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6 de março de 2012
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09:00

Sob protestos, Código Florestal deve ser votado esta semana na Câmara

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Sul 21
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Protestos marcaram dia que antecede votação do novo Código FLorestal | Foto: Antônio Cruz/ABr

Samir Oliveira

Há 13 anos em tramitação no Congresso Nacional, o PL 1876/1999, que institui um novo Código Florestal no Brasil, deve ser votado em etapa final ao longo desta semana pela Câmara dos Deputados. Depois da aprovação, o texto irá para a sanção ou veto da presidente Dilma Rousseff (PT).

A expectativa de parlamentares que apoiam a medida é de que ela seja apreciada ainda nesta terça-feira (6), enquanto opositores tentam pressionar para que o debate continue. O Palácio do Planalto também deseja que a aprovação ocorra o quanto antes e considera que o texto que chega aos deputados, na forma de um substitutivo com as alterações feitas no Senado, representa um “tênue equilíbrio” entre as demandas dos ruralistas e dos ambientalistas.

A proposta é alvo de duras críticas por parte de entidades ligadas ao meio ambiente e à pesquisa, que alegam que o novo Código Florestal anistia desmatadores, reduz as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e flexibiliza a proteção a alguns biomas, como os manguezais.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou um manifesto aos parlamentares apontando normas que terão efeitos negativos no meio ambiente caso o projeto seja aprovado. O texto assinala que “a reforma do Código Florestal Brasileiro, tal como vem sendo processada no Congresso, sob a influência de grupos de pressão setoriais, representa a desregulação do setor do agronegócio com sérios riscos para o meio ambiente e para a própria produção agrícola”.

A entidade elaborou uma tabela onde explica as consequências das principais mudanças em relação à lei original, em vigor desde 1965. A SBPC critica a retirada de poder do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que perde o poder de regular as áreas desmatadas – atividade que passará para o controle dos estados -, e denuncia que a figura da Reserva Legal (RL) será “praticamente extinta“.

Isso porque a proposta desobriga as propriedades rurais com até 440 hectares de restaurarem suas reservas legais caso elas tenham sido desmatadas até 22 de julho de 2008. A mesma data vale para isentar de punição qualquer propriedade que tenha utilizado ilegalmente uma APP. “Os proprietários não serão obrigados a restaurá-las e as áreas poderão ser utilizadas para os mais diversos propósitos ao invés da conservação”, lamenta a SBPC.

Além disso, o novo Código Florestal reduz de 30 metros para 15 metros o espaço de preservação em torno de rios com até 10 metros de largura. O projeto também altera os critérios para utilização rural de morros. O texto libera a plantação nos morros de até 50 metros, o que é proibido pela lei atual, e estabelece como limite mínimo a altura de 100 metros, além de liberar a produção em encostas que tenham entre 25 e 45 graus de inclinação. Quanto aos manguezais, a medida estabelece que será permitia a remoção de sua vegetação caso a “função ecológica” do bioma esteja “comprometida”.

Apesar de as negociações indicarem que será apreciado ainda nesta semana, o novo Código Florestal brasileiro tem até o dia 11 de abril para ser votado, quando se esgota o prazo dado por um decreto presidencial que suspende a aplicação de multas aos produtores rurais que descumpriram as regras ambientais e de regularização fundiária estabelecidas em 2008. Dilma, que já modificou o prazo do decreto duas vezes, não cogita estendê-lo ainda mais. O Palácio do Planalto também tem a preocupação de chegar à conferência ambiental das Nações Unidas Rio +20, que ocorrerá no final de julho, no Rio de Janeiro, com o texto já aprovado.

“Esperamos que Dilma vete os pontos mais preocupantes”, reivindica ambientalista

Paulo Brack diz que anistia representa um "desastre" em termos pedagógicos | Ramiro Furquim/Sul21

As entidades ambientais ainda tentam fazer pressão junto ao Congresso Nacional para que os parlamentares não votem nesta semana a redação final do novo Código Florestal brasileiro. Mas, percebendo que será difícil retardar as discussões, ambientalistas miram no Palácio do Planalto e pretendem intensificar os movimentos para que a presidente Dilma Rousseff vete algumas medidas do projeto, como a que anistia desmatadores.

