Opinião
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5 de setembro de 2012
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09:05

Propaganda enganosa: o Brasil em 5º lugar no PIB

Por
Sul 21
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Por Sérgio Alves de Oliveira

A comemoração que “eles” fizeram quando, num trimestre deste ano, o Brasil ultrapassou o Reino Unido no resultado do produto interno bruto (PIB) foi algo verdadeiramente descomunal. Mas se olharmos esse fato PROPORCIONALMENTE ao porte dos dois países (ultrapassante e ultrapassado),veremos que não temos o que festejar. Pelo contrário, impõe-se lamentação e vergonha pela simples comparação entre TODOS os outros índices sociais, econômicos e políticos envolvidos. Tanto a POPULAÇÃO, quanto o TERRITÓRIO do Reino Unido, são bem menores que os do Brasil. Enquanto a população de lá está em torno de 62 milhões de habitantes dentro de um território de 243.000 Km/2 ,o Brasil tem uma população de 190 milhões de pessoas e um território de 8,5 milhões de Km/2. Trocando em miúdos: o território do Brasil é 37 (trinta e sete) vezes maior e a população 3 vezes mais que a do Reino Unido. Também o PIB “per capita” deles é de US$ 35.000 e o do Brasil US$ 12.000. Portanto o brasileiro é 3 vezes MENOR. Mas não é só isso : como a concentração de renda é bem menor lá fora, as diferenças sociais entre as pessoas melhor e pior situadas no “ranking” social,que não podem ser medidas pelo PIB “per capita”, também e consequentemente são bem menores. Significa dizer : a distância entre as “extremidades” sociais no Brasil é muito maior do que poderia parecer mediante a simples comparação entre os respectivos PIBs “per capita”. Se o Brasil “ganhou” no trimestre em PIB,continuou perdendo nele “per capita” e muito mais ainda na distribuição das riquezas e renda , onde leva uma “goleada” do Reino Unido.

Mas mesmo aderindo ao critério dos marketeiros oficiais, comparando os países por eles mesmo escolhidos, os demais dados estatísticos já desmancham esse engodo. No IDH (índice de desenvolvimento humano) o Reino Unido está em posição privilegiada. E o Brasil? No 84º lugar. No “ranking” na OMS e gasto “per capita” em saúde, o Brasil fica na 72ª posição ; e na EDUCAÇÃO não fica por menos, está no 88º lugar. Todavia o mais chocante conflita com o discurso governamental de progressos sociais. O Brasil ocupa a 3ª PIOR posição mundial em DESIGUALDADE.

A comemoração desse resultado significa o mesmo que um elefante sentir-se superior a um animal de menor porte pelo simples fato de ser maior, desconsiderando a sua condição de “elefante”. Se válido fosse o critério escolhido pelos marketeiros de comparar o PIB do Brasil com o de outros países,evidentemente não poderia ter sido com o Reino Unido, de menor porte que o Brasil, porém, por exemplo, com os EUA, onde existem mais semelhanças (território, população, etc.),inclusive a “idade histórica” doa países. Seria até uma questão de ética. A ética que ocorre entre as categorias de boxeadores, onde as lutas são selecionadas entre contendores de pesos aproximados.

Mas de toda essa observação o que espanta mesmo é o fato do Poder Público ditar regras de “moral”para a sociedade civil em forma de leis. Agora,por exemplo, está na moda o Estado mobilizar todo o seu aparato repressivo contra os “infratores” assim definidos no tal de Código do Consumidor, como prática de “propaganda enganosa”. O setor produtivo da sociedade não pode atribuir aos produtos comercializados qualidades inexistentes ou defeitos ocultos. Penso até que se um dia resolverem instituir a pena de morte,os infratores desse código nesse item estarão sujeitos a enfrentar o “carrasco”.

Aqui fica uma pergunta: o “porte” da mentira governamental dirigida à toda a sociedade civil , por exemplo, em relação ao tal de “ 5º lugar no PIB” não seria muito maior ,mais grave e de mais danosos efeitos, que as “mentirinhas” punidas no código do consumidor ?

Devido à consciência de que por tais motivos, dentre outros, “o Brasil não deu certo”, e de que ,como diz o povo,”tamanho não é documento”, urge repensar o Brasil de modo a dividi-lo conforme acordos e conveniências regionais, reformulando as leis impeditivas e consultando os seus povos pela via plebiscitária.

Sérgio Alves de Oliveira é sociólogo, advogado, membro do GESUL (Grupo de Estudos Sul Livre)

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