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29 de março de 2012
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05:33

Indefinição no quadro eleitoral em Porto Alegre

Por
Sul 21
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A pesquisa de opinião pública divulgada pelo Jornal Correio do Povo nos dias 27 e 28 desta semana revela estabilidade no quadro eleitoral em Porto Alegre e na avaliação de desempenho dos governos. Os dois primeiros colocados na disputa eleitoral, José Fortunati (PDT) e Manuela D’Ávila (PCdoB), mantêm-se no empate técnico já constatado pela pesquisa Kepeler/Sul21, realizada em outubro/11. Verifica-se, entretanto, uma alternância de posições, com Fortunati se colocando alguns decis a frente de Manuela. Tal como naquela pesquisa, os governos federal (com 51% de ótimo e bom) e municipal (com 49%) continuam sendo mais bem avaliados do que o governo estadual, que continua sendo medianamente aprovado (com 29,2% de ótimo e bom e 32% de regular) pela maioria dos entrevistados.

A única novidade significativa é o crescimento das intenções de voto no candidato Adão Villaverde (PT), que praticamente dobrou sua pontuação, apresentando um aumento na casa dos cinco pontos percentuais no período transcorrido entre uma pesquisa e outra. Um crescimento que não ameaça a posição dos dois líderes atuais, mas que revela a entrada de um competidor dotado de um cacife não desprezível na arena da disputa eleitoral. Ainda que seja muito cedo para se avaliar se ele terá fôlego para alcançar os que se mantêm na dianteira, fica já evidente que o novo candidato tem potencial de crescimento e que o quadro eleitoral está ainda longe de se definir.

De acordo com os cenários eleitorais testados na pesquisa Instituto Methodus/Correio do Povo e considerando-se os três principais candidatos, o quadro eleitoral em Porto Alegre hoje é o que se segue: José Fortunati tem entre 33,5%, 35,2% e 40,3% das intenções de voto; Manuela D’Ávila oscila 31,5%, 34,3% e 37,2% e Adão Villaverde fica com 10%, 10,5% e 11,3% dos votos possíveis.

Como o eleitorado tradicional petista em Porto Alegre se situa na casa dos 20% e como a maioria dos eleitores ainda não sabe que Villaverde é o candidato do PT, pode-se imaginar que ele possa dobrar, em poucos meses, os índices que dispõe atualmente. Se isto ocorrer, a tendência é a de que Manuela seja a adversária mais prejudicada. Fortunati goza da vantagem de ser prefeito, de controlar a máquina pública e, além disto, de contar com um arco de alianças partidária e ideológica que dificilmente se encantará com um candidato petista.

Manuela, entretanto, poderá ser significativamente afetada por um eventual crescimento da candidatura de Villaverde. Muito provavelmente, este possível crescimento se dará sobre as intenções de voto hoje dirigidas à candidata comunista, que atualmente hegemoniza as simpatias do eleitorado jovem, com tendências contestatórias e à esquerda. Fortunati tenderá a ser menos afetado por um possível crescimento da candidatura petista, já seus apoios estão hoje localizados na centro-esquerda, no centro e na direita do espectro ideológico.

A candidatura de Manuela D’Ávila, poderá se fragilizar, além disso, em decorrência da conquista de um apoio que hoje aparece como extremamente importante. Caso se concretize a adesão de Ana Amélia Lemos e do PP à candidatura comunista, setores do eleitorado tradicionalmente à esquerda poderão se distanciar da candidata do PCdoB e se reaproximar da candidatura do PT. O desencanto que hoje ostentam com o PT poderá se revelar menos intenso do que a decepção que virão a sentir com o PCdoB. Caberá às cúpulas partidárias pecedobistas e peessebistas, que compõem o núcleo duro da candidatura de Manuela, realizar o cálculo das perdas e dos ganhos que poderão advir do possível apoio pepista à sua candidata.

O quadro está ainda em aberto e é normal que assim esteja há cerca de sete meses das eleições. Fortunati é o que detém hoje a posição mais confortável, disputando uma reeleição com o controle da máquina governamental e com as benesses advindas de uma administração bem avaliada e de um sem número de obras e efeitos que irão se concretizar ao longo do corrente ano. Ainda que o PMDB e PTB disputem a indicação do candidato a vice-prefeito, dificilmente qualquer um deles desapeará do atual governo, entregando as secretarias e cargos municipais que controlam, para se aventurar na apresentação de candidaturas próprias.

Exatamente por saberem o quando o quadro eleitoral em Porto Alegre ainda continua indefinido, é que PMDB e PP esboçam apoios e testam as reações a possíveis alianças. As direções de ambos os partidos fazem cálculos estratégicos, avaliando o que podem ganhar com o apoio a um dos candidatos já colocados ou com a apresentação de candidaturas próprias. Tanto o PP, com Ana Amélia, apresentada como novidade, quanto o PMDB, que não possui hoje nome a apresentar, mas que precisa se recompor depois das derrotas das eleições passadas, visam o acúmulo de forças para a disputa ao governo do Estado em 2014.

Para o PP o quadro é relativamente simples. Sem se apresentar como candidata e sem se desgastar, Ana Amélia ganha com o apoio à Manuela e se fortalece em Porto Alegre, onde o PP nunca teve presença significativa. Mesmo que Manuela saia derrotada, Ana Amélia e o PP somam forças. Desta forma, a cúpula pepista só tem a avaliar se vale a pena ou não romper eleitoralmente com Fortunati, o que implicaria na necessidade de entregar as duas secretarias municipais que detêm hoje.

Do lado do PMDB, o quadro é mais complicado. Se o partido optar pela alternativa mais confortável de se manter no governo Fortunati e de garantir as secretarias que detêm hoje, ele correrá o risco de encolher ainda mais na capital, depois de já ter conquistado a Prefeitura por duas vezes seguidas, e de perder forças para a disputa do governo do Estado. Se ele escolher a via mais trabalhosa da apresentação de uma candidatura própria, mas que poderá lhe render frutos futuros, ele correrá também o risco de se enfraquecer ainda mais, se seu candidato apresentar um baixo desempenho.

Só há uma certeza pela frente. O quadro eleitoral em Porto Alegre ainda está completamente indefinido, o que antecipa a possibilidade de uma disputa bastante acirrada durante os próximos meses.


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