT. “A direção nacional já demonstrou que onde se faz aliança com solidez nós ganhamos. O PT de Porto Alegre é bastante dividido, por isso não fez isso. Conversamos com o Fortunati, que vacilou em manter integrantes da base conservadora, mas depois nosso partido não aceitou a aliança com ele. Não demos a confiança de que teríamos uma aliança com ele (Fortunati)”, fala sobre a negociação das coligações.

“Retomada do diálogo com PDT e PCdoB é urgente”, diz presidente do PT municipal

O vereador disse que defenderá, como presidente do diretório municipal, a urgente retomada do diálogo com o PDT e PCdoB. “Temos que ter a base do governo estadual que queremos ter por oito anos. O diálogo neste momento está complicado, mas tem que ser feito porque 2014 está aí”, diz. Na avaliação de Adeli Sell, os aliados de Tarso não têm motivos para não aceitar conversar no âmbito municipal. “O PCdoB cometeu erro gravíssimo ao dialogar com Ana Amélia, portanto não pode nos cobrar a conta. O PDT está no governo estadual e mesmo assim preferiu manter alianças conservadoras. Temos que acertar as pontas”, defende.

“Não conseguimos passar nosso projeto de renovação e modernização aos eleitores”, lamentou presidente do PT de Porto Alegre, Adeli Sell | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

A política de alianças foi pactuada no Encontro Estadual do PT em 2011 e deveria ter sido a preferência dos municípios gaúchos. Até mesmo diálogo com a oposição capitaneada pelo PMDB e PP foi adimitida. “O número de pequenos municípios é grande no estado. Nestas cidades a característica é a predominância de um partido ou o bipartidarismo. Mudanças são difíceis”, explica o presidente estadual Raul Pont.

Dos 497 municípios, o PT esteve na cabeça de chapa em 198. Como vice disputou em 125 cidades e em mais de 132 municípios participou de coligações. Foram conquistadas nesta eleição 12 prefeituras a mais do que o número alcançado em 2008. “Conquistamos 72 municípios e elegemos 656 vereadores”, diz Pont.

A dificuldade de seguir a política de alianças em Porto Alegre, local onde o PT registrou uma das principais derrotas, é vista pela secretária geral do PT-RS, Eliane Silveira, como algo que influenciou no eleitorado. “As três candidaturas tinham identidade com os governos de Tarso e Dilma. O discurso das políticas populares, como o Orçamento Participativo, também foi utilizado. O eleitorado de Porto Alegre tem o perfil de voto à esquerda, então, se dividiu entre as três candidaturas”, acredita.

De fato, a diluição dos votos que tradicionalmente eram do PT em Porto Alegre foi um aspecto marcante das eleições de 2012. O próprio presidente estadual da sigla admite. “Ficamos atrás até do índice de simpatizantes que votavam em nós. Não temos dados para constatar o voto de petistas nos demais candidatos. Porém, se tínhamos 18% da preferência na capital e não fizemos nem 10% dos votos, alguma coisa influenciou o nosso eleitor. Talvez o fato de já ter um campo popular no comando da cidade”, disse Pont, mencionando os lemas trabalhistas do PDT, que hoje abriga o ex-petista José Fortunati.

Petistas teriam optado por “voto útil” em Fortunati

Pont acredita que parte dos petistas que não abraçaram a candidatura de Adão Villaverde possa ter escolhido José Fortunati como uma espécie de voto útil. “Pode ter ocorrido migração de voto útil, que iria para a Manuela, para o candidato que até a proximidade do pleito surgia como vencedor”, considera. Mas, acentua que não se trata de um sintoma geral no PT. “Não é problema do PT. Na região tivemos vitórias significativas, como reassumir Alvorada, reeleger em Canoas, Sapucaia e Esteio. Até em Caxias do Sul tivemos boa votação, apesar de não vencer. E em Passo Fundo a oposição venceu de forma apertada”, salienta.

Alexandre Lindenmeyer foi eleito prefeito de Rio Grande, em uma das principais vitórias do PT gaúcho nas eleições deste ano | Foto: PT-RS

O PT recebeu 1.446.655 votos, liderando a preferência dos eleitores no estado. Dois deputados estaduais foram escolhidos: Luiz Fernando Schmidt elegeu-se prefeito em Lajeado e Alexandre Lindenmeyer em Rio Grande. A sigla também está presente na única disputa de segundo turno, em Pelotas, com o deputado Fernando Marroni. “Nosso balanço é de crescimento do partido. Nos consolidamos como um dos maiores partidos no estado em termos de número de votos. A votação só não correspondeu ao número de prefeituras eleitas devido a predominância forte do PMDB e PP nos pequenos municípios”, avalia Pont.

Assim como a eleição de candidaturas em Santana do Livramento e Parobé foram significativas, os prejuízos para o PT em São Leopoldo, Sapiranga, Gravataí e Novo Hamburgo foram marcantes do ponto de vista jurídico. Porém, o resultado político da derrota histórica na eleição da capital gaúcha é o motivo de maior esforço da sigla para uma reestruturação política. “Não podemos avaliar agora apenas um episódio. Este resultado é fruto de um processo de perda de terreno em Porto Alegre. O antipetismo estagnou na última década com o desempenho positivo do PT a nível nacional e provado na eleição de Tarso Genro em primeiro turno. Mas qual o projeto de renovação que o PT trouxe nesse período?”, crítica o vice-presidente do PT em Porto Alegre, Rodrigo Oliveira.

Dificuldade de renovação e de aglutinar alianças são fatores apontados por alguns petistas como possíveis causas para baixa votação do PT em Porto Alegre | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Incapacidade de renovação interna

Segundo ele, “o PT deixou de exercer poder hegemônico e quando perde isso, perde a capacidade de aglutinar alianças”. Para o dirigente petista, apontar problemas sobre o passado da eleição não irá contribuir para tirar lições do processo e recuperar espaço. “Temos que perder a mania da língua quente das correntes e ter a cabeça fria. Não podemos ficar querendo marcar posições internas e não olhar para o processo todo. Foram muitos fatores que influenciaram em Porto Alegre. A capacidade de disputa dos adversários é uma delas. O Fortunati é um quadro de esquerda, apoiado pela direita e que atrai o centro. Ele é o grande responsável por sua própria vitória”, argumenta.

Adeli Sell também defende a tese da renovação no PT. “Não conseguimos passar nosso projeto de renovação e modernização aos eleitores. O mensalão batendo no PT durante todo o mês. Os servidores púbicos estaduais e federais, principalmente professores descontentes com o piso, fazendo cobranças através dos sindicatos. O PT tem que começar a pensar mais a capital e as questões urbanas e deixar a política estadual com o diretório estadual. Ficamos muito na mesmice e sem conseguir nem sensibilizar o senso comum”, disse.


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