Geral
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31 de maio de 2012
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16:36

As Comissões da Verdade e a proteção à vida de antigos exterminadores

Por
Sul 21
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Inicia-se, finalmente, o processo de investigação sobre os crimes cometidos pela ditadura militar brasileira (1964/1985). Notícia divulgada ontem (30) em primeira mão pelo Sul21 informa que o ex-delegado do DOPS Cláudio Guerra e o ex-sargento do DOI-CODI Marival Chaves Dias foram ouvidos formalmente, durante a segunda (28) e a terça-feira (30), em Vitória (ES), para uma força tarefa do Ministério Público Federal e a coordenadora da Comissão Memória, Verdade e Justiça da Câmara dos Deputados, Luiza Erundina.

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Exterminadores arrependidos, ambos ex-integrantes das forças de repressão da ditadura militar, deverão ser agora protegidos pelo estado democrático brasileiro. A deputada já encaminhou, ao procurador geral da República em Campos dos Goytacases (RJ), pedido de guarda policial para os ex-agentes, principalmente para Guerra, que tem sofrido ameaças de ex-colegas desde que passou a revelar os fatos vividos por ele durante o período de repressão política.

Além da ironia do fato de o governo de Dilma Rousseff, ela própria torturada durante o período ditatorial, vir a proteger, por motivos humanitários, a vida de dois ex-agentes do arbítrio, há também motivação política para a proteção oferecida. Arquivos vivos dos abusos praticados contra os opositores do regime ditatorial, Guerra e Chaves correm risco de serem eliminados por aqueles que temem ver seus crimes expostos.

Acostumados a dar fim à vida dos que se atreviam a contestá-los, parecla da oficialidade das três forças armadas e integrantes das antigas agências de repressão política, têm desenvolvido ações no sentido de dificultar e, se possível, impedir os trabalhos das comissões de resgate da memória e da verdade histórica que se instalam no país com o objetivo de desvendar as práticas e identificar os mandantes e executores das violências ocorridas durante o longo período ditatorial.

Esta é a explicação para os atos do Clube Militar e dos manifestos, assinados por milhares de militares reformados e por alguns altos oficiais na ativa, lançados nos últimos meses. Amedrontados, assim como já deram fim a milhares de arquivos documentais que comprovariam seus crimes, estes senhores poderão, sem dúvida, tentar dar fim também aos arquivos humanos que possam incriminá-los.

Impedir suas ações exigirá que Comissões de Memória e Verdade sejam instaladas e passem a funcionar não apenas no âmbito federal, mas também em cada estado da federação, reunindo documentação e testemunhos e preservando, por meio das forças de segurança federal e estadual, a integridade material dos arquivos documentais e a integridade física e de vida dos arquivos humanos ainda existentes.


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