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6 de julho de 2012
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17:36

Primeiro debate expõe diferenças e semelhanças das candidaturas em POA

Por
Sul 21
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Da Redação 

O primeiro dia de propaganda eleitoral começou com debate entre os candidatos a Prefeitura de Porto Alegre. Nesta sexta-feira (6), Adão Villaverde (PT), José Fortunati (PDT), Manuela D´Ávila (PCdoB), Roberto Robaina (PSOL), Êrico Correa (PSTU), Wambert Di Lorenzo e Jocelin Azambuja (PSL) apresentaram ideias e propostas em rede aberta de rádio e televisão. A promoção foi da Rádio Gaúcha e o cenário a casa legislativa da capital do RS.

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Em pouco mais de duas horas foi possível tirar a primeira impressão da disputa eleitoral: será elevada e programática. As três candidaturas aliadas ao governo estadual (PT-PDT-PCdoB) focaram os discursos em propostas e críticas mais amenas. O tensionamento ficou por conta da oposição, dividida entre direita e esquerda mais radicais.

Manuela D'Ávila, Adão Villaverde, Érico Correa, José Fortunati, Jocelin Azambuja, Roberto Robaina e Wambert Di Lorenzo participaram de debate na Câmara de Porto Alegre | Foto: Jefferson Bernardes/Preview.com

O debate teve início às 8h10min e foi dividido em quatro blocos, na forma de perguntas entre os próprios candidatos e questões preparadas pela produção do Grupo RBS. A ordem foi definida por sorteio prévio e a largada ficou de acordo com a regra dos bons costumes, primeiro às mulheres. Única de saia em meio aos engravatados, a deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB) apostou em um discurso de proximidade com o público feminino. Citou a aliança do seu partido com a presidenta Dilma Rousseff, se disse preocupada com a segurança dos filhos das mães porto-alegrenses nas escolas e criticou a falta de consultas especializadas em ginecologia nos postos de saúde. “Não houve resposta sobre o porquê a gestão atual perdeu 104 mil consultas especializadas. Não respondeu por que não tem explicação mesmo. Precisamos mudar esta gestão”, atacou Fortunati no tempo que tinha para falar sobre turismo.

“Queremos qualificar os futuros cidadãos", disse Adão Villaverde sobre investimentos em creches e educação infantil | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Estreante em debates eleitorais, o deputado estadual Adão Villaverde (PT) tentou mostrar-se preparado para os 94 dias de disputa que terá pela frente. Apresentou como principais prioridades a saúde, segurança e mobilidade urbana, sem deixar de sublinhar as boas realizações dos governos Tarso Genro e Dilma Rousseff. A afinidade partidária foi um artifício presente em boa parte das repostas dadas pelo candidato, que citou também modelos de políticas públicas de outros colegas de legenda que pretende aplicar na cidade, como o ex-governador Olívio Dutra e Lula. “Queremos qualificar os futuros cidadãos. Faremos fortes investimentos nas creches. Já falei com a ministra Tereza Campelo e com o Ministério da Educação. Toda criança estará atendida na educação infantil”, prometeu.

Ao atual prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), que representa o projeto que venceu a última eleição, coube apresentar resultados da gestão e fazer promessas de futuro, caso o governo tenha continuidade. Representante da situação, foi alvo fácil dos demais candidatos e precisou se defender de acusações de inoperância e corrupção. “Tenho a tranquilidade de dizer que em Porto Alegre os professores para o turno de 40 horas são remunerados com o melhor salário do país. E estamos fazendo investimentos pesados nas escolas de educação infantil”, disse. E também respondeu às críticas: “Parece que o PT, do qual eu fiz parte, não governou a cidade por 16 anos. Não resolveram muitos dos problemas da cidade. Esta história de que somos do mesmo partido dos demais governos é que resolve as coisas, nós já conhecemos”.

José Fortunati falou em redução de índices de desemprego durante sua administração: "A cidade do futuro já começou" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Outra crítica dura ao prefeito que esteve na ponta da língua de parte dos adversários no debate foi o recente fechamento dos postos de saúde em meio ao feriado do começo de junho. “O governo municipal está com esta marca de ter fechado os postos sem o conhecimento da população”, disse Érico Correa (PSTU).

