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8 de outubro de 2011
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09:51

O Liberdade: filme mostra coração da boemia de Pelotas

Por
Sul 21
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O Liberdade: filme mostra coração da boemia de Pelotas
O Liberdade: filme mostra coração da boemia de Pelotas

Felipe Prestes

Inaugurado há 37 anos o Bar Liberdade, no centro de Pelotas, traz desde o início uma característica peculiar. “De dia é um restaurante popular, em frente às paradas de ônibus que chegam da zona rural. À noite dá lugar ao Grupo Avendano Júnior, que toca choros e sambas”, explica Rafael Andreazza. Ele dirigiu, junto com Cíntia Lainge, o filme “O Liberdade”, que narra as histórias do bar, dos músicos e de seus frequentadores. “O bar é um patrimônio de Pelotas, de seu caldeirão cultural”, afirma o diretor.

Entre os personagens não poderia falta Seu Dilermando Lopes, um senhor careca, de bigode, sempre atrás do balcão. De origem humilde, vindo de Piratini, Lopes conseguiu fazer o pequeno restaurante dar certo com muito suor. Na película, ele conta que é de dia que o Liberdade se sustenta, graças às refeições servidas no almoço.

À noite, tudo começou graças a Seu Nogueira, que hoje está com 90 anos. O então funcionário da prefeitura de Pelotas foi quem ajudou a viabilizar a documentação do bar. Nogueira já tocava serestas pela noite pelotense desde anos 1950 e sugeriu que tocassem no Liberdade. Entre os companheiros de boemia, estava Avendano Júnior, figura central do documentário, do bar e da música de Pelotas.

Exímio cavaquinista e compositor de choros, Avendano é do mesmo time de grandes nomes do instrumento como Waldir Azevedo, compositor de clássicos como