Colunas>Paulo Timm
|
19 de junho de 2012
|
08:57

A Marcha da Insensatez

Por
Sul 21
[email protected]

“E quando a alma se opõe ao conhecimento, ou opinião, ou razão, que se constituem em suas leis naturais, a isso eu denomino insensatez.”(Platão)

O Xingu, como já foi comentado neste espaço, é hoje uma ilha de biodiversidade entre o cerrado e a floresta amazônica, cercada por pastos e plantios de soja. E naqueles dois biomas estão dois terços, pelo menos, da rica biodiversidade brasileira, que pode chegar a uns 15% do total mundial e se vai perdendo em alta velocidade” . (Washington Novaes )

 “Estou trabalhando com o conceito: belezas que estamos perdendo. Não estou trabalhando o conceito de destruição. A proposta é causar o conforto e ao mesmo tempo o desconforto. Conforto na paz que a natureza nos proporciona e desconforto quando encaramos a destruição produzida pelo homem”. ( Siron Franco, artista plástico, Rio+20).

Há algum tempo, li o livro de uma historiadora americana, Barbara Tuchman – “A Marcha da Insensatez” , Ed. José Olimpio, RJ, 2ª edição, 1986– , que muito me impressionou. Demonstra ela que , por razões alheias à própria razão, desde tempos imemoriais, grandes nações entram em colapso porque seus líderes não conseguem tomar as decisões indispensáveis à correção de rumos. Não só governos, também poderosas instituições, como a Igreja Romana. Ela visita diversos autores clássicos em busca de uma explicação para a insensatez e, em todos, percebe que cedo advertiram para o risco de ela impor-se por causa dos delírios da alma humana – o poder pelo poder, preguiça, corrupção:

Platão (…) desesperadamente desejou o homem agarrado “à sagrada corda de ouro da razão”, mas, afinal, ele também compreendeu que os seres humanos encontravam-se ancorados à vida

dos sentimentos, balançando como joguetes entre as ondas dos desejos e terrores que os fazem dançar e dançar. Quando o desejo entra em desacordo com o julgamento da razão, concluiu, a alma encontra-se doente. ‘ E quando a alma se opõe ao conhecimento, ou opinião, ou razão, que se constituem em suas leis naturais, a isso eu denomino insensatez ’.”

O livro me vem à baila diante da Rio+20, cujos pífios resultados diplomaticamente “emagrecidos”, segundo nosso Lord Chanceler, prenunciam o fracasso do Encontro, que, na verdade, jamais prometeu muito. Vinte anos depois da consagração do conceito de sustentabilidade, na Eco-92, o desenvolvimento mundial está em crise justamente por não preencher os requisitos deste conceito: Não foi eficiente, não se redistribui com equidade – pelo contrário! – e pouco realizou da Agenda 21, síntese de exigências de valorização ambiental. Talvez , segundo alguns , não tenhamos regredido, mas avançamos pouco. O que mais avançou foram as iniciativas não governamentais de sustentabilidade, tanto no campo da tecnologia de energias renováveis, como nas áreas de direitos humanos e defesa ambiental. Não obstante, o panorama para o futuro é sombrio. A se manterem as expectativas e padrões de consumo dos BRICs, mais Africa do Sul, Irã, Turquia e México, nos mesmo moldes energívoros que os países ditos desenvolvidos atuais, o Planeta virá abaixo. A China está, surpreendentemente, mais atenta ao problema e seriamente envolvida, tanto em um programa de controle populacional , como de elevação da eficiência energética de seu parque de produção e consumo. Dentro de 20 ou 30 anos deverá apresentar um perfil de consumo energético correspondente à metade dos ditos desenvolvidos. Não obstante, a impressão que todo mundo tem é que nenhum Governo está levando o assunto a sério. Como diz Mauro Santayana em seu comentário de hoje, na Carta Maior – “O neoliberalismo e a morte da Terra “ – www.cartamaior.com.br – :

Ao que parece, o homem está à espera de uma catástrofe – como foi a peste negra, no século 14 – a fim de compreender as dimensões de seus erros. O que está matando o mundo, hoje, é a peste da ganância do capitalismo, que transformou a razão científica em mera servidora do dinheiro, principalmente a partir do neoliberalismo.”

