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12 de dezembro de 2011
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18:31

Militar apontado como torturador quer impedir Comissão da Verdade

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Sul 21
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Militar apontado como torturador quer impedir Comissão da Verdade
Militar apontado como torturador quer impedir Comissão da Verdade
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"Querem nossas cabeças de bandeja. Vou enfrentar. Que verdade é essa que vai ouvir um lado só? Quem matou civis inocentes foram esses terroristas" | Foto: Reprodução

Da Redação

Apontado em listas de vítimas da ditadura como um torturador daquele período, o coronel reformado Pedro Ivo Moézia de Lima ingressou com uma ação popular na Justiça Federal de Brasília para impedir a criação da Comissão da Verdade, legislação já sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em novembro. O coronel Moézia, que integrava o núcleo de oficiais do comando do Doi-Codi de São Paulo no início dos anos 1970, é o primeiro a ingressar com uma ação judicial com o intuito de impedir a criação do grupo, que terá o poder de investigar casos de violação de direitos humanos ocorridos durante a ditadura, mas não de criminalizar os casos de tortura, morte e desaparecimento de vítimas. Moézia está tentando articular uma rede, com ações semelhantes em todos os estados do Brasil.

O militar alega na ação que a Comissão da Verdade é inconstitucional e que só visa a satisfazer um lado, o da esquerda. Ele também qualificou a instalação da comissão como um ato de “revanchismo”. “Querem nossas cabeças de bandeja. Vou enfrentar. Sou a primeira voz que se levanta contra esse abuso. Que verdade é essa que vai ouvir um lado só? Não entendo essa fúria contra nós. Quem matou civis inocentes foram esses terroristas” disse em entrevista ao O Globo, em sua residência, em Brasília. Durante a entrevista, Moézia chegou a ligar para o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou o Doi-Codi naqueles anos.

O militar aproveitou para criticar o atual Comando do Exército, que, para ele, não defende os militares daquela época e não se opõe à Comissão da Verdade. “O que fizemos foi cumprir ordens. Não agimos ao nosso bel prazer. Eram estouro de aparelhos, prisão, tiroteios. Não ia para essas ações chupando sorvete. Tínhamos medo, tensão, via gente ferida, chorando, sofrendo do nosso lado. Participei de tiroteios. Se atirei? Sim. Acertei alguém? Sim. Morreu? É possível que sim. Mas era um confronto”, completou o coronel. Em mensagem enviada a outros militares, por e-mail, Moézia foi mais contundente: “O Exército está abandonando seus companheiros no front. Um Exército de homens covardes, de comandantes frouxos”.

Quando capitão, Moézia participou de mais de cem ações contra opositores do regime: estouros de aparelhos, prisões, perseguições e tiroteios. O coronel, de 73 anos, foi do 4º Regimento de Infantaria entre 1965 a 1973. Ele nega que tenha torturado alguém, mas conta que participou de “interrogatórios duros”. “A tortura não existiu. Existia rigores de entrevista. Rigores no interrogatório. Nunca toquei a mão em ninguém. O Ustra (coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou o Doi-Codi) também não”, falou.

Com informações da Agência O Globo


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