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8 de março de 2012
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23:07

Oreiro: reduzir Selic deve frear queda da indústria e apreciação do real

Por
Sul 21
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Felipe Prestes

O economista e professor da UnB, José Luis Oreiro, afirma que especialistas já esperavam redução forte da taxa Selic como a anunciada pelo Copom nesta quarta (7), de 10,5 para 9,75% — uma redução de 0,75%. O ambiente que indicava uma redução brusca era o anúncio, na terça (6), de que o PIB brasileiro cresceu apenas 2,7% em 2011, a indicação do IBGE de queda na atividade industrial em janeiro deste ano e a injeção de euros na economia pelo Banco Central Europeu (BCE), que pode gerar um afluxo de capital especulativo ao Brasil em buscas de juros atraentes, o que valorizaria o real, tornando a indústria brasileira menos competitiva.

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“Estava muito claro que o Banco Central (BC) teria que acelerar a queda da taxa de juros com objetivo, em primeiro lugar, de frear a queda de atividade da indústria, que está muito fraca, e, em segundo lugar, uma tentativa de conter a apreciação do real, resultante desta criação de liquidez por parte do BCE”, afirma Oreiro, diretor da Associação Keynesiana Brasileira.

O economista acredita que a redução de 0,75% surtirá efeito na prática, mas que ainda pode haver mais uma queda na Selic. “A medida terá efetividade. É possível que na próxima reunião o BC reduza mais 0,75%. Realmente a queda na indústria é muito importante e o BC acertou em acelerar a queda da Selic”.

Entretanto, a queda na taxa de juros não poderá seguir um ritmo constante, pois esbarra nas regras da caderneta de poupança. “Para reduzir mais fortemente a Selic seria preciso mudar as regras da caderneta de poupança. Hoje em dia tem um limite para queda da Selic, em torno de 8,5 a 8,75% ao ano. Abaixo disto, só mudando as regras da caderneta”, diz Oreiro.

Mantega é “excessivamente otimista” com crescimento de 4,5%

Para José Luis Oreiro, o país deve conseguir conter a apreciação do real com a queda da Selic somada a medidas anteriores como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Na questão da atividade industrial ele explica que o principal efeito da queda da taxa de juros é que os bancos oferecem mais crédito, e o crédito é fundamental para um dos setores mais importantes da indústria, o automobilístico.

“Em janeiro e fevereiro houve queda importante na indústria automobilística, que depende fundamentalmente de crédito. Boa parte dos automóveis não é vendida à vista. A medida tem efeito na cadeia de suprimentos da indústria automobilística, que é bastante importante”, afirma Oreiro.

Ainda assim, o economista acredita que o país não chegará nem perto da meta de crescimento estabelecida pelo Governo Federal, de 4,5%, que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, revelou nesta quarta (7). “O ministro está sendo excessivamente otimista. Nosso crescimento deve ficar em 3,5% em um bom cenário. Pode ser que fiquemos mais próximos de 3% que de 3,5%”, projeta o professor da UnB.

Queda de juros não deve aumentar inflação

José Luis Oreiro não acredita que a queda da taxa de juros represente um problema para conter a inflação. Ele afirma que 2012 deve ser um ano de poucas pressões inflacionárias. O economista diz que não haverá pressões relevantes no primeiro semestre. Na segunda metade do ano, deve haver uma pressão no setor de serviços, que tem puxado a inflação para cima, devido aos reajustes salariais de várias categorias que ocorrem ao longo do primeiro semestre. “A inflação para produtos industriais tem sido muito baixa, a de preços administrados relativamente baixa. O que tem pressionado é o setor de serviços”.

Esta pressão no setor de serviços, contudo, não deve ser tão significativa, devido à baixa atividade industrial e a fatores externos, como a desaceleração da economia chinesa. “Este ano deve ser até de inflação zero para produtos industriais. E a desaceleração do crescimento na China, já prevista pelo governo chinês, deve produzir queda no preço de commodities internacionais, entre as quais, por exemplo, o trigo. Vai ter impacto positivo, reduzindo preço de alimentos”, explica.


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