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3 de outubro de 2012
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21:32

Cercamento do Araújo Vianna gera polêmica em Porto Alegre

Por
Sul 21
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Grades verdes é opção de menor impacto, afirma Coordenador de Memória de Porto Alegre, Luiz Custódio | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Rachel Duarte
Atualizado às 20h54

O recém inaugurado Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, foi cercado fisicamente e os motivos ainda não são claros. Setores culturais e patrimoniais do município afirmam que aprovaram o cercamento do local, tombado como patrimônio histórico, pelas necessidades apresentadas pelo novo projeto arquitetônico que colocaria em risco a segurança de equipamentos e artistas. Já o arquiteto responsável, Moacyr Moojen Marques fala que foi uma exigência do edital estabelecido pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre e que a medida compromete visualmente a arquitetura do auditório pensado por ele.

Os taludes do entorno do Araújo Vianna, que serviam de espaço de convivência entre os frequentadores do Parque Farroupilha, a Redenção, agora tem um gradil verde que separa todo o memorial restaurado. “Adotamos as grades para ter o menor impacto visual possível. O projeto inicial era utilizar chapas expandidas, o que fecharia totalmente a visão do objeto histórico”, disse o coordenador de Memória Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, Luiz Antônio Custódio.

Segundo ele, outra sugestão seria utilizar a própria vegetação para fazer uma espécie de cercamento natural. “Como já teve no passado, que era utilizando espinhos. Mas, também criava obstáculos de acesso ao monumento”, disse Custódio.

Depois de sete anos e meio fechado, o Araújo Vianna reabriu as portas sobre uma nova perspectiva de utilização, o que, na explicação da diretora municipal da Equipe de Patrimônio Histórico e Cultural, Débora Regina Magalhães da Costa, justifica o cercamento. “Estamos em outro momento. As coisas evoluem. A cobertura branca poderia ser alvo fácil de vandalismo, assim como a estrutura da casa de máquinas construída atrás do auditório”, disse.

Araújo Vianna atrás das grades gerou críticas de usuários nas redes sociais | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

A preservação do investimento de R$ 18 milhões feitos na reforma promovida em parceria com Opus Promoções foi levado em conta. A produtora está responsável por 75% do calendário anual do Araújo Vianna por dez anos. “É uma nova proposta de shows que estamos oferecendo lá e queremos garantir o acesso exclusivo aos fãs”, disse a diretora. Entre as consequências esperadas a partir do cercamento estaria evitar que pessoas subissem nos taludes, o que permitiria assistir de graça shows onde ocorrerá cobrança de ingresso.

“O auditório antigo não tinha cercamento porque tinha um funcionamento distinto do que existe hoje. Na medida em que há recursos de acústica e cobertura, ar condicionado, então é possível desenvolver outros espetáculos que não tínhamos antes. Foi um investimento muito alto, todos vão querer preservá-lo”, falou o coordenador Custódio.

Ainda que em caráter reversível, admitem os gestores, o cercamento deve se manter devido a política municipal de segurança pública prever o cercamento de outros espaços físicos. A Praça da Alfândega, a própria Redenção e o Parque Marinha deverão receber um conjunto de câmeras de vídeo. “Tivemos orientação da Brigada Militar e da Guarda Municipal para delimitar o espaço que era do parque e o do auditório. Os artistas estariam vulneráveis nas entradas e saídas até os carros. Acabamos tendo que compreender estas necessidades. É proteção do patrimônio também”, falou o coordenador de Memória.

“Nunca deveria ter sido cercado”, diz arquiteto responsável pelo Araújo

Auditório vive outro momento e ficaria vulnerável a vandalismo, defende diretora Débora Costa | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Criador do projeto original do Araújo Vianna, de 1964, o arquiteto Moacyr Moojen Marques acredita que melhor seria não ter adotado esta medida. “Minha opinião é que nunca deveria ser cercado. Mas não por razões ideológicas. O cercamento não contribui com o projeto arquitetônico. Comprometeu o projeto que fizemos, que sempre compôs com a própria paisagem do parque”, explicou.

O arquiteto disse que “determinadas interpretações definem o cercamento como a privatização do espaço público”. No caso do Araújo Vianna, ele disse que não poderia ser considerado como tal. “Mas que fosse cercado então o parque, e não o auditório”, complementou.

Na opinião do Coordenador de Memória Cultura de Porto Alegre, Luiz Custódio, outros países já utilizam o cercamento de parques e praças. “São abertos durante o dia e fechados à noite. Isto não significa reduzir a utilização dos espaços. Algumas pessoas podem pensar diferente, é um direito”, falou.

Cercamento poderá ser retirado com a chegada do cercamento eletrônico da Redenção | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Para a diretora da Equipe de Patrimônio Histórico e Cultural, Débora Regina Magalhães da Costa, se a sociedade fosse mais educada no Brasil, poderia se conviver de forma civilizada com mais liberdade. “Isso leva mais tempo. Eu sempre fui contra cercar a Redenção. Defendi o mesmo quando surgiu a ideia de cercar os monumentos históricos. Mas, hoje percebo que o momento em que vivemos é outro. Passei a ser favorável”, disse.

O Conselho Municipal de Cultura não se posicionou sobre o tema. Perguntado, o presidente Paulo Guimarães disse que “o colegiado irá discutir o cercamento do Araújo Vianna em reunião no dia 11 de outubro”.


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