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5 de outubro de 2012
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20:53

Antes da repressão, alegria prevalecia em ato no Centro de Porto Alegre

Por
Sul 21
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Intervenções artísticas foram constantes em todo o evento. | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Samir Oliveira

A manifestação da “Defesa Pública da Alegria” na noite desta quinta-feira (4), em Porto Alegre, terminou com uma verdadeira batalha campal entre os ativistas e a Brigada Militar. Mas, até esse momento, o evento já estava acontecendo por sete horas num clima de muita tranquilidade e paz. A ideia de que o ato se resumiu ao confronto com a polícia – ou de que ele foi organizado para depredar o símbolo da Copa do Mundo – não descreve adequadamente a realidade constatada pelo Sul21, que esteve no local desde as 16h30, quando as primeiras pessoas começaram a se concentrar na Praça Montevidéu, em frente à prefeitura.

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Organizado de forma autônoma através das redes sociais, o protesto se assemelhou a outras manifestações de jovens ao redor do mundo, como os “indignados” na Espanha, que bradam contra o sistema político de uma forma geral – inclusive na ausência de bandeiras partidárias visíveis. Dezenas de cartazes foram pregados ao redor do chafariz com os dizeres “o progresso parece retrógrado”, “o amor são as pessoas” e “Fortunati, enquanto tu capitalizas a cidade, nós socializamos a felicidade”.

Velas foram depositadas ao longo do chafariz em frente à prefeitura. | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

De fato, mais de uma vez os manifestantes tomaram o microfone para dizer “que se vayan todos” e “não nos representam”, num recado direto à classe política. O fato  de ser uma manifestação contra o prefeito José Fortunati (PDT) não deu ao ato características de uma ação da oposição. “Os outros candidatos não estão aqui para dizer que farão diferente. É porque não farão, não nos representam!”, bradou uma ativista.

O próprio amplificador que reproduzia as falas dos manifestantes foi financiado de forma coletiva. No início do ato, cada um foi doando cerca de um real até que, em menos de meia hora, foi possível obter os R$ 100 necessários para se alugar um gerador de energia.

Apesar de maioria dos presentes serem jovens, eles não eram exclusividade. Em determinado momento, uma senhora de 60 anos tomou a palavra: “Tenho 60 anos e um neto de 15 anos de idade. Quero dizer aos policiais que defendem o boneco da Coca-Cola que eu não uso armas. Minha arma é a minha voz”, comemorou.

Multidão lotou a Praça Montevidéu ainda antes do anoitecer. | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Em nenhum momento era possível perceber uma articulação coletiva para depredar o mascote da Copa do Mundo de 2014, embora as críticas fossem constantes à sua presença no Largo Glênio Peres e às políticas da prefeitura para o evento esportivo – como a remoção de populações pobres para a construção de avenidas.

Além do caráter de crítica ao sistema político de uma forma geral, o evento tinha como foco promover o amor, ao melhor estilo woodstockiano presente nas manifestações hippies dos anos 1960. “Vamos juntar toda a energia que está aqui e levar para o cosmos”, disse uma manifestante. Por mais de uma vez, tomaram o microfone para pedir que as pessoas abraçassem quem estava ao seu lado.

Quando a noite foi chegando, o que era uma manifestação ganhou ares de uma verdadeira festa ao ar livre, com bebidas e muita música. Uma das que gerou mais entusiasmo foi “Jorge Maravilha”, de Chico Buarque, eternizada no refrão: “Você não gosta de mim / Mas sua filha gosta”.

Homem-banda animou o ato no final da tarde. | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Os vendedores ambulantes perceberam o potencial do ato e uma churrasqueira portátil foi instalada em frente à prefeitura, vendendo espetinhos de carne e coração de galinha a três reais. Não sem, claro, ouvir protestos de vegetarianos e veganos presentes.

Foi pouco depois desse momento, perto das 23h30min, que os manifestantes resolveram dançar uma ciranda ao redor do mascote da Copa do Mundo, no Largo Glênio Peres. Aqui é possível acompanhar o relato do que aconteceu a partir daí .


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