Opinião
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16 de novembro de 2011
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21:54

Sobre o fechamento de bares na Cidade Baixa

Por
Sul 21
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Isadora Pisoni

Como frequentadora e produtora cultural na cidade de Porto Alegre, manifesto aqui opinião sobre a situação que desde o início do mês de novembro abate o bairro boêmio da Cidade Baixa.

Partimos resgatando um pouco de história.

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A delimitação atual do bairro Cidade Baixa abrange as avenidas Praia de Belas, Getúlio Vargas, Venâncio Aires, João Pessoa e parte da Borges de Medeiros. A “Cidade Baixa” antiga, contudo, era mais ampla. Compreendia toda a região localizada ao sul da Rua Duque de Caxias.

Na década de 1880 novas ruas foram inauguradas, imortalizando os nomes dos vereadores Lopo Gonçalves e Luiz Afonso. A atual Joaquim Nabuco também foi oficialmente aberta nessa época, batizada de Rua Venezianos, pois sediava o famoso grupo carnavalesco. O carnaval da Cidade Baixa era reconhecido e prestigiado na época, com destaque para os coros que movimentavam as ruas.

O bairro acabaria se notabilizando pela existência de uma “classe média singularmente diferenciada”. Composta por famílias que “ainda botavam cadeiras nas calçadas”, assistiam às matinês do cinema Capitólio e freqüentavam os armazéns em busca de “secos e molhados”. Essa “atmosfera” característica, segundo Carlos Reverbel, definia exemplarmente a vida na Cidade Baixa.

Atualmente, o bairro se caracteriza pela grande quantidade de bares e é conhecido por ser o local preferido dos boêmios da cidade, principalmente nas ruas General Lima e Silva, República e João Alfredo.

Grande parte dos moradores do bairro frequentam os espaços existentes. Não podemos negar que muito da efervescência cultural da cidade ocorre pelas ruas e antigos sobrados ou prédios reformados que hoje são palco da cultura, sejam eles bares ou casas noturnas.

Também não podemos ser parciais e dizer que tudo está uma maravilha no bairro. Quem convive e trabalha por ali sabe o quanto aumentou a violência, o tráfico, o barulho, os flanelinhas que gostam de receber antecipado…

As próprias casas sentem a mudança de comportamento, pois observam a clientela de seus bares e também estão sendo prejudicados. Em determinada noite estava trabalhando em uma casa na João Alfredo, foi necessário chamar a polícia e adivinha… Fomos informados que a BM não queria mais fazer ronda por ali. Pergunta: Se a polícia não vem, quem virá?

Pois é, neste caso foi a SMIC, a SMOV e os interesses de final de ano para dar início a um ano eleitoral.

Participei da reunião dos bares, artistas e produtores na segunda-feira (14). O argumento para o fechamento das casas é o alvará de funcionamento noturno. Pois bem, os donos das casas pecam sim, por não ter interesse de acompanhar seus processos de alvará que já foram encaminhados e entram em ritmo “devagar quase parando” devido à morosidade da Prefeitura de Porto Alegre e suas secretarias.

O que fazer para resolver a situação?

Cabe à Associação dos Bares da João Alfredo (ABAJA), assim como a dos bares da Lima e Silva e José do Patrocínio, fazerem um levantamento de quem são os interessados em regularizar sua situação. Quais já encaminharam o processo, onde ele estagnou, quem não encaminhou mas tem interesse de encaminhar?

Feito isso, é preciso a união destes estabelecimentos, pois uma necessidade existe: REABRIR.

Dou ênfase no reabrir, pois não estão sendo prejudicados apenas o proprietários das casas. Temos artistas e bandas com shows agendados e que já estão cancelados devido a incerteza de abertura. A cadeia produtiva do bairro é afetada, as padarias que funcionavam à noite, os funcionários das casas noturnas e bares, os trabalhadores das empresas de segurança, os produtores culturais que, mesmo não dependendo apenas da “cena Cidade Baixa”, acabam prejudicados, os estacionamentos que vivem centralmente do movimento noturno.

A coisa é bem maior do que imaginamos ser. Não tenho propriedade para falar em números, relativos aos postos de trabalho gerados, mas é visível que não são poucos.

A Associação de Moradores da Cidade Baixa realizará uma reunião na quarta-feira (16). Cabe também a busca de um consenso entre a PM, a Prefeitura e os micro empresários para não prejudicar apenas um lado, que neste caso sabemos qual é… O lado de quem acredita e fomenta a cultura em nossa cidade. Basta lembrarmos o que foi feito com a região do Bonfim.

Se todos cumprirem com seus papéis, não enfrentaremos isso novamente no futuro e nós, maiores interessados no entretenimento e lazer, não ficaremos refém de uma prefeitura que apenas deseja mostrar serviço nas vésperas de um ano eleitoral.

Isadora Pisoni é produtora cultural e proprietária da Nega Bacana Produtora. O texto foi originalmente publicado no blog Ilegal, Imoral e Engorda.


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