Rachel Duarte
Por trás das investigações de denúncias de irregularidades no Hospital Centenário em São Leopoldo há um jogo político de setores interessados em disputar o comando da prefeitura municipal. Enquanto o Ministério Público do Rio Grande do Sul e a Polícia Civil seguem com apurações e sindicâncias, funcionários ligados a partidos políticos tanto de oposição quanto ao lado do prefeito Ary Vanazzi (PT) fazem da crise na saúde leopoldense um palco de disputa eleitoral. Nesta quinta-feira (5), o secretário do Escritório do Rio Grande do Sul em Brasília e ex-secretário de Segurança em São Leopoldo, Ronaldo Teixeira, foi exonerado da função para se colocar à disposição do partido como pré-candidato a prefeito. Vanazzi o acusa de estar envolvido com os denunciantes das supostas irregularidades na cidade e considera o gesto uma atitude oportunista.
“Um cidadão que faz isso num momento de crise para o PT, que está sendo atacado por setores políticos que fazem este jogo há tempo e sabemos quem são, e ainda com o aval do governador, o que eu posso pensar? Tem uma armação política envolvendo o próprio PT. O debate partidário tem que ser feito separado das investigações”, fala o prefeito Vanazzi. O prefeito acusa um dos médicos envolvidos nas denúncias sobre o Centenário de ser ligado ao PTB e que Ronaldo Teixeira teria se reunido com alguns denunciantes. “Pessoas já me disseram que viram o Nado reunido com estes denunciantes. Depois ele ainda vai almoçar com o governador, reuniões com o governador. E agora é exonerado para se colocar a disposição do partido. Assim não dá. O que eu posso concluir de um negócio desses?”, indaga.
As prévias do PT em São Leopoldo, que referendaram por 72% da preferência o nome do indicado por Vanazzi a sua sucessão na prefeitura, ocorreram em dezembro de 2011. Nesta mesma época surgiram as primeiras denúncias envolvendo o Hospital Centenário. Segundo pesquisas internas dos partidos, a saúde é uma das principais preocupações dos moradores de São Leopoldo, o que também estaria motivando a disputa política em cima da situação das suspeitas envolvendo a casa de saúde.
O prefeito disse estar preocupado com a crise envolvendo o hospital e está contribuindo com os órgãos que está fazendo as investigações. “Eu solicitei ao TCE que fiscalizasse tudo. Abrimos tudo para a polícia. Agora, que nem tem resultado de investigação, criminalizarem a administração inteira não dá. É uma injustiça fazerem isso depois de tudo que erguemos nesta cidade e ao final do mandato”, lamenta. “Quem sabe daqui a 10 anos eu possa escrever um livro e contar a verdadeira história da administração de São Leopoldo”, complementou.
“Venho para o debate político na semana que vem”, diz Ronaldo Teixeira
Ainda em Brasília, Ronaldo Teixeira diz que deve chegar ao Rio Grande do Sul na próxima quinta-feira (12) para enfrentar o debate político dentro do PT porque deseja ser candidato na sua cidade natal. “Eu fiz um pedido ao governador que foi acolhido”, falou sobre o aval de Tarso Genro na exoneração.
De acordo com Nado, a derrota na prévia não o impede de se lançar pré-candidato, uma vez que a cidade vive um momento de crise, que pode inclusive denegrir a imagem do indicado por Vanazzi. “Eu compreendi que nós ainda vivemos um período pré-eleitoral, então, para poder ser candidato ou não, preciso estar fora do governo. Por isso pedi minha exoneração. Meu nome não foi escolhido antes, mas agora a cidade vive um momento delicado. Por isso, coloco meu nome a luz do partido outra vez”, explica.
Sobre as acusações de que estaria envolvido nas incitações sobre as denúncias de irregularidades envolverem o pré-candidato Paulo Borba e que teria sido visto em reuniões com os denunciantes, Teixeira diz que são acusações “levianas demais”. “Quem faz a denúncia não pode se beneficiar com ela. Ele (Vanazzi) está tenso com o quadro de crise e está sendo irresponsável ao dizer isso”, revida.
Com a saída de Ronaldo Teixeira, o escritório do Rio Grande do Sul em Brasília passará por uma transição na próxima semana. O substituto de Nado ainda não foi escolhido pelo governador Tarso Genro. A chegada de Teixeira deverá esquentar ainda mais as disputas internas no PT em São Leopoldo. De acordo com o prefeito Ary Vanazzi, o feriado de Páscoa será de muito diálogo político. “Vamos reunir amanhã e depois e agir do ponto de vista político. O resto ficará ao cargo da justiça analisar”, afirmou.
