A retórica da crise é banal e se aproxima facilmente do clichê. Porque nada é estável, porque as coisas não se solidificam jamais integralmente, é sempre possível ver crises em tudo. Isso é positivo, pois também é a chance da transformação. A desconstrução é também o início da reconstrução, sem que isso signifique cair em chantagens pragmáticas.
O fato, porém, é que como nunca o direito vive hoje uma crise: tribunais abarrotados, aburguesamento dos seus representantes, ensino desconectado do mundo real, dogmatismo catedrático e incapacidade de reconstrução dos seus próprios fundamentos são alguns dos sintomas que tornam os cursos jurídicos hoje literalmente irrespiráveis. A paisagem desértica dos conteúdos programáticos, preocupados com “dígrafos e encontros consonantais” enquanto a vida lá fora requer justiça, é o retrato da situação de penúria de pensamento que hoje passam as faculdades de direito. A substituição de debates de profundidade por questões de nomenclatura, a criação de mundos fictícios criados ad hoc para legitimar teorias, a confiança irrestrita no Estado e na sua burocracia que hoje é contestada em todos os cantos do mundo nesse 2011 emblemático, tudo faz o direito estar com as vísceras expostas na rua (provavelmente sobre a gravata dos seus “operadores”).