Dir-se-á que o momento não era o mais apropriado para discutir uma mudança de perfil no processo de modernização em escala mundial. A crise econômica é aguda, os Governos estão falidos e ameaçados politicamente, não há clima para mudanças estruturais. Os economistas, os principais intérpretes da conjuntura, até que se mobilizam, mas sem se pretender que chegassem a um consenso, sequer conseguem mobilizar a opinião pública em torno de suas teses. A sociedade organizada não gosta de teses, prefere defender interesses. E a desorganizada, é amorfa. Assim, os economistas continuam divididos , como na década de 30 (sec. XX), entre os mais conservadores, que culpam Governos perdulários pelos déficits, promovendo uma Cruzada de Austeridade Fiscal, e os ditos desenvolvimentistas, de inspiração keynesiana, para os quais a saída, ao contrário, são mais Investimentos Públicos. O grande palco dessa discórdia, até aqui, foi a França, no qual saíram vencedores os últimos, elegendo um Presidente Socialista, levando alguns a suspirarem, como nas cenas finais ao pé do avião , em “Casablanca”: Nós sempre teremos Paris…Mas surpreendentemente, dia 17 de junho, na combalida Grécia, a direita venceu, para gáudio dos liberais que proclamaram: No berço da democracia os valores liberais prevaleceram! E entre um e outro, ou entre um ou outro, ninguém sabe, ainda, o que acontecerá num futuro próximo.

Tudo indica que a crise econômica é profunda e será duradoura. Não apareceu, ainda a fórmula mágica da reação. O “queridinho”dos mercados globais nos últimos , o Brasil, que combinou a satisfação dos apetites financeiros internacionais, à razão de quase metade do Orçamento da União como pagamento de juros e rolagem da dívida pública interna, com o aumento do consumo interno, graças à elevação dos salários mínimo e médio, combinado às migalhas da Política Social, começou a claudicar. Está virtualmente estagnado. E já não inspira confiança. Teme-se o pior…

Tudo, pois, indica que se este não era o momento, o momento é este mesmo. Como diria o grande historiador russo Herzen: A hora é sempre agora. Ou nunca…! E no mesmo diapasão, outro eslavo – et pour cause – Zarko Petran: Os historiadores distorcem o passado; os ideólogos o futuro.

Mas não vou me deter nas grandes questões planetárias, nem mesmo gerais do desenvolvimento (in)sustentável. Elas estão sendo amplamente debatidas na Rio+20 e breve se transformarão em artigos, livros, conferências e debates.

Detenho-me , no decorrer e comenos, segundo Guimarães, por razões da própria alma, que Platão entenderia , sobre o Cerrado.

Vivi mais da metade da minha vida no Planalto Central, habitat do cerrado, vasto eco-sistema que ocupa 24% do centro do território nacional. Um tempo em Brasília, pouco familiarizada, por defeito de fabricação modernizante, com esse eco-sistema. Outro tempo, em Goiás, cuja cultura, em todos os sentidos, do antropológico ao ambiental, foi cedo banida da Nova Capital, por estranha ao que ali se pretendia. O episódio marcante dessa exclusão da goianidade sobre Brasília foi a decisão de JK, à época ainda da construção da cidade, de despachar o Vice-Governador de Goiás, Bernardo Sayão, que gentilmente lhe recebera na pista improvisada ao lado do Catetinho, para abrir a Belém-Brasília. Longe…Onde iria encontrar a morte sob uma árvore tombada .

Quando lá cheguei, em 1973, vindo de muitos passos, o centro-oeste me era um grande enigma, tanto quanto os livros de Guimarães Rosa, cuja paisagem e linguagem interligam o inconsciente de Minas, Goiás e sul da Bahia, terras todas cobertas pelo cerrado:

Geonésio e Mariazita a meios olhos perante o refulgir por todo o branco. Acontecia o não fato, o não tempo. Silêncio e sua imaginação. Só um e outro, uma em si juntos. O viver em ponto sem parar. Coração-mente. Pensamento. Avançam parados dentro da luz. Com se fosse no dia de todos os pássaros…”

Era, com efeito, uma região parcamente povoada, sem grande expressão econômica e de comentada violência.

