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12 de junho de 2012
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21:41

Consequências da decisão do PP em Porto Alegre

Por
Sul 21
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Benedito Tadeu César *

Vencida por José Fortunati (PDT), por um placar de 63 a 44, a votação realizada segunda-feira (11) à noite pelo diretório municipal do PP para a escolha do candidato a prefeito de Porto Alegre gerou consequências que ultrapassam o apoio manifestado à candidatura do atual prefeito municipal e que merecem ser analisadas.

A primeira e mais óbvia delas é o destaque midiático obtido pelo PP e a valorização que lhe foi atribuída como parceiro eleitoral. A segunda é a perda, mesmo que momentânea, da posição de protagonismo desfrutada, até aqui, por Manuela D´Ávila (PCdoB). A terceira é a ameaça de um racha partidário envolvendo as alas comandadas, de um lado, pela senadora Ana Amélia Lemos e, de outro, pelos vereadores João Dib e João Carlos Nedel.

Com o apoio, Fortunati agregará mais 1,40 minutos no seu tempo no horário eleitoral gratuito de rádio e tevê, fazendo com que ele possa vir a ser igual à soma de todos os seus adversários, e manterá unida a base partidária que compõe o atual governo. Com isto, os cargos e secretarias municipais atualmente ocupados pelo PP continuarão com o partido até as eleições e, em caso da reeleição do atual prefeito, além de mantidos, serão ampliados.

Fortemente ancorado em uma aliança que congrega importantes partidos de centro-esquerda (PDT), de centro (PMDB) e de direita (PP), além de outros sete partidos de menor porte no município e que poderá ser ainda ampliada com a adesão do DEM, Fortunati tornou-se hoje o candidato melhor equipado para as eleições municipais em Porto Alegre. Além da estrutura e da militância dos partidos aliados em torno de sua candidatura, Fortunati contará também com as facilidades advindas do controle que exerce, como prefeito, sobre a máquina administrativa municipal.

Manuela D´Ávila, por seu turno, que contava com o apoio do PP para minimizar o peso conferido pelo C, de comunista, que compõe a sigla de seu partido e que espanta o eleitorado mais conservador, vê-se agora relegada, pela primeira vez durante este período pré-eleitoral, a uma posição secundária. A perda de espaço junto ao PP leva-a a ter que explicar e minimizar a derrota sofrida. Além de preterida na votação de segunda-feira, Manuela terá que explicar, para o eleitorado mais progressista e frente aos ataques que serão desferidos pelos partidos à esquerda, os motivos ideológicos que a levaram a negociar o apoio do PP.

Ainda que Manuela tenha grande chance de se recuperar do revés sofrido agora, são respeitáveis as dificuldades que ela terá que superar para atingir o intento de se eleger prefeita de Porto Alegre. Sem considerar aqui os recursos financeiros que sua campanha possa vir a obter, o pouco tempo de propaganda de rádio e tevê de que disporá, somado à pequena estrutura partidária e ao reduzido número de militantes que terá à disposição de sua campanha, já que somam apenas três os partidos que a apoiam até aqui (PCdoB, PSB e PSD), constituem obstáculos que exigirão enorme competência político-eleitoral para serem vencidos.

O PP, que ameaça rachar internamente, em virtude da disputa e do placar desfavorável aos desígnios da senadora Ana Amélia Lemos, sua liderança maior, só terá algo a temer caso Fortunati seja derrotado nas próximas eleições. Isto fará com que o partido fique sem os cargos e as secretarias municipais que dispõem hoje em Porto Alegre. No mais, mesmo com a ameaça de que a ala derrotada na votação de segunda-feira não se submeta à decisão da maioria, o PP encerrou o dia de ontem com um enorme ganho político. A possibilidade de sanar as feridas que se abriram na disputa e de ampliar os lucros obtidos até aqui dependerá apenas da capacidade política e pessoal dos próprios pepistas.

Se a ala derrotada continuar insistindo em apoiar, à revelia da decisão partidária, a candidatura de Manuela D´Ávila, os pepistas correrão o risco de ver aprofundadas as cisões e, ao mesmo tempo, de ver ampliadas as possibilidades de derrota de José Fortunati. Caso isto ocorra, as consequências serão nefastas para o PP e seus militantes, que serão despejados dos cargos e das secretarias municipais que ocupam hoje. Com o aprofundamento dos desentendimentos internos, diminuirão também as chances de sucesso da candidatura, já posta, de Ana Amélia Lemos ao governo do estado.

Cabem, por fim, algumas reflexões a respeito das consequências geradas pela decisão tomada pelo PP sobre a candidatura de Adão Villaverde (PT). Ainda que Villaverde e seu partido não tenham participado diretamente dos acontecimentos, como integrantes que são da disputa pela Prefeitura de Porto Alegre, eles são afetados pelas movimentações dos demais contendores. A definição de campos político-eleitorais ocorrida na segunda-feira, com a Fortunati tendendo para a direita e Manuela sendo empurrada para a esquerda, ainda que à sua própria revelia, faz crescer a possibilidade de Villaverde ocupar o espaço da centro-esquerda.

A aproximação entre Villaverde e Manuela, com a união de forças para fazer frente a Fortunati, se apresenta como uma estratégia eleitoral possível de ser adotada por ambos. Ainda que a integração das chapas e a composição de uma aliança no primeiro turno esteja fora da cogitação do PT e pareça já ter sido excluída das pretensões do PCdoB e do PSB, o combate a Fortunati, colando-o à direita ideológica e apresentando alternativas à esquerda, deverá ser o foco das campanhas destes dois partidos. Atuando em conjunto desde o primeiro turno, ficará assegurado que aquele que se sair melhor no primeiro turno receberá o apoio do outro no segundo.

Será o desenrolar da campanha que demonstrará se as feridas abertas no PP estarão curadas e se as estratégias eleitorais de cada partido se concretizarão. É, ainda, muito cedo para se antevejam resultados. O que se sabe é que a disputa já está em curso e que ela terá consequências imediatas e futuras. Ela será vencida pelo contendor que demonstrar maior habilidade para conquistar o eleitorado, convencendo-o de ser o portador das melhores propostas e com a maior chance de realizar um bom governo. Qualquer que seja o seu resultado, ele influirá nas eleições de 2014, para o governo estadual e o nacional.

. oOo.

Benedito Tadeu César é cientista político especializado em análise política, partidos políticos, pesquisas de opinião pública e comportamento eleitoral e é também diretor executivo do Sul21.


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