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22 de maio de 2012
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13:20

CPI do Cachoeira – a mensagem de celular diz tudo

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Sul 21
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O cinegrafista do SBT deve ganhar um prêmio. Ele deu um flagrante num dos principais líderes do PT. Provou a operação política para impedir que a CPI realize um trabalho sério e investigue o governador fluminense. Com um movimento rápido e preciso, filmou a mensagem que Cândido Vaccarezza, deputado federal do PT e ex-líder do governo Dilma na Câmara dos Deputados, enviou por celular para o governador Sérgio Cabral: “A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu” (sic). O PT deixava claro que iria garantir a não convocação do governador na chamada CPI do Cachoeira. Essa CPI, aliás, já tem se mostrado a CPI mais lenta dos últimos vinte anos. Não podia ser diferente: PT e PSDB têm um pacto para que tudo termine em pizza.

Eu sei que isso é algo pesado para quem é petista histórico, quem viu e ajudou o partido a crescer como expressão da luta contra a corrupcão e contra as operacões abafas de inúmeras CPIs. Mas infelizmente a situacão mudou. O PT não é mais o mesmo por mais que ainda tenha pessoas honestas e combativas entre os seus apoiadores. A situação é tão grave que o atual líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto, declarou que nada disso tem tanta importância assim, “porque do ponto de vista prático, não tem utilidade nenhuma” (Zero Hora – 19.05.12). Acredite se quiser. Sobre a atitude de Vaccarezza, o líder do PT não teve como esconder: “foi uma prestação de serviço para se credenciar junto ao governador” (idem). Isso sim é verdade. Só que a mensagem não revelava apenas uma ação individual. Expressa a política do PT na CPI.

Para não deixar nenhuma dúvida de que não há nenhuma vontade política do PT em combater a corrupção, não pode existir nada mais simbólico do que o advogado de defesa do Sr. Carlos Cachoeira: o ex-Ministro da Justiça do primeiro governo federal petista, o advogado Márcio Thomaz Bastos. Não esquecemos que foi Bastos o advogado que orientou o PT quando foi revelado ao país o esquema do mensalão. É claro que sempre tem aqueles que podem defender o PT de qualquer forma, e dizem que o mensalão não existiu e que todo o acusado tem direito de defesa. Quanto ao direito de defesa, efetivamente todos têm direito. Mas mais certo ainda é que o advogado – ainda mais em se tratando de um advogado com vínculos públicos com governos e partidos – pode escolher quem vai defender. O ex-Ministro da Justiça do governo do PT aceitando defender um chefe da corrupção é ainda mais revelador do que as lentes do cinegrafista do SBT. Quanto aos que dizem que o mensalão não existiu, não vale a pena perder tempo com eles: são os que não se importam com argumentos.

O que evidente neste início de CPI é mais uma vez o compromisso da direção do PT em sustentar um regime político cujos partidos estão a serviço do enriquecimento dos seus líderes, que socialmente representam apenas os interesses de grandes empresas capitalistas, latifundiários e banqueiros. A aliança com Sérgio Cabral, governador do PMDB, é uma expressão dessa política. A ironia da história é que o político que divulgou as fotos e filmes da farra de Cabral e do ex-presidente da Delta, é o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho. Foi para apoiar Garotinho como candidato ao governo fluminense, em 1998, que a direção nacional do PT, comandada por José Dirceu, decretou intervenção na regional petista do Rio de Janeiro que havia escolhido Vladimir Palmeira como candidato ao governo. Aquela intervenção representou o primeiro passo irreversível em direção à transformação do PT em um partido semelhante aos partidos tradicionais da burguesia. Hoje Vladimir Palmeira, histórico líder do PT, já deixou o partido e tenho certeza que apoiará o nome de Marcelo Freixo, candidato do PSOL à prefeitura do Rio de Janeiro.

Sem a convocação de Sérgio Cabral, Agnelo Queiroz, Marconi Perillo, governadores do Rio de Janeiro, Distrito Federal e Goiás, respectivamente, a CPI não terminará em pizza. Ela simplesmente não começará de verdade.

Roberto Robaina é da direção nacional do PSOL e pré-candidato à prefeitura de Porto Alegre


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