Mas “destino, é quando menos se espera” e precisamente, neste momento, estoura a crise do petróleo, levando ao colapso o chamado “Milagre Brasileiro” ( Curioso é que a cada espasmo ascendente do PIB as elites governantes sempre procurem capitalizar em proveito político próprio estas flutuações…) Em menos de dez anos o petróleo passa de US$ 2,50 o barril, para mais de US$ 30, estrangulando todas as economias importadoras do produto. Brasil inclusive. Preocupado, o Governo Federal se recompõe deste baque que repercutiria na grande derrota das eleições ao Senado Federal, em 1974. (Afinal há sempre um tiro de surpresa pra se dar) E intensifica os esforços para aumentar as exportações de grãos, de forma a financiar os déficits provocados pela manutenção de altos volumes da entrada de petróleo. E ainda persegue o trunfoda “Economia em Marcha Forçada”, como denominou o Mestre Antonio Castro em seu livro com este título: Monta uma indústria petroquímica sofisticada no país, cujos subprodutos iriam alimentar, tanto as carroças urbanas das montadoras multinacionais, para a felicidade do ir a vir de carro nas grandes cidades, quanto os insumos básicos do agro-business, os quais, mercê da rápida incorporação da tecnologia, levariam a fronteira agrícola para os confins do centro-oeste. Este processo foi magistralmente exposto pelo Economista Marco Antonio Campos Martins- Phd Chicago –IPEA- em inédito trabalho de pesquisa: O Impasse – www.aeconomiadobrasil.com.br.

Começava aí a ocupação desordenada e brutal do cerrado e da Amazônia, num ritmo febril que mereceu cuidadosos estudos do antropólogo Otavio Velho. Ali, e não em Brasília, se dava o processo de interiorização do qual a transferência da capital havia sido mero emblema. E era o preâmbulo do fim do cerrado, e como tal, a inaguração da morte e do medo, como bem intui o poeta goiano/brasiliense Salomão Sousa

Todo preâmbulo inaugura o medo.
São as luas, os rochedos ou
os abismos voluntários.
Permanecem pelos séculos
a dominar o infinito ou
a encher de orgias
a permanência e a cárie.”

Como principal resultado, salva-se o regime militar, prometendo uma transição “lenta , segura e gradual” , sob os aplausos de uma privilegiada classe média e das miseráveis populações das regiões mais empobrecidas do país, beneficiadas pelo FUNRURAL e outros programas sociais homeopaticamente administrados. A tal ponto, que, mesmo depois da Anistia de 1979, da reorganização partidária com ampla liberdade de organização e representação que lhe sucedeu, da vitória da Oposição com Brizola no Rio de Janeiro, Tancredo Neves em Minas Gerais e Franco Montoro em São Paulo, em 1982, e dos milhões de pessoas nos Comícios das “Diretas Já” por todos o Brasil entre 1983 e 1984, quando a Emenda Dante de Oliveira que fixava a data para as Eleições Presidenciais vai à votação no Congresso Nacional, o Governo a derruba. Ganha a parada. E só se dá a passagem para um Governo civil, no ano seguinte, graças às estrepolias do candidato situacionista, Paulo Maluf, que abrem espaço de manobra para a hábil candidatura, vitoriosa, Tancredo/Sarney, num espúrio Colégio Eleitoral.

Enquanto isto, continua o dilurimento da correria para o Centro Oeste e Amazônia, com incentivos fiscais da SUDAM, créditos subsidiados e concessões de imensas áreas rurais, numa época que quase ninguém, salvo os sacrossantos conservacionistas tradicionais, falavam em preservação da natureza.

Vi isso, durante as décadas de 70, 80, 90 e início deste século, quando já morava numa “corrutela” nos arredores de Pirenópolis/GO: Olhos d Água.

Vi tratores por todo lado, derrubando as árvores retorcidas até os imensos valões abertos à beira da estrada de chão, onde ali ficavam meses apodrecendo, enquanto os campos se abriam à soja e ao milho.

 

Vi centenas de antigos sitiantes sendo apertados nos seus lugarejos onde já viviam seus avós, por fazendeiros ilustres, ansiosos de ampliar suas lavouras e criações, desabando andrajosos sobre as pequenas cidades à volta. Filhos e filhas analfabetas candidatando-se rapidamente à vida do crime, em busca do sustento nas cidades para onde escapavam. Ouvi-os baterem à minha porta, sem que nada eu pudesse fazer. Só reler nostálgica e solitariamente Drummond em “Cidadezinha qualquer” (1930)

Vi pomposas camionetes Of Road invadindo cidades e transformando o caráter do comércio local, rapidamente convertido em Agro Pecuárias de renome e grande porte.

