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28 de junho de 2012
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18:10

A favor de Maluf (e contra Lula?)

Por
Sul 21
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Benedito Tadeu César*

Estardalhaço. Lula visita Maluf e posa para fotos em busca de apoio ao candidato do PT em São Paulo, Fernando Haddad. Inimigos históricos e irreconciliáveis desde o final da ditadura militar, eles agora estão juntos, afirma a mídia. O Datafolha faz pesquisa e constata que 64% dos eleitores petistas desaprovam o acordo Lula/Maluf.

Nada é bem o que parece. Procurado pela Interpol em 182 países, Paulo Salim Maluf, liderança maior do PP em São Paulo e no Brasil, vinha sendo disputado pelos partidos e lideranças políticas paulistas. Na mesma semana em que recebeu Lula em sua casa, Maluf foi procurado por José Serra e já fora noticiado que seria do tucano o seu apoio. Nem por isto, houvera escândalo, ranger de dentes e exploração midiática do fato.

Sem dúvida, os eleitores do PT não gostam de Maluf e não votariam em um candidato indicado por ele, assim como os eleitores do PSDB não gostam dele e não votariam em um candidato que ele apoiasse. No entanto, Maluf já manifestou apoio a Lula e ao seu governo, assim como já fizera antes com Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alckmin e faz hoje com Dilma Rousseff. O PP, partido de Maluf, integra a coalizão que apoia o governo Dilma, assim como integra a administração de Canoas e a de Porto Alegre, para não se ir muito longe.

Em uma eleição, o feio é perder, já dizia Paulo Maluf, nos idos de 1989, quando ele concorreu à presidência da República. É esta a lógica que move hoje os partidos políticos. O pragmatismo. Lula, Maluf, José Serra, Fernando Haddad, Dilma Rousseff, Marina Silva, Tarso Genro, Raul Pont, Manuela D’Ávila, Ana Amélia Lemos, José Fortunati, Jairo Jorge da Silva e Beth Colombo  e, ainda, Kátia Abreu e o PV jogam todos no mesmo time, em se tratando de eleições e da busca da vitória.

As grandes ideologias, que deram sentido aos partidos políticos do final do século XIX e da primeira metade do século XX, perderam força com a queda do Muro de Berlin e o colapso do bloco soviético. Com o fim da Guerra Fria, tiveram fim também as polarizações. As militâncias partidárias, que estruturaram as disputas eleitorais e ideológicas ao longo daqueles períodos de séculos, arrefeceram. Perderam força porque deixaram de existir as condições que deram origem e significado aos partidos políticos, ao alinhamento partidário e aos embates ideológicos. O mundo dividido entre proletários e burgueses foi substituído pelo mundo da expansão das classes médias e do consumo, mesmo que a exploração econômica não tenha desaparecido.

Muito além (ou seria muito aquém?) das ideologias, vive-se hoje o momento da política espetáculo e daquilo que alguns autores tem chamado de “democracia de público”. Neste tipo de democracia, as decisões de voto se dão a partir do que está em jogo numa eleição específica e não das características socioeconômicas e culturais dos eleitores. Predomina uma dimensão reativa do voto: os eleitores reagem às distinções e identidades propostas pelos candidatos. São as imagens que determinam a escolha dos líderes, sejam da pessoa do candidato, da organização ou do partido.

Por este conjunto de motivos, é tão importante o tempo que cada partido e cada político têm de exposição na mídia e, numa eleição, o tempo de que eles dispõem no Horário Eleitoral Gratuito. É por este motivo que Lula e Serra e Haddad correm atrás de Maluf, que Manuela e Fortunati correram atrás de Ana Amélia Lemos, que Adão Villaverde corre atrás do coronel Arlindo Bonetti. Todos querem, precisam, agregar tempo ao horário eleitoral gratuito de que disporão durante a campanha. Quem não faz assim, como o PSOL e o PSTU, fica de fora. Corre atrás, sem chance de vitórias.

Vivemos um momento de transição. O formato representado pelo partido político, tal como o conhecemos anteriormente, já não mais se adéqua à forma social existente e, por este motivo, não mais responde aos anseios e às necessidades dos eleitores/cidadãos. Este mesmo motivo leva à  aparência de crise constante e de esfacelamento das instituições políticas e leva (quase) todos à descrença e ao desalento. Será preciso encontrar algo que substitua a forma partidária atual e o modo como se faz política hoje. Será a própria sociedade, no entanto, em seu processo contínuo de transformações, que forjará o novo modelo de atuação política.

Enquanto a nova forma não surgir, com a emergência de um novo tipo de instituição política, seria prudente, no entanto, que não nos desesperássemos nem déssemos sentido para as explorações oportunistas de parte da imprensa, que iluminam algumas facetas de alguns “escândalos” e deixam outros sem exposição. Poderíamos, também, começar por nos envolver mais com as atividades políticas e exigir mudanças na legislação eleitoral e partidária brasileira.

Se fossem criadas exigências maiores para a eleição de representantes, além do coeficiente eleitoral, se fossem proibidas as coligações eleitorais para cargos proporcionais e se fosse implantado outra fórmula de cálculo de distribuição do tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, mesmo que não se alterasse a forma de apresentação de chapas e de financiamento de campanhas, já estaríamos dando um passo importante para impedir as alianças meramente eleitorais, para dificultar a venda de apoios e, com isto, tornar as eleições mais representativas da vontade dos eleitores.

. oOo.

Benedito Tadeu César é cientista político especializado em análise política, partidos políticos, pesquisas de opinião pública e comportamento eleitoral e é também diretor executivo do Sul21.


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