Colunas>Montserrat Martins
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5 de janeiro de 2012
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20:11

Atitudes rápidas e decisivas

Por
Sul 21
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Aprendi sobre gangues atendendo jovens com problemas de conduta. E lembrei delas agora, nessa época de desencanto popular pela falta de ações eficazes dos governos em áreas como a saúde. Nada me irrita mais que a burocracia, até eu me lembrar do seu extremo oposto, a forma de funcionamento das gangues e o modo como elas ‘governam’ territórios através do medo. Um modelo eficiente de gestão, capaz de atender às necessidades sociais com atitudes rápidas e decisivas, sem ser uma ditadura? Está para ser inventado, pode incluir na lista de prioridades para o século XXI.

Na saúde, a burocracia é o inimigo constante, como aponta a revista do sindicato médico deste mês, mostrando na capa o Hospital Independência abandonado, apesar das promessas de sua reabertura. Há famílias que, no desespero, aceitam ajuda do “patrão” do tráfico para terem dinheiro para uma consulta; é muitas vezes quem está mais perto e resolve o problema. Por isso, em certas regiões membros de gangues não causam estranheza, fazem parte da sociedade local, são importantes. “É o meu trabalho, dona”, disse um jovem apontando a arma para a esposa de um vice-governador, anos atrás. A gangue é a empresa, o empregador é o “patrão”. Há as de tráfico, há as de roubos e das duas coisas também. Mais que uma empresa, é uma forma de governo que abrange todo o território onde moram.

Gangue não tem burocracia porque Executivo, Legislativo e Judiciário estão concentrados no patrão. A analogia tem de ser buscada com os monarcas déspotas de antes do Iluminismo, para não ficar só na tese da barbárie. A construção de sociedades que mereçam o nome de “civilizadas”, ao contrário, requer um processo de acumulação de conquistas, lento e complicado, tanto que estamos longe de chegar lá. É preciso muita paciência e um distanciamento emocional, um estado de reflexão e análise histórica, para não sucumbirmos ao niilismo. A construção da democracia inclui vieses de tirar a paciência de qualquer um e é, como o Luís Fernando Veríssimo costuma lembrar, “a pior forma de governo, com a exceção de todas as outras”.

Exemplos não faltam de sentimentos de revolta, por sensação de impunidade. Essa semana, por exemplo, muitos se revoltaram com a libertação dos responsáveis pelo atropelamento e morte de duas pessoas na praia, estando a motorista alcoolizada e sem habilitação. O juiz declarou que “liberdade provisória não é impunidade”, mas outra notícia pode ser mais educativa do que esta: o INSS vai ajuizar ação judicial, para que os responsáveis respondam pelo ressarcimento das pensões por morte. O INSS gastou 8 bilhões em 2011 com este tipo de despesas, portanto essa iniciativa tem valor moral, pedagógico, social e econômico inclusive.

Apesar dos clamores por um tipo de justiça que gere sensação de segurança, iniciativas como essa do INSS, se prosperarem, criam um novo marco no nosso longo e lento processo civilizatório. O que me lembra um debate pessoal com um amigo socialista, que não vê solução para o aquecimento global a não ser com a derrocada do capitalismo – afinal, interesses econômicos imediatistas estão levando ao retrocesso da própria legislação ambiental. Em contraponto, argumentei que não haverá tempo para a transformação, às pressas, dos sistemas econômicos globais, antes da derrocada do clima do planeta. Para que possamos seguir debatendo e fazendo evoluir sistemas políticos e econômicos, vamos precisar de atitudes rápidas e decisivas para transitar a uma economia de baixo carbono. Segundo os cientistas, temos poucas décadas ainda, daí a importância, em 2012, do Rio + 20.


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