Vi o cerrado ir morrendo. E todo mundo dizendo: Não servia mesmo para nada. Isso aqui era um “deserto”. O próprio JK, curiosamente, já havia sacramentado, desde seu discurso na inauguração de Brasília, esta idéia de “cidades mortas” que renasceriam do “sertão bruto”:

Quando aqui chegamos, havia na grande extensão deserta apenas o

silêncio e o mistério da natureza inviolada. No sertão bruto iam-se

multiplicando os momentos felizes em que percebíamos tomar formas e erguer-se

por fim a jovem Cidade. Vós todos, aqui presentes, a estais vendo, agora,

estais pisando as suas ruas, contemplando os seus belos edifícios, respirando

o seu ar, sentindo o sangue da vida em suas artérias.

Somente me abalancei a construí-la quando de mim se apoderou a

convicção de sua exeqüibilidade por um povo amadurecido para ocupar e

valorizar plenamente no território que a Providência Divina lhe reservara.

Nosso parque industrial e nossos quadros técnicos apresentavam condições

e para traduzir no betume, no cimento e no aço as concepções arrojadas da

arquitetura e do planejamento urbanístico modernos.

(JK – 21 de abril de 1960 )

Vi, enfim, o que jamais queria ter visto: A agonia de uma região, a morte de um bioma, o fim de uma era, em benefício de um progresso discutível que se exime de quantificar as perdas em biodiversidade, contaminação ambiental e degradação social no seu curso.

Não obstante, o cerrado tem uma importância vital na articulação dos sistemas Atlântico e Amazônico, operando como uma espécie dobradiça na cumeeira das grandes bacias hidrográficas dos país. Paulo Bertran, economista e historiador da região, autor de inúmeros livros, alertou-me para este fato, no início dos anos 80. Washington Novaes, prestigioso ambientalista, costuma afirmar que o cerrado é uma floresta invertida, cuja riqueza em biodiversidade é imensa, mas pouco visível, frente às imponentes Matas Atlântica e Amazônica, levando ao descaso de autoridades e opinião pública. Ele cita o competente agrônomo Eduardo Assad, da Embrapa (Estado, 2/10):

“A riqueza que temos guardada na biodiversidade do cerrado é mil vezes superior à da agricultura” .

À crise do petróleo, respondemos com a abertura da fronteira agrícola para a produção em larga escala de commodities. E reforçamos o modelo “fazendão” nos anos subseqüentes, na expectativa de alavancar, com isto, um processo de real desenvolvimento, mas ao preço do desmatamento:

Segundo o ministério, até 2008 foi desmatada 47,84% da área originária do Cerrado, que representa 24% do território brasileiro. E, de 2002 a 2008, a taxa de desmatamento nesse bioma significou o triplo da observada na Amazônia em 2008. Seriam, nesse período, 85.075 quilômetros quadrados desmatados no Cerrado, como escreveu neste jornal Lígia Formenti (17/3), com base em dados do ministério, que nos últimos meses os modificou mais de uma vez. E as causas do desmatamento estão, diz o ministério, na pecuária extensiva, no avanço da soja e da cana-de-açúcar e no uso de carvão vegetal principalmente por siderúrgicas.

http://www.ecodebate.com.br/2010/04/06/amazonia-e-cerrado-desta-vez-vai-mesmo-artigo-de-washington-novaes/

A conseqüência foi ambientalmente desastrosa, liquidando praticamente metade do cerrado e do estilo de vida sobre ele :

IBGE revela que cobertura original do Cerrado foi reduzida pela metade

Segundo pesquisa, estados que mais desmataram foram Mato Grosso, Maranhão e Tocantins

01 de setembro de 2010 | 10h 12

Gabriela Moreira e Felipe Werneck – Estado de S. Paulo

RIO DE JANEIRO – A cobertura original do Cerrado foi reduzida praticamente à metade no País, de 2.038.953 km² para 1.052.708 km², com área total desmatada de 986.247 km² (48,37%) até 2008. Somente entre 2002 e 2008 foram destruídos 85.074 km2 (4,18% do total). É o que revelou nesta quarta-feira, 1, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sua pesquisa “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável”, referente ao ano de 2010.

que o IBGE usa dados do Cerrado no IDS.

http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,ibge-revela-que-cobertura-original-do-cerrado-foi-reduzida-pela-metade,603567,0.htm

Com a liquidação do cerrado, em benefício do agro-business não se perde apenas um caudaloso manancial de biodiversidade. A grande calha hidrográfica sobre a qual o cerrado desenvolveu-se ao longo de milênios, também vai sendo contaminada. E na grande luta do futuro pela água vamos perdendo um de nossos grandes trunfos: a água abundante. Além da agricultura outros empreendimentos vão contribuindo para a perda de vitalidade do cerrado, sem que as autoridades nada façam:

