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17 de fevereiro de 2012
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11:50

Paraguai: tensão entre sem-terra e brasileiros volta a aumentar

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Sul 21
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Da Redação

No Paraguai, a tensão entre colonos brasileiros, chamados de brasiguaios, e os sem-terra do país, conhecidos como carperos, aumentou. Para os carperos, os brasileiros devem ser retirados da região e suas terras têm que ser desocupadas. Vários carperos estão acampados em uma faixa de terra de 7 quilômetros de extensão, em uma localidade onde há fazendas cultivadas por brasileiros, em Nancundae, em Alto Paraná (a 70 quilômetros de Ciudad del Este, na fronteira com o Brasil).

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Nos últimos dois dias, os carperos avançaram 14 quilômetros na área de Nancundae. A ideia, segundo os líderes do movimento, é intensificar a ocupação e pressionar os brasiguaios a deixar a região. “Vamos seguir adiante por mais pelo menos outros 20 quilômetros”, disse o carpero Alfredo Alquino, de 23 anos.

O significado da palavra carpa é tenda. Os carperos querem que o governo do presidente Fernando Lugo exproprie as terras, adquiridas por colonos brasileiros nas últimas cinco décadas. Líderes do movimento dizem que o alvo é o fazendeiro Tranquilo Favero, brasileiro naturalizado paraguaio há 40 anos.

Considerado um dos homens mais ricos do Paraguai e apelidado de Rei da Soja, Favero é dono de fazendas e empresas agrícolas. Para os sem-terra paraguaios, o empresário construiu seu patrimônio adquirindo terras públicas a preços considerados irrisórios e de forma irregular.
“Os títulos de terra dele são falsos”, disse Vitoriano Lopez, um dos líderes do movimento dos carperos.

Lopes disse que tanto Favero quanto vários colonos brasileiros foram beneficiados durante o governo do general Alfredo Stroessner (1954-1989), uma das ditaduras mais longas da América Latina. “Não importa que [esses brasileiros] tenham vivido aqui durante décadas. O usucapião não vale para as terras públicas, que nunca deveriam ter sido vendidas, em primeiro lugar”, disse o carpero.

A estimativa da Embaixada do Brasil no Paraguai é que cerca de 350 mil brasileiros vivam em território paraguaio, sendo que a maioria é formada por agricultores. Os conflitos envolvem principalmente 167 mil hectares de terras. Essas áreas, segundo os carperos, foram vendidas a partir do século 19.

Desde o final do mês passado, os conflitos entre brasiguaios e os carperos se intensificaram. De acordo com os brasileiros, a ameaça de expulsão pelos sem-terra levou à perda de aproximadamente 50% da colheita de soja devido à seca e às dúvidas dos produtores, que não sabem se devem continuar investindo em terras.

“Estamos vivendo uma situação de insegurança judicial e física”, disse a advogada brasileira Marilene Squarizi. Filha de colonos, ela é assessora da União de Cooperativas de Agricultores do Paraguai. De acordo com Marelene, 98% dos membros da entidade têm origem brasileira. “Notamos que no governo do presidente Fernando Lugo houve uma mudança de política. Conseguimos com a Justiça ordens para desocupar as terras invadidas, mas o governo demora em executá-las”, disse.

No dia 27, Marilene Squarizi estará em Brasília, para prestar esclarecimentos a parlamentares no Congresso Nacional sobre a situação dos colonos brasileiros no Paraguai. Nesta quinta-feira (16) uma comissão da parlamentares paraguaios viajou até Nancundae para ouvir as queixas dos colonos brasileiros.

“Estamos preocupados porque a situação está piorando. Os carperos agora estão avançando e o governo não esta dando uma solução”, disse o presidente do Partido Pátria Querida, senador Roberto Campos. “Vamos levar esse tema à primeira reunião do Parlamento do Mercosul”, disse ele.

Com informações da Agência Brasil


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