Fortunati disse que reconheceu o erro publicamente e defendeu que Porto Alegre investe em saúde e irá reabrir até o final do ano 354 leitos hospitalares. Também apresentou dados sobre outras áreas e defendeu que Porto Alegre reduziu os índices de desemprego e tem política para microempresários. “A cidade do futuro já começou”, falou.

Três candidaturas iguais

A crítica sobre Fortunati, Manuela e Villaverde representarem o mesmo projeto político não passou despercebida pelos partidos oposicionistas de Wambert Di Lorenzo (PSDB), Roberto Robaina (PSOL), Êrico Correa (PSTU) e Jocelin Azambuja (PSL). “Este modelo que os três representam é o que cortou R$ 5 bilhões do orçamento para saúde pública brasileira no começo do ano”, falou Robaina. “O projeto que o senhor representa, assim como a Manuela e o Villaverde, é o do governo federal que responde por falta de medicamentos e leitos hospitalares”, citou Êrico Correa no debate.

Wambert Di Lorenzo qualificou-se como "a cara nova da eleição" e pediu "voto de confiança" do eleitor de Porto Alegre | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

O candidato tucano aproveitou a oportunidade para se colocar como uma opção de renovação no cenário eleitoral de Porto Alegre. “Sou a cara nova desta eleição. Os demais vocês já conhecem. Sou o diferente, por isso peço o seu voto de confiança”, apelou aos eleitores no tempo de considerações finais. Apesar de ser cara nova, o professor Wambert Di Lorenzo representa um projeto político-ideológico conhecido. “Sou candidato do PSDB de Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin, Aécio Neves. O governo que zerou o déficit gaúcho e recuperou as contas do estado”, disse o candidato.

Contrapondo ao tucano, Roberto Robaiana (PSOL) falou que não é contra o mercado financeiro para o desenvolvimento da cidade. “Sou contra a dominação pelo monopólio das grandes empresas sustentadas pelo poder público. Parte da arrecadação dos bancos públicos vai para financiar as atividades da Vale do Rio Doce, da Delta. O PT adotou este modelo do PSDB que hoje esperneia de forma impotente. O PSDB está superado, mas a essência da receita aplicável em monopólio é um problema que teve continuidade”, disse.

Manuela D'Ávila realçou proximidade com público feminino e disse estar "tranquila" quanto a críticas por tentativa de aliança com PP: "Ideologia não é doença" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Outras críticas pesadas, como o caso do desvio de R$ 10 milhões da saúde de Porto Alegre no caso do Instituo Sollus quando José Fortunati era vice-prefeito; a tentativa de Manuela D’Ávila em ter o apoio do Partido Progressista (PP), partido que esteve na gestão do Detran quando do escândalo do desvio de R$ 40 milhões; bem como o inchaço da máquina pública dos três partidos representados nos governos gaúcho e federal foram lembrados pelos representantes da esquerda mais radical.

“Eu fico tranquila. Ideologia não é doença. Não é contagioso. Não há problemas em governar com apoio de outros partidos como faz o Jairo Jorge (PT) em Canoas, que tem o PP como vice e faz uma boa gestão. Se colocar como imune da corrupção não quer dizer enfrentá-la. Eu farei isso estando atenta e escolhendo cargos técnicos, como faz a presidenta Dilma”, defendeu-se Manuela D’Ávila. Porém, faltou tempo para responder à provocação de Érico Correa quando afirmou que acabaria com a “política da panelinha” e recebeu acusação do PCdoB estar bem servido de Cargos em Comissão no Hospital Conceição.

Outra saia justa foi experimentada pelo prefeito José Fortunati. Ao justificar a falta de investimentos na saúde pública com o não cumprimento dos mínimos constitucionais por parte do governo gaúcho, lembrou que a pasta era comandada por um correligionário. “Apesar dos esforços do secretário do nosso partido que está na Saúde”, falou sobre o trabalho de Ciro Simoni.

