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13 de novembro de 2011
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10:15

Patrimônio: Dois prédios tombados à espera da conclusão do restauro

Por
Sul 21
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Lorena Paim (texto) / Flavia Boni Licht (consultoria)

Ramiro Furquim/Sul21

Construção centenária, inaugurada em 20 de novembro de 1910, o prédio da Linha de Tiro, em Porto Alegre, transformado posteriormente em Museu da Brigada Militar, passa por restauração. As obras encontram-se paradas, visto que está sendo feito um aditivo ao contrato inicial, o qual não previa itens como rede de informática e prevenção de incêndio. Segundo o fiscal da obra, engenheiro Agnelo Chiodo, os trabalhos devem ser retomados no próximo ano, faltando pouca coisa para a conclusão.

Arquivo/IPHAE

Chiodo pertence à Secretaria de Obras Públicas, Irrigação e Desenvolvimento Urbano, que coordena o projeto de restauro, juntamente com o IPHAE – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado e a Brigada Militar. O Museu da BM, desde 2001, foi deslocado da Linha de Tiro, no bairro Partenon, para a área do Quartel-General, na Rua dos Andradas, Centro Histórico de Porto Alegre, depois que a antiga sede foi interditada para reformas, devido à infestação de cupins, que estavam destruindo o madeirame.

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Museu da Brigada Militar

Localizado na antiga Chácara das Bananeiras, uma extensa área de 198 hectares, o prédio tinha como objetivo servir como linha de tiro da Brigada, isto é, local de treinamento para o manuseio de armas de fogo. Há um alpendre nos fundos, ligado a áreas descobertas e cercadas por muros, onde se desenvolviam treinamentos de tiro ao alvo. Em 14 de outubro de 1985, o Decreto Estadual 32.030, assinado pelo governador Jair Soares, institucionalizou a criação do Museu da Brigada Militar, idealizado em 1947 pelo tenente Hélio Moro Mariante, para preservar a história e guardar a memória da instituição. Em 13 de março de 1987, o Museu foi oficialmente instalado no prédio da Linha de Tiro. Na ampla área, funcionam ainda, atualmente, a Academia de Polícia Militar e o Centro de Material Bélico. Um pórtico na Avenida Aparício Borges marca o acesso a essas unidades da corporação.

Oitenta anos após a inauguração, o imóvel foi tombado, por ato governamental, como patrimônio histórico do Rio Grande do Sul, por meio da Portaria 17/90, de 5/12/1990. Na justificativa para o tombamento, pelo IPHAE, foram citados o valor histórico, a beleza arquitetônica e o entorno. Uma foto da inauguração mostra os oficiais chegando ao local em carruagens puxadas por cavalos, que os buscavam nas avenidas de acesso. O presidente do Estado, Carlos Barbosa, foi um dos convidados ilustres na inauguração festiva.

Prédio mais antigo data de 1910

Ramiro Furquim/Sul21

A Linha de Tiro é o prédio mais antigo da Brigada Militar. Em 1897, o Governo do Estado cedeu a gleba da Chácara das Bananeiras à Brigada Militar, que ficaria encarregada de sua conservação e custeio. A área era atravessada por uma estrada que ligava o arraial da Glória ao de São José. A Linha de Tiro foi instalada em 1910, num pequeno prédio de estilo eclético. O comandante da BM na época era o coronel Cipriano da Costa Ferreira e o presidente (governador) do Estado, Carlos Barbosa Gonçalves.

Arquivo/IPHAE

O Museu idealizado pelo tenente Mariante chegou a funcionar em 1955, quando era comandante da BM o coronel Walter Peracchi Barcelos (futuro governador do Estado), mas logo foi desativado, por falta de pessoal necessário para o trabalho, tendo o acervo sido deslocado para o Museu Júlio de Castilhos. Mariante ficou sete anos recolhendo peças para exposição. Esses dados são do trabalho de pesquisa de Valdirene Gautério e Nicéia Maestri, do curso de Tecnólogo em Design de Interiores da Ulbra (2007). Segundo a pesquisa, a ideia do Museu somente foi revigorada com a comissão criada em 1985, por decisão do comandante da BM, coronel Antonio Codorniz.

