Felipe Prestes
Por 63 votos a 44, o diretório municipal do PP optou por apoiar a reeleição de José Fortunati (PDT) à Prefeitura de Porto Alegre em detrimento à candidatura da deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB). A votação se deu na noite desta segunda-feira (11), na Câmara Municipal, após debate entre apoiadores dos dois candidatos. “Fazemos parte do Governo Fortunati, acreditamos neste governo. Agora, vamos colocar toda a militância progressista na eleição”, disse o ex-secretário Kevin Krieger, que apoiou José Fortunati. A senadora Ana Amélia Lemos, que defendia Manuela, já anunciou via redes sociais que será dissidente e manterá apoio à comunista.
Cerca de vinte minutos após a divulgação do resultado, o prefeito José Fortunati foi até a Câmara, acompanhado pelo provável candidato a vice-prefeito Sebastião Melo (PMDB), sendo fortemente aplaudido. “Trata-se de um partido que está desde 2005 na atual administração. Tem participação direta nas nossas políticas públicas, comanda duas secretarias e sua militância está na maior parte das pastas. O índice de aprovação de 78%, pelo Vox Populi, tem muita contribuição do PP. Seria até contraditório, embora eu fosse respeitar, se decidissem o contrário”, disse Fortunati, que abraçou efusivamente vereadores e secretários do PP e tirou fotografias com militantes.
Do lado dos apoiadores de Manuela, quem falou após a votação foi o deputado estadual Mano Changes. Ele disse que a escolha foi baseada em rivalidade política. “A gente vai continuar grenalizando a política. A gente perdeu a oportunidade de fazer o que o Lula fez no Brasil, acabar com a discussão e promover o desenvolvimento”, disse.
A senadora Ana Amélia Lemos, que fora a principal defensora do apoio a Manuela, saiu antes que o resultado fosse divulgado, acompanhada pelo presidente estadual do PP, Celso Bernardi. Não comentou, portanto, a derrota do que defendia. O vereador João Dib comentou o fato de que Ana Amélia deve apoiar a comunista mesmo com a decisão contrária do partido. “É um direito dela, mas sem disciplina não há partido”.
Consenso foi de que o PP sai fortalecido
Após o resultado consumado, Kevin Krieger ressaltou que “em primeiro lugar, vence o PP”. Antes da votação, dez integrantes do partido se revezaram no uso da palavra, tendo ao todo cerca de 20 minutos para os apoiadores de Manuela e outros 20 para os de Fortunati exporem seus motivos. Nos discursos, um consenso: os progressistas festejaram a efervescência partidária causada pelo debate em torno das eleições de Porto Alegre. “Nesta semana a imprensa dedicou espaços generosos e positivos ao PP”, resumiu o presidente da comissão formada pelo partido, Gustavo Paim. O vereador Beto Moesch, por sua vez, destacou que o partido está debatendo na Capital como nunca antes.
Neste contexto, a senadora Ana Amélia Lemos foi incensada por todos, mesmo pelos que preconizavam apoio a José Fortunati. Todos os que fizeram uso da palavra para se opor à ideia da senadora de apoiar Manuela destacaram a importância do debate provocado pela representante do PP no Senado. “Devemos a ela este debate saudável. Ela engrandeceu o PP”, disse, por exemplo, Mônica Leal.
Leal, como a maioria dos que manifestou apoio a José Fortunati, destacou motivos ideológicos para a opção. O vereador João Carlos Nedel chegou a dizer que seria incompatível para um católico como ele estar coligado a um partido comunista. “Como vou poder chegar na Paróquia Nossa Senhora da Graça, onde sou ministro da eucaristia?”, questionou. O ex-prefeito Guilherme Vilella leu trechos do programa do PC do B em que são citados Marx e Lênin, além de lembrar que, recentemente, o partido de Manuela D’Ávila fez gesto de solidariedade ao regime norte-coreano. Os defensores da aliança com Fortunati também apontaram a aprovação da atual administração.
Os que apoiam Manuela, por sua vez, ressaltavam que o partido não pode ser movido por preconceitos e que teria muito mais protagonismo na Região Metropolitana com a possível vice-prefeitura. “Amanhã é Dia dos Namorados. Manuela está nos pedindo em casamento. Para Fortunati, somos o segundo ou terceiro namorado”, brincou o deputado estadual Mano Changes. Celso Bernardi ressaltou que desde a primeira eleição municipal em Porto Alegre após a redemocratização o PP teve sempre candidato a prefeito ou a vice-prefeito. Além disto, lembrou que José Fortunati só é prefeito hoje porque o PDT entrou como vice na aliança com José Fogaça em 2008. O presidente estadual do PP também pediu fidelidade a Ana Amélia que, segundo ele, vem renovando o partido e já percorreu 112 municípios gaúchos desde que se elegeu senadora.
Ana Amélia fez rasgados elogios a Manuela D’Ávila, qualificando-a como firme, jovem, ousada, e lembrando que foi a deputada federal mais votada da história do Rio Grande do Sul. Disse que já conseguiu 20 mil novos filiados para o PP e que o partido, tido como rural e conservador, tem a chance de crescer na Capital. A senadora ressaltou que fez 400 mil votos em Porto Alegre e disse que teria bandeiras conjuntas com a comunista para fazer investimentos sociais, ambientais e transformar a Capital em polo tecnológico. A progressista deixou no ar também que a escolha seria um passo para que o PP governe o Rio Grando do Sul.
