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29 de julho de 2012
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18:00

Crimes contra o amor: a arte para combater o ódio

Por
Sul 21
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Rachel Duarte

O Brasil é o país com o maior número de crimes contra gays no mundo – e muitos destes casos acabam em mortes. Embora ainda não oficiais, devido à falta de delegacias especializadas e do preconceito por orientação sexual não ser crime no país, os dados levantados informalmente por ONGs mostram que à mesma medida em que os direitos dos homossexuais crescem, também aumentam a intolerância e a violência. Conforme o Grupo Gay da Bahia, no últimos três anos o aumento de mortes de gays chegou a 70%. A maioria dos casos está centrada na Bahia, Alagoas e São Paulo.

A barbárie brasileira em relação aos homossexuais ganhou o mundo e está sendo exposta nos EUA em forma de arte. Cyríaco Lopes, artista plástico brasileiro, radicado nos Estados Unidos e professor de arte na City University of New York (John Jay College), expõe a partir de 7 de agosto, na President’s Gallery, em Nova York, a série Crimes Against Love (Crimes contra o Amor). São mortalhas com fotos de esculturas antigas impressas em tecido.

Foto: Cyríaco Lopes
Foto: Cyríaco Lopes

A série de memoriais aos mortos retrata que há, na visão do artista, uma guerra urbana contra os homosexuais no Brasil. Ele expõe episódios de casos brutais de homicídios por homofobia em um país que tem a contradição de ter alcançado o direito à união homoafetiva e realizar uma das maiores paradas do orgulho gay no mundo, mas também ser o líder mundial em assassinatos por causa da orientação sexual.

Foto: Cyríaco Lopes
Foto: Cyríaco Lopes

Na exposição, cada mortalha é acompanhada por um texto que relata de forma sucinta um assassinato violento.

“2004 – Angilberto Sabatino da Silva. Seu órgão genital foi cortado e colocado dentro da sua boca”. 

Foto: Cyríaco Lopes
Foto: Cyríaco Lopes

 “2004 – Uma travesti levou seis tiros no rosto e cinco no peito. “É frequente os casos em que homossexuais e seus clientes consumem muito álcool, o que aumenta as chances de morte violenta”, disse chefe de polícia.”

Foto: Cyríaco Lopes
Foto: Cyríaco Lopes

“2007 – Osvan Inácio dos Santos. Naquela noite: 1) Ganhou o título de Miss Gay Piracicaba 2) Apanhou e teve o crânio rachado. Glória nunca mais. Nunca chegou aos 20.

Foto: Cyríaco Lopes
Foto: Cyríaco Lopes

“2008 – Alexandre dos Santos foi amordaçado, encapuzado e espancado até ficar inconsciente”.

Foto: Cyríaco Lopes
Foto: Cyríaco Lopes

“2011 – Em um final de semana na feira de artesanato: um mordeu e arrancou sua orelha enquanto os outros o ofendiam: Bicha, Bicha! (Na verdade, se tratava de um pai e um filho)”.

 “2010 – Alexandre Ivo. Copa do Mundo: Brasil 3 x Costa do Marfim 1. Ele deixou uma festa às 02h30 da madrugada. O instituto médico legal determinou que ele foi torturado durante horas antes de ser estrangulado. Ele tinha 14 anos.”

Foto: Cyríaco Lopes
Foto: Cyríaco Lopes

“2010 – José Ricardo Pereira da Silva. Três jovens cresceram juntos. Aos 20 anos, dois resolveram espancar o terceiro até a morte. Tinham feito sexo com ele, mas não queriam ser conhecidos como homossexuais.”

Foto: Cyríaco Lopes
Foto: Cyríaco Lopes

“2011 – De repente três homens aceleram perto dela. Aterrorizada, ela bate o carro. Eles a arrastam para fora do carro pelos cabelos, gritando e batendo nela. Eles odeiam transexuais.”

Foto: Cyríaco Lopes
Foto: Cyríaco Lopes

“2012 – O casal estava feliz e pronto para viajar de férias. Então suas famílias foram avisadas que precisavam identificá-los no necrotério. Seus olhos foram perfurados e seus dedos arrancados.”

Foto: Cyríaco Lopes
Foto: Cyríaco Lopes

“2012 – Enterrado vivo pelo seu padrasto. Ele tinha 14 anos e lutava para se assumir homossexual.”

Foto: Cyríaco Lopes
Foto: Cyríaco Lopes

Sobre o autor:

Cyriaco Lopes é um artista brasileiro que vive e leciona arte nos EUA há mais de uma década.  No Brasil seu trabalho foi visto no MASP (Prêmio Phillips de Viagem à Europa), no MAM do Rio e de Salvador, e no CCSP.  Nos EUA seu trabalho foi exibido nos Museus de Arte Contemporânea de Saint Louis (Prêmio de projeto) e de Baltimore, no El Museo e na Apexart em NY.  Seu trabalho também apareceu em diversos países europeus, como a França, a Alemanha (individual), Itália, Polônia e Portugal.  De fato, apenas nos últimos 2 anos o trabalho também foi incluído em exposições em Guent, Nantes, Belfast, Reykjavik e Gênova.  Artistas importantes foram curadores do seu trabalho como Lygia Pape, Luciano Fabro e Janine Antoni, assim como críticos como Paulo Herkenhoff.

“A originalidade da minha trajetória está na exploração de temas políticos: do fim da ditadura à violência urbana, até questões de direitos civis para homossexuais.  Talvez o único artista brasileiro da minha geração  (cujo trabalho emergiu no finalzinho dos anos 90) a ter se comprometido consistentemente com questões políticas atuais”, diz Cyriaco Lopes.


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