Jocelin Azambuja apoia cercamento físico de alguns parques em Porto Alegre: "Não vejo constrangimento nisso" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Segurança Pública expôs diferenças ideológicas

Ainda que aliados no governo estadual, as principais candidaturas que aparecem nas pesquisas deram mostras da diferença de gestão de cada sigla. As bagagens históricas e ideológicas influenciam, por exemplo, a visão sobre a segurança pública. Para o candidato do PT, Adão Villaverde a criminalidade e a violência serão combatidas com reforço no efetivo da Brigada Militar e fundamentalmente com políticas para a juventude. Manuela D’Ávila defendeu reforço da Guarda Municipal nas escolas. José Fortunati e Jocelin Azambuja (PSL) concordam com a importância do cercamento dos parques e praças. “O debate sobre o cercamento físico já está superada, estamos reforçando as câmeras para o cercamento eletrônico da Redenção e do Parque Marinha”, disse o prefeito sobre medida já em andamento na cidade. “Concordo que seria importante inclusive o cercamento físico dos parques, incluindo o Parque Harmonia. Não vejo constrangimento nisso. Há lugares no mundo que tem horário de funcionamento inclusive para os parques. O povo educado sabe usar o parque”, disse Azambuja.

Érico Correa é contra a injeção de dinheiro público nas obras da Copa do Mundo de 2014 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Já Êrico Correa, ao responder sobre a postura que adotaria se fosse prefeito de Porto Alegre para desafogar o Presídio Central, disse que as políticas de ressocialização e descriminalização de pequenos crimes são importantes. “As cadeias estão superlotadas e o Presídio Central está em condições subumanas porque hoje qualquer crime pequeno dá cadeia, enquanto os grandes criminosos estão soltos”, falou.

Além do debate político, candidatos fizeram propostas práticas

Apesar de o debate ter gravitado em torno de disputas políticas e críticas partidárias de uma maneira geral, os candidatos chegaram a fazer algumas propostas e promessas práticas que o eleitor poderá cobrar depois.

Manuela D’Ávila disse que irá criar uma agência pública para divulgar a cidade e potencializar o turismo. Questionada sobre saneamento básico, a comunista disse que dará continuidade ao PISA – projetado nas gestões petistas e continuado por Fogaça e Fortunati -, mas disse que irá resgatar o programa “Esgoto Legal”, implementado durante os governos da Frente Popular na Capital. A comunista prometeu, ainda, verbalmente, que, se for prefeita, deslocará “um guarda municipal para cada escola”, de Porto Alegre.

Adão Villaverde se ancorou em projetos do governo federal para balizar a maioria de suas propostas. O petista disse que Fortunati não aproveita os investimentos do Minha Casa, Minha Vida e prometeu construir 10 mil habitações populares durante seu mandato, em parceria com Brasília. O deputado também disse que até 2016 iria universalizar as creches públicas municipais. Sem dar detalhes, Villaverde chegou a comentar, também, que pensa em implantar um sistema de geração de energia elétrica por meio do lixo na cidade.

Como é natural, quem está na situação é o alvo principal dos ataques e passa a maior parte do tempo se defendendo e apresentando projetos já executados. Por isso, José Fortunati focou suas falas em programas da prefeitura, como o cercamento eletrônico dos parques e praças da Capital, interligados numa central de monitoramento. O pedetista também frisou que está construindo com a Farsul soluções para melhorar o turismo rural na cidade.

Em termos de propostas, Wambert Di Lorenzo focou sua fala na gestão. O tucano prometeu modernizar a gestão da cidade, seguindo um discurso bem parecido com o da ex-governadora Yeda Crusius. O candidato do PSDB disse que é preciso “fazer mais com menos” e foi o único que defendeu abertamente o cercamento físico dos parques porto-alegrenses.

Se eleito, Roberto Robaina garante corte de 75% nos cargos em comissão da prefeitura de Porto Alegre | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Roberto Robaina focou seu discurso nas críticas aos adversários, numa dobradinha com o candidato do PSTU. Mas também fez algumas propostas. A principal delas já vinha sendo defendida por Luciana Genro na eleição de 2008: o corte de 75% dos cargos em comissão (CCs) da prefeitura.

Érico Corrêa também focou suas intervenções nos ataques e na definição política dos adversários. Além de posicionar-se sobre a segurança da cidade – onde afirmou, por exemplo, que cadeia tem que ter “cela para os corruptos e corruptores” – o candidato do PSTU disse também que é contra a injeção de dinheiro público nas obras da Copa do Mundo de 2014.

Uma das principais propostas de Jocelin Azambuja foi a federalização dos professores municipais. Para o candidato do PSL, isso acabaria com o problema de baixa remuneração desses servidores. Ele também propôs a efetivação de uma linha de catamarã entre as zonas Sul e Norte de Porto Alegre, fazendo com que a população possa evitar o uso de ônibus.


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