Entre 1987 e 2001, o imóvel da Linha de Tiro abrigou o Museu, contendo peças históricas, armamentos e documentos relativos à vida da corporação que completa 174 anos em 2011. Atualmente o prédio encontra-se desocupado. O acervo foi transferido para o prédio do QG, no Centro Histórico da capital. A biblioteca é constituída pela coleção completa da Revista do Globo, com 1.100 edições entre 1929 e 1967 e seu arquivo acolhe os livros manuscritos de detalhes e assentamentos de oficiais e praças da Brigada Militar (1866 a 1957), Boletins Gerais e documentos dos séculos XIX e XX. Integrado ao Sistema Estadual de Museus – SEM, mantém estreito contato com outras instituições, além de apoiar as atividades de pesquisa, realizar palestras e exposições externas. Acolhe em seu acervo mais de três mil peças, incluindo um canhão utilizado na Revolução Federalista (1893), uma motocicleta Harley-Davidson (1970), armamento, espadas, mobiliário, fardamentos, medalhas e condecorações, troféus esportivos, material de campanha, equipamento de policiamento ostensivo, cavalaria e de bombeiros, entre outras peças. De acordo com a diretora do Museu da Brigada Militar, major Najara Silva, assim que o prédio da Linha de Tiro for totalmente recuperado, as peças maiores retornarão para lá, o antigo Museu, enquanto parte do acervo ficará onde está hoje, no QG na Rua dos Andradas.

Ramiro Furquim/Sul21

A antiga edificação da Linha de Tiro tem paredes de alvenaria e coberturas de telha francesa, janelas de madeira com caixilhos de vidro e bandeira fixa. As fachadas são ecléticas, apresentando elementos decorativos como ameias e torreões. As pesquisadoras da Ulbra citam que os estilos eclético e art nouveau podem ser identificados na construção. A fachada ostenta um medalhão com o escudo rio-grandense, detalhes ornamentais em gesso e o emblema da unidade de tiro.

Torres reforçam ideia de arquitetura militar

Ramiro Furquim/Sul21

Uma característica interessante destacada pelas pesquisadoras é o acabamento em forma de torre das colunas do prédio. É a chamada torre albarrã, bastante usada na arquitetura militar. Remete às torres salientes que serviam de proteção contra ataques inimigos a fortes ou castelos. As aberturas são em cristal importado. A janela principal é art nouveau, assim como a porta principal, feita de madeira e vidro. O arco principal da fachada, com contornos arredondados, guarda também a influência desse estilo. No alpendre e no pátio interno murado, encontram-se cinco pontos de tiro ao alvo com alcance de 500 metros.

Segundo descrição do IPHAE, internamente, os pisos de madeira não são originais, mas a pavimentação do alpendre é de ladrilho hidráulico, provavelmente da época da construção do prédio. A arquiteta Alice Cardoso, do IPHAE, informa que o prédio vem sendo minuciosamente restaurado, com o objetivo de manter as características originais. Algumas intervenções estão previstas, como as linhas de tiro que deverão ganhar vidro blindado. Também foi feita a delimitação do entorno, a fim de garantir construções de no máximo dois pavimentos.

De Solar do Conde de Porto Alegre a Centro Cultural do IAB/RS

Arquivo/IABRS

A foto antiga mostra a família reunida para uma festa de casamento, na grande sala de estar, logo na entrada do Solar do Conde de Porto Alegre. Imagem do século XIX, quando os abastados erguiam suas moradias em áreas como esta, de 921 metros quadrados no total, no Centro Histórico de Porto Alegre. Localizado na esquina da Rua Riachuelo com General Canabarro, o prédio foi moradia de Manoel Marques de Souza, o Conde de Porto Alegre, importante personagem ligado à história oficial da capital gaúcha e do Estado. Entre outros cargos, ele atuou na Revolução Farroupilha pelo Império, foi comandante do Exército da Província na Guerra do Prata, deputado geral do Rio Grande do Sul, conselheiro da Coroa e ministro da Guerra.

Ramiro Furquim/Sul21

Segundo dados da EPHAC- Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre, o Solar apresentava, naquela época, características da arquitetura colonial portuguesa, como aberturas em caixilho e arco abatido de madeira, cobertura de telhas em capa e canal, camarinha no eixo da fachada principal, mescladas à influência no neoclassicismo em voga no Império (platibanda e pilastras na fachada principal).

Em 1933, em função da reciclagem de uso, o imóvel recebeu alterações em sua configuração original, principalmente na volumetria (supressão da camarinha), aberturas externas (substituição de esquadrias em arco abatido por verga reta) e tratamento de fachadas, que sofreram uma atualização da linguagem arquitetônica para um neoclássico tardio. Quanto ao prédio do Antigo Necrotério, situado ao lado, de frente para a Rua Riachuelo, construído também em 1933, apresenta o ecletismo historicista daquele período.

Arquivo/IABS

Desde então, o Solar passou a ser utilizado como Quartel-General do Corpo Policial “Ratos Brancos”, recebendo várias intervenções que alteraram a composição de elementos arquitetônicos originais. Ainda naquele ano, foi construído o primeiro Necrotério da cidade, ao lado do prédio principal. O Solar, o Antigo Necrotério e o respectivo terreno formam o conjunto tombado pelo Município de Porto Alegre em 1998.