Há poucos dias (21/3), o jornalista João Domingos documentou a destruição de parte do riquíssimo Parque Estadual do Jalapão, no Tocantins, por uma série de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Já há no País 359 em operação, mais 72 em construção e 145 outorgadas. Karina Ninni documentou (22/3) que a instalação de 116 PCHs ameaça o Pantanal, principalmente na Bacia do Alto Paraguai. E tudo se fez e faz – como tantas vezes tem sido escrito aqui – com licenciamento e sem discutir a real necessidade de cada empreendimento no âmbito de uma matriz energética – esta, por sua vez, decidida sem informar e ouvir a sociedade, as universidades e especialistas que divergem do modelo oficial.”

Washington Novaes – Amazônia e Cerrado: desta vez vai mesmo? Artigo originalmente publicado no O Estado de S.Paulo e republicado em EcoDebate, em 06/04/2010

http://www.ecodebate.com.br/2010/04/06/amazonia-e-cerrado-desta-vez-vai-mesmo-artigo-de-washington-novaes/

Vai-se um patrimônio incomensurável em biodiversidade, desfaz-se a morna mansidão goiana e de outras áreas de cerrado, que se estende até o Amapá, comprometem-se as nascentes das grandes bacias do país , mas, acima de tudo, perde-se a beleza sutil das delicadas flores do cerrado. Nessa época do ano florescem os ipês roxos que sobreviveram e que ainda podem ser vistos, esparsos, ao longo das estradas. Depois deles virão os amarelos e , por fim, os brancos. Mas nas plantas rasteiras e folhagens a seca coincide com a rica floração, surpreendendo os observadores mais atentos e artistas talentosos como Therèze Behr, autora de um belo álbum com suas aquarelas, editado pela Ed. Paralelo 15. Vítima de uma inundação, fiz das páginas que me sobraram de um deles, belos quadros que enfeitam ainda hoje as minhas paredes. De todas elas, enamorei-me pela caliandra. Encantadora. É a rosa do cerrado. Encarnada, sob diversas expressões, desde o vermelho gritante, até outras variantes em degradés, culminando num nacarado com listras brancas irregulares, sem pétalas, apenas suaves e doces raios florais.

Caliandra

Tudo isso, por conta da insensatez em sua inexorável marcha rumo à destruição de civilizações, da natureza, do imaginário dos homens.

Como testemunha deste verdadeiro crime registre-se a importância da instingante Exposição “A arte a favor do Cerrado”, na Rio+20, na qual diversos artistas goianos atenderam ao chamado de Siron Franco mostrar a casa ameaçada.

http://ecodatainforma.wordpress.com/2012/06/12/a-arte-a-favor-do-cerrado-na-rio20/

A exposição pretende aguçar os sentidos dos visitantes, a videoconferência sensorial Brasil Cerrado.

Criada pelo artista plástico Siron Franco, nascido em Goiás, a obra teve como inspiração as belas fotos do também goiano Rui Faquini, que há 40 anos registra as belezas e peculiaridades do bioma. A proposta da amostra é aproximar o visitante dos encantos do Cerrado e chamar a atenção para a devastação e o desmatamento que acontece na região.

O convite para participar da Conferência Rio+20 foi feito pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, em visita à Goiás quando participou de seminários a favor da conservação do Cerrado, em 2011. Siron aceitou o desafio e convidou o amigo fotógrafo. ”

Uma área montada com mais de 600m², distribuída em quatro salas e dois mega-painéis foi instalada permitindo que flora e fauna do Cerrado sejam sentidas sensorialmente pelos visitantes, através da percepção de aromas, visualizações eletrônicas, esculturas, fotos e textos, com sons regionais.

Adiante, o visitante atravessará um corredor de fogo e finalmente vai se defrontar com destruição do Cerrado com acesso visual a mapas da degradação, em tempo real, via satélite, diretamente do site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Vão-se, pois, os acontecimentos, ficam as sensações. Daqui a alguns dias ter-se-ão esvaído as ilusões sobre a Rio+20, mas criou-se, ali, mais uma vez, outra grande oportunidade para o Encontro de iniciativas e lideranças ambientais. Essa sinergia é fundamental para que o tempo não pare. Os Governantes, como sempre, darão pomposas entrevistas ao voltar para casa, justificando-se: “Nós não podíamos fazer mais do que isso!”. E nós, prosaicamente, replicaremos : “Então, o que estão fazendo aí ?” E cantaremos nossa indignação.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora