Colunas>Marcelo Carneiro da Cunha
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11 de janeiro de 2012
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11:43

Onde anda o Multipalco?

Por
Sul 21
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Pois que estimados sulvinteumenses, fui assaltado. Calma, povo. Fui assaltado por uma dúvida, nada mais do que isso.

Que fim levou o Multipalco?

Eu acho que o projeto do Multipalco deve ser a coisa mais antiga em andamento no bravo estado do Rio Grande do Sul, juntamente com a duplicação da ponte do Guaíba, a ampliação da pista do aeroporto e a recuperação do auditório Araújo Vianna, não?

Eu passei por aí rapidamente, no mês passado, e almocei no restaurante que existe no local onde deveria estar o resto do Multipalco, e só havia aquilo ali mesmo, restaurante, concha acústica e mais umas coisinhas. Cadê o resto?

Desde que o mundo é mundo eu passo por aqueles lados e vejo placas anunciando a construção do maior complexo cultural do Rio Grande do Sul, da América do Sul, do planeta. Mas agora que eu penso no assunto, cadê o trem? Será que o povo não dá o dindin de que a dona Eva Sopher precisa? Ô, povo!

Fui dar uma googleada pelo mundo e encontrei números que apontam para mais de 20 milhões de reais já investidos no projeto. Com milhões e uns duzentos anos, não era para ter saído alguma coisa já?

Que pasó? O projeto era ambicioso demais? A cidade ficou ambiciosa de menos? O dinheiro veio tarde? Veio, foi gasto como? Existem números e cronogramas aí pra alguém me dizer pelamordedeus o que acontece?

Eu sei que a dona Eva Sopher é patrimônio da união, e ninguém fez mais por merecer. Mas ela tem apoio adequado, executivo, pra dar conta dessa missão?

O Theatro sofreu com a saída da Opus, que trazia muita programação para lá, me dizem. Mas, mesmo assim, com um bom produtor executivo, não seria meio fácil conseguir uma programação rica e intensa para o nosso bravo São Pedro? O que o Luciano Alabarse, esse incrível motor do Em Cena, faz quando não está inventando o melhor festival de teatro do país? Não dava pra dar uma mãozinha? Estamos em condições de subutilizar os nossos maiores talentos?

Essas questões são assim de quem não vive aí, mas se importa. Meu caso. Eu me desespero quanto o tempo passa a as melhores intenções não se concretizam.

Li que a OSPA já deve começar as obras das fundações logo, a licitação já aconteceu e isso quer dizer alguma coisa. A falta de uma sede para a OSPA é uma das coisas que mais me incomodam no que Porto Alegre se tornou nesses últimos tempos. Uma cidade vive sem a sua sinfônica, claro. Mas deixa de ser a cidade que era, que quis ser. E era aquela cidade que me fazia sentir orgulho em ser porto-alegrense. Um teatro no Bourbon não produz o mesmo efeito que um São Pedro ou a OSPA produzem, não adianta – da mesma maneira que todos somos doidos por um bonde e ninguém se apaixona por um ônibus. Idiossincrasias são o que nos faz humanos.

Leio que os cinemas da Casa de Cultura Mario Quintana seguem funcionando, e isso é um alívio. Nada remete para o que ir ao cinema foi um dia como aquelas salinhas um tanto emboloradas. Sala de shopping, e as Arteplex são bem boas, são sanitizadas demais, têm cheiro de pipoca demais, programam de menos.

Mas a Casa de Cultura segue me parecendo um tanto esvaziada no que ela pode ser. E eu até pensei numa coisinha que poderia ser tentada, que eu deixo aqui à guisa de contribuição: não dá pra fazer um acordo e deixar o SESC assumir? Especialmente o SESC São Paulo, talvez quem melhor gerencie arte e cultura para grandes públicos no Brasil de hoje. Eles têm o dinheiro, a cultura, a capacidade gerencial, a logística. Aquilo ali iria bombar, eu agarantio. Pode, ou a lei não permite?

Tudo isso, estimados leitores, porque eu acredito no centro de Porto Alegre como o lugar mais bacana que essa cidade tem ou vai ter. Essa margem de rio é simplesmente um sonho, mesmo que atualmente um sonho com problemas de sintonia. Eu morava na beira do cais, na avenida Mauá, e a vista do meu apartamento valia um bilhão de remminbi. Era o único prédio residencial diretamente diante do rio, e segue sendo, nessa cidade doida que Porto Alegre também sabe ser.

Se o tal projeto do Cais avança, se a Praça da Alfândega puder ser mesmo recuperada para a civilidade, se esses locais de que falei se instalam e passam a funcionar, se a cidade se ajeitar um pouco por aquela região tão rica em história e possibilidades, pimba, teremos uma cidade e tanto, novamente em contato com a sua alma.

Para começar, vocês poderiam ir ali ver o que aconteceu e acontece com o Multipalco, e, descobrindo alguma coisa, por favor, escrevam. Essa caixa postal é curiosa, e está aqui para isso.


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