No dia 26 de janeiro deste ano a presidente se reuniu com lideranças do Fórum Social Mundial em Porto Alegre e foi questionada pelo líder do MST, João Pedro Stédile, sobre o Código Florestal. Na ocasião, Dilma disse que não irá agradar a todos. “Não será, adianto pra vocês aqui, o sonhos dos ruralistas. Não será também um código ambiental perfeito”, admitiu a petista.

O professor do Departamento de Botânica da UFRGS, Paulo Brack, que integra o Comitê Gaúcho em Defesa das Florestas, espera que a presidente vete alguns artigos da nova lei. “Sabemos que a bancada ruralista exige coisas do governo. Na Câmara, tentam abrir brechas no conteúdo final, até a mudança em algumas vírgulas pode ser perigosa. Os movimentos de ambientalistas esperam que Dilma vete os pontos mais preocupantes”, comenta.

Brack avalia que a anistia aos produtores que desmataram Áreas de Proteção Permanente até 2008 é “um desastre” e desrespeita aqueles que cumpriram a lei. “Pedagogicamente, a anistia é um desastre. Cria um precedente muito perigoso no Brasil”, critica.

O sindicalista Décio Monteiro, que também integra o Comitê Gaúcho em Defesa das Florestas, está em Brasília junto com outras entidades de ambientalistas do país para pressionar os deputados federais a não votarem o projeto esta semana. “Faremos um corpo a corpo para tentar postergar a discussão. Trabalhamos em duas frentes, tentando conscientizar os deputados e a presidente Dilma em alguns pontos cruciais da proposta”, explica.

Deputado diz que críticas dos ambientalistas são “conversa mole para boi dormir”

O deputado federal Moreira Mendes (PSD-RO), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, assegura que o novo Código Florestal será votado ainda nesta terça-feira (6). Ele explica que conversou com o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), que teria lhe garantido o compromisso de colocar o projeto na pauta. “Estive pessoalmente com o Marco Maia e ele me confirmou que a proposta está na pauta de terça. O líder do governo (Cândido Vacarezza, do PT de São Paulo) também disse que esse assunto deve ser liquidado na terça”, comenta Mendes.

O parlamentar lembra que o projeto não poderá sofrer nova redação no plenário da Câmara. Pelo regimento, o substitutivo do Senado poderá apenas perder artigos que já possui. “Não haverá embate. As discussões já estão encerradas, não há como colocar nada de novo”, observa.

Moreira Mendes acredita que o texto “não é o melhor dos mundos para os produtores” e que o meio ambiente não será desfavorecido. Ele desmente a crítica feita por ambientalistas de que o projeto flexibiliza a legislação e anistia desmatadores. “Isso é colóquio flácido para acalentar bovino. Ou seja, é conversa mole para boi dormir. Como eles não têm argumentos, ficam explorando mentiras e farsas”, rebate.

O deputado entende que não há anistia, já que os produtores terão que prestar serviços ambientais em proporção ao território utilizado. “Apenas prevemos o que já existe na legislação, que é a multa em serviços ambientais”, resume.

Moreira Mendes diz que não haverá anistia a desmatadores | Foto: Beto Oliveira/Agência Câmara

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária informa que os ruralistas desejam retirar do substitutivo do Senado os oito princípios que constam no início da norma e orientam a aplicação da lei. O primeiro deles estabelece que é preciso “reconhecer as florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação nativa como bens de interesse comum a todos os habitantes do país”. Para o deputado, esses enunciados podem ser interpretados de forma subjetiva e genérica por juízes e promotores.

Moreira Mendes diz que respeita a prerrogativa constitucional da presidente Dilma Rousseff para vetar o que ela considerar equivocado, mas alerta que, nesse caso, o custo político recairá sobre o governo federal. “Tem determinados pontos que são intocáveis. Se ela resolver criar algum embaraço aos produtores, o ônus será dela, não nosso”, avisa.

– Confira aqui a lei atual do Código Florestal.
– Confira aqui o substitutivo do Senado que será votado na Câmara.


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