Reprodução/Arquivo/IABRS

Ainda conforme a EPHAC, o prédio é estruturado com paredes de alvenaria portante em tijolos argamassados em cal, areia, mica e barro com vestígio de conchas. O pavimento térreo apresenta acesso principal pela Riachuelo e é composto pelo salão no setor central, conectado a duas alas com salas. O pavimento superior apresenta outro salão. No pavimento superior, o ritmo dos vãos obedece à disposição das aberturas do pavimento térreo, ocorrendo balcões com peitoril de ferro nas duas sequências de aberturas dispostas em simetria. O arremate da cobertura é dado por uma platibanda e uma cimalha, que se estendem ao longo de todo o perímetro da construção.

Reprodução/Arquivo/IABRS

O Solar pertence atualmente ao Instituto dos Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio Grande do Sul (IAB/RS), que já restaurou, com recursos próprios, a parte do anexo ocupada pela entidade, a qual tem ali o setor administrativo. Em diversos outros espaços do prédio principal, vêm sendo desenvolvidas atividades características de centro cultural, como eventos, espetáculos teatrais e oficinas artísticas. O Solar passa por restauração desde 1999, o que não impede o funcionamento normal nos setores já concluídos.

A continuação das obras depende de recursos financeiros.

Arquivo/IPHAE

Não existem dados precisos sobre a data em que foi erguido o prédio, mas estima-se que teve uso residencial pelo Conde de Porto Alegre de 1855 a 1875. A época provável da construção é 1835, período, portanto, da Revolução Farroupilha. O imóvel foi vendido ao Governo do Estado em 1932, por 180 contos de réis. O presidente do IAB/RS, arquiteto Carlos Sant’Ana, cita que o local abrigou, desde então, vários órgãos públicos, como Quartel-General da Guarda Civil, Chefatura de Polícia, Instituto Médico Legal e DOPS, centro de repressão na ditadura.

Ramiro Furquim/Sul21

Com a posse pelo Governo, a intenção era abrigar o Arquivo Histórico. Em 1986, um incêndio destruiu toda a área frontal do imóvel. Na década de 90 foi modificada a intenção original e cedido o uso para o IAB/RS manter ali a sua sede e implantar um Centro Cultural de referência em Arquitetura e Urbanismo, comprometendo-se com sua restauração e conservação. Sant’Ana diz que alguns entraves burocráticos dificultam o andamento do processo de restauração, mas acrescenta que as doações de recursos são bem-vindas, com base nas Leis de Incentivo à Cultura. Segundo ele, o próximo passo será o restauro total da fachada, hoje coberta por tapumes. O objetivo é utilizar o espaço, em sua totalidade, como centro de eventos, de cursos, de encontros políticos e de documentação, acrescenta o dirigente.

Os arquitetos Ediolanda Liedke e Roberto Paglioza, encarregados da restauração, dizem que as obras estão paradas. Já foram feitas diversas intervenções, ao longo de mais de uma década. “A mais delicada foi a consolidação das paredes, que estavam abrindo, devido ao sistema construtivo antigo que usava madeira; foi preciso colocar estrutura metálica”, informam. Ediolanda acrescenta que os beirais da construção colonial original foram substituídos por platibandas já na época em que o Código de Posturas queria evitar que a água da chuva caísse nas calçadas.

IABRS

Nas obras que faltam, previstas no projeto, os arquitetos encarregados da restauração destacam as de acessibilidade, a colocação de ar-condicionado, elevador, entre outros confortos. O subsolo foi escavado, para ampliar as possibilidades de utilização. O espaço por onde entravam as carruagens e se fazia o abastecimento do Solar está servindo de ateliê de artistas.

IABRS

Segundo Ediolanda, foi mantida a fachada neoclássica (posterior à original colonial) porque esta “já se encontra consolidada no imaginário de Porto Alegre e, além disso, as alterações fazem parte da identidade do prédio”. Um concurso realizado pelo IAB/RS resultou em projeto que detalha a plena utilização do Solar. Os vencedores foram os arquitetos Ana Carolina Pellegrini, Carla Waleska Mendes, Daniel Pitta Fischman e Marcos Almeida. Algumas das novidades previstas são o auditório com 150 lugares e a volta do “Bar do IAB”, que marcou época quando a sede do Instituto era na Rua Annes Dias.

Endereços
Museu da Brigada Militar- Avenida Coronel Aparício Borges, 2001, Porto Alegre.
Telefones do atual Museu: (51) 3288-2940, 3288-2741 e 3288-2724, e-mail: [email protected]

Solar Conde de Porto Alegre (IAB/RS) – Rua Riachuelo, 579, Porto Alegre.
Sede do IAB/RS – Rua General Canabarro, 363, Porto Alegre, telefone 3212-2552, e-mail: [email protected]

De onde são?
Veja se você descobre de qual prédio histórico são as fotos abaixo. Escreva para o Sul21, dizendo o que você acha.

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