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18 de junho de 2012
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08:38

“DEM fica a reboque de projeto centro-esquerda do PSDB”, critica Onyx

Por
Sul 21
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“DEM fica a reboque de projeto centro-esquerda do PSDB”, critica Onyx
“DEM fica a reboque de projeto centro-esquerda do PSDB”, critica Onyx
"O governo federal já foi capaz de construir uma Capital e hoje não é capaz de fazer reformas num aeroporto" | Foto: Diogo Xavier/Ag.Câmara

Samir Oliveira

O deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) é um fiel defensor de seu partido. Ele afirma que o Democratas dá um exemplo ao país ao expulsar filiados acusados de corrupção, como o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, e o senador Demóstenes Torres.

Mas o parlamentar gaúcho critica a falta de protagonismo do partido – referência da direita no país – na vida política nacional. “A centro-direita no Brasil não teve candidato nas duas últimas eleições. É preciso de candidatura para representar essa parcela importante da população brasileira”, observa.

Para Onyx, quando se trata de eleições nacionais, o DEM tem andado a reboque dos tucanos, que ele diz representarem um projeto de centro-esquerda. “O Democratas fica a reboque do projeto de centro-esquerda do PSDB, extremamente similar ao do PT. Evidentemente que as eleições ficam sem contraponto”, analisa.

Nesta entrevista ao Sul21, o deputado avalia o andamento dos trabalhos na CPI do Cachoeira, da qual ele faz parte, e comenta a adesão do DEM à candidatura do prefeito José Fortunati (PDT) à reeleição em Porto Alegre. O partido irá confirmar nesta segunda-feira o embarque no palanque pedetista.

“Estamos indo para um bloco de partido com amplo arco ideológico com o claro objetivo de impedir que o PT retorne à prefeitura”, explica.

“O DEM mandou um recado muito claro para os corruptos: Caiam fora do partido”

Sul21 – Como o senhor avalia o andamento dos trabalhos na CPI do Cachoeira?

Onyx Lorenzoni – A CPI, quando quebra os sigilos fiscal, bancário e telefônico da sexta maior empreiteira do Brasil, dá um passo gigante que em nenhum momento foi dado nos últimos 30 anos. Fala-se muito de corruptos e alguns deles já foram para a cadeia, muito menos do que eu acho que deveria ir. Mas fala-se muito pouco nos corruptores. Pelas análises da Polícia Federal e do Ministério Público, a Delta é um suposto corruptor. Esse vai ser um fato novo que a CPI vai poder revelar para o Brasil.

Divulgação / DEM
Onyx defende que partido lance candidaturas à Presidência da República | Foto: Divulgação / DEM

Sul21 – A investigação não fica prejudicada por disputas políticas entre o PT e o PSDB?

Onyx – As CPIs são feitas no âmbito de uma disputa política permanente entre oposição e situação em uma democracia. Isso tem que ser compreendido com naturalidade. Nesta semana, a oitiva dos governadores foi um fato raríssimo. Não tenho memórias de outros dois governadores que tenham vindo dar explicações em CPIs. Isso não é pouca coisa. É preciso ter paciência, a CPI dos Correios também foi permeada por muita disputa política e está aí, alguns anos depois, o julgamento do mensalão que será julgado no dia 1 de agosto no Supremo.

Sul21 – Quem conclusões o senhor acredita que a CPI poderá tomar?

Onyx – É muito cedo, ainda nem recebemos todas as quebras de sigilo. Há mais de 35 que tiveram seus sigilos fiscal, bancário e telefônico quebrados. Muito brevemente o banco de dados da CPI do Cachoeira vai permitir investigações para muito além daquilo que a Polícia Federal e o Ministério Público apontaram na operação Monte Carlo.

“A máquina administrativa foi completamente minada por pessoas sem experiência e sem qualificação, cuja única característica é serem partidárias do projeto liderado por Lula e Dilma”

Sul21 – E como fica a situação do DEM, já que um dos pivôs das denúncias, o senador Demóstenes Torres, era filiado ao partido?

Onyx – O partido é um exemplo de conduta. Toda vez que nos defrontamos com pessoas que eram ligadas ao partido em atos suspeitos de corrupção, não titubeamos. O Democratas afastou o Demóstenes, assim como no episódio do Distrito Federal afastou o governador. Nenhuma família ou instituição está isenta de que algum de seus integrantes acabe fora da linha. O problema é como a instituição lida com isso. O DEM mandou um recado muito claro para os corruptos: “Caiam fora do partido”. O que é completamente diferente da tradição política brasileira. Todos os partidos protegem, varrem a sujeira para baixo do tapete e depois que passa um certo tempo, fazem festa para receber corrupto de volta. Não é o caso do Democratas.

Antonio Cruz / ABr
Deputado acredita que Tarso inchou máquina pública e não cumpriu promessas | Foto: Antonio Cruz / ABr

Sul21 – Na sua avaliação, a oposição no país é mal articulada ou consegue fazer frente ao governo do PT?

Onyx – Numa eleição presidencial onde a diferença entre quem venceu e quem perdeu foi de 10 milhões de votos, e onde 30 milhões de pessoas anularam o voto ou não votaram, significa que há um potencial de crescimento político da oposição. O governo do ex-presidente Lula surfou numa onda de crescimento no mundo inteiro que afetou o Brasil e isso lhe deu duas vitórias eleitorais importantes, a de 2006 e a de 2010, com a presidente Dilma. Mas o cenário brasileiro na continuidade desse processo tem se demonstrado muito preocupante. Há uma incompetência na execução dos projetos, reconhecida pelo governo, que tem excesso de burocracia nas suas ações. A máquina administrativa foi completamente minada por pessoas sem experiência e sem qualificação, cuja única característica é serem partidárias do projeto liderado pelo Lula e pela Dilma. O governo federal já foi capaz de construir uma Capital e hoje não é capaz de fazer reformas num aeroporto. A Dilma confessa isso ao transferir aos estados a possibilidade de fazer obras de grande porte que o governo federal não consegue. Ou, se faz, acaba criando os grandes ralos de corrupção de onde escorrem algo em torno de R$ 80 bilhões por ano, que são tragados do dinheiro público para os corruptos e corruptores.

