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31 de maio de 2012
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09:00

A tragédia de um curso de teatro sem… Teatro

Por
Sul 21
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Sala está interditada por risco de incêndio | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Samir Oliveira

A tragédia não é grega, é brasileira mesmo. Imagine um curso de Medicina sem hospital. Um curso de Engenharia Química sem laboratórios. Um curso de Jornalismo sem estúdios. E um curso de Teatro sem… Teatro.

É exatamente essa a situação do Departamento de Artes Dramáticas (DAD) da UFRGS. Os mais de 200 alunos estão sem a sala Alziro Azevedo desde a última quarta-feira (23), quando o espaço foi interditado por risco de incêndio, em razão das frequentes falhas na rede elétrica.

A sala já estava em estado precário desde a metade do ano passado, quando um alagamento danificou a fiação e os equipamentos de iluminação, fazendo com que a luz – elemento essencial para as apresentações teatrais – operasse com apenas 50% de capacidade. A inundação ocorreu porque o forro de uma sala que fica acima do teatro não teve capacidade de suportar a chuva. O aguaceiro seguiu o curso natural determinado pela lei da gravidade até as deficientes instalações do Alziro Azevedo.

Assim como o IA, Departamento de Artes Dramáticas também reivindica melhorias | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

O teatro deu sinais de que precisava sair de cena na última quarta-feira, quando a iluminação se negou a funcionar com mais de 10% da capacidade, encobrindo o local numa penumbra impossível de sediar qualquer espetáculo. Os alunos do DAD precisaram cancelar as apresentações do projeto Teatro, Pesquisa e Extensão (TPE), que ocorre todas as quartas-feiras há 10 anos. Mais de cinco escolas e 200 espectadores tiveram que cancelar o que deveria ser uma agradável ida ao teatro.

Além do prejuízo cultural, a interdição do Alziro Azevedo ameaça a vida profissional dos alunos que estão se formando e precisam do espaço para realizar os trabalhos de conclusão. Sem as apresentações, eles não podem concluir o curso. Sem um teatro, eles não podem fazer as apresentações.

O roteiro fica ainda mais trágico quando entra em cena a existência de um outro teatro vinculado ao DAD. A sala Qorpo Santo, no Campus Central da UFRGS, está interditada há três anos. O processo de reforma estacionou na burocracia, e a universidade até agora não liberou o espaço aos alunos.

Procurada pela reportagem do Sul21, a UFRGS informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o projeto de reforma da sala Qorpo Santo é “muito complexo” e que está em fase de finalização para “logo em seguida” ser licitado.

Quanto à sala Alziro Azevedo, a universidade garante que a reforma da rede elétrica já começou. A previsão é de que o espaço esteja pronto para uso em até seis dias.

A reportagem esteve no DAD na tarde desta quarta-feira (30) e constatou que havia funcionários trabalhando em reparos externos na Alziro Azevedo, sem movimentação dentro da sala, que estava totalmente fechada.

Alunos e professores se unem na exigência de melhorias

Sala que fica em cima do teatro Alziro Azevedo ainda está com problemas no forro e pode sofrer novas inundações| Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

As precariedades no Departamento de Artes Dramáticas (DAD) da UFRGS vieram à tona com a divulgação de um vídeo feito por alunos que denunciavam as deficiências estruturais do teatro Alziro Azevedo. O contexto é favorável a cobranças, já que a universidade está em pleno processo eleitoral e elegerá um reitor no dia 14 de junho.

Nesta semana, os alunos do Instituto de Artes (IA), ao qual está vinculado o DAD, realizaram um protesto durante a visita do atual reitor e candidato à reeleição Carlos Alexandre Netto ao local. Como o Sul21 já retratou em outra reportagem, o IA também enfrenta dificuldades estruturais e aguarda há décadas um novo prédio para seus cursos.

Estudante do 5º semestre do curso de Teatro, Diego Nardi é um dos alunos mobilizados pelas melhorias no prédio do DAD, localizado na rua General Vitorino, 255. “Desde o ano passado estamos pedindo reformas e agora mandam pintar (o exterior da sala Alziro Nascimento). É a famosa maquiagem. Enquanto isso, os problemas estruturais continuam sem solução”, lamenta.

Do lado de dentro do teatro Alziro Azevedo, a fiação pede reforma | Foto: Reprodução

Além da interdição do teatro, ele explica que o teto da sala 2 – a mesma que alagou no ano passado – continua sem os reparos necessários. E o chão de uma outra sala dificulta a performance dos alunos. “Os parquês estão soltos e muitos colegas já cortaram os pés. Nosso trabalho envolve ficar de pé no chão e interagir com o espaço. A maioria das salas não oferece essa condição”, critica Diego.

O diretor do DAD, João Pedro Gil, elogia a mobilização dos alunos. “Está tendo um resultado muito bom, os estudantes estão organizados”, avalia.

Ele lamenta a pouca atenção dada à área das artes da UFRGS. “No contexto universitário e social, as artes sempre têm sido vistas como um efeite. Dentro do IA temos ótimos cursos, mas em termos de condições de trabalho temos que estar sempre implorando melhorias”, observa.

Do lado de fora, universidade manda pintar o prédio | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

A professora Suzy Weber lamenta que espaços importantes para o DAD estejam inoperantes. “Assim como um médico precisa de um hospital, nós precisamos de um teatro. As artes merecem mais visibilidade. Uma sala fechada há três anos é um tesouro escondido”, comenta.

Na sexta-feira (1), os alunos do DAD pretendem amontoar e expor todos os equipamentos elétricos e de iluminação que estão em desuso para denunciar o descaso da universidade com o departamento.

Confira o vídeo feito pelos alunos do DAD


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