Sul21 – Nas eleições de 2010, partidos de centro, de centro-esquerda e de esquerda cresceram, como o PSB, que aumentou o número de governadores. E o DEM acabou diminuindo no Congresso Nacional. Por que a direita brasileira não consegue ampliar seu espaço no país?

Onyx – É porque a centro-direita no Brasil não teve candidato nas duas últimas eleições. É preciso de candidatura para representar essa parcela importante da população brasileira. Política é que nem pêndulo. Há dez anos atrás a Europa era uma coisa e hoje é outra. O pêndulo vai mudar e vai bater aqui também.

“Até agora, Tarso optou por inchar o governo e não cumprir a palavra dada no passado”

Sul21 – O DEM não tem apresentado candidaturas à Presidência da República…

Onyx – O partido tem que encarar isso. O Democratas fica a reboque do projeto de centro-esquerda do PSDB, extremamente similar ao do PT. Evidentemente que as eleições ficam sem contraponto. E entre o original e o genérico, pelo mesmo preço, né… Ficam com o original. O partido teria nomes fortes nacionalmente, como senador Agipino (Maia, DEM-RN), o Ronaldo Caiado (deputado federal de GO) e o ACM Neto (deputado federal da Bahia). Temos nomes que podem mostrar ao Brasil quem é possível um outro caminho. Vamos abrir esse assunto internamente logo após as eleições municipais, tenho certeza que iremos discutir com profundidade. Esse é o caminho para fazer com que o partido, talvez em menos de uma década, possa chegar ao poder no Brasil.

serra onyx
Onyx e Serra estiveram juntos em 2010 | Foto: Paulo Dias/Divulgação)

Sul21 – Qual avaliação o senhor faz do governo Tarso Genro?

Onyx – É um governo de muitas promessas e poucas realizações, mais tarde vai pagar o preço. O Tarso apoiava a PEC 300, de valorização dos policiais civis e militares, e assinou, como ministro, a lei do piso do magistério. Até agora, optou por inchar o governo e não cumprir a palavra dada no passado.

Sul21 – Por que o DEM decidiu apoiar o prefeito José Fortunati em Porto Alegre?

Onyx – Do jeito que a eleição de Porto Alegre está estruturada, pode ser decidida em primeiro turno. O DEM em 2010 acreditava que a eleição teria segundo turno e fomos surpreendidos por uma decisão em primeiro turno da qual ficamos de fora. O governador Tarso Genro ganhou em primeiro turno e 20 dias depois sofreu uma derrota. A presidente Dilma ganhou o primeiro turno com 500 mil votos de diferença e perdeu o segundo turno por 60 mil votos de diferença. Viramos em quase 600 mil votos quando toda a oposição se uniu. Se o PT voltar à prefeitura de Porto Alegre, terá hegemonia total, junto com o Palácio do Planalto e o Palácio Piratini. E o PT corre com duas candidaturas em Porto Alegre, a de Adão Villaverde (PT) e a de Manuela D’Ávila (PCdoB). Estamos indo para um bloco de partidos que tem um amplo arco ideológico com o claro objetivo de impedir que o PT retorne à prefeitura. Nossa posição política é para, no que for possível, decidir a eleição de Porto Alegre no primeiro turno.

“No momento em que Fortunati firma uma posição anti-PT em Porto Alegre, não há nenhuma contradição em apoiarmos esse lado”

Sul21 – Não lhe constrange o fato de o prefeito ter convidado o PT para compor o governo no ano passado?

Onyx – O prefeito estava tentando se viabilizar numa candidatura à reeleição. O fato de ele ter feito alguma sinalização ao PT faz parte dessa geleia geral que virou lamentavelmente o processo político brasileiro. No momento em que ele firma uma posição anti-PT em Porto Alegre – e isso é simbolizado quando ele reúne em sua coligação o PMDB, o PP, o PPS e o DEM -, quando ele resolve assumir um lado, não há nenhuma contradição em apoiarmos esse lado. É uma frente pluripartidária e plurideológica para impedir que o PT volte à prefeitura. O PT fez muito mal à cidade de Porto Alegre. Não queremos que ele volte e a maioria da população também não quer. Por isso o DEM vai integrar o voto que vai evitar a volta do PT na Capital.

Luiz Cruvinel / Agência Câmara
Deputado fará campanha para Fortunati em Porto Alegre | Foto: Luiz Cruvinel / Agência Câmara

Sul21 – Já estava praticamente acertada uma aliança com o PSDB em torno do deputado federal Nelson Marchezan Júnior. O que deu errado?

Onyx – As disputas internas do PSDB implodiram uma aliança que já estava acertada.

Sul21 – A ex-governadora Yeda Crusius, que protagonizou as brigas com o vice Paulo Feijó e o Democratas, patrocina a candidatura de Wambert Di Lorenzo contra Marchezan. O senhor acha que, além da inimizade com o deputado, Yeda também pode estar se movendo por ressentimento contra o DEM?

Onyx – O PSDB já tem problemas demais, não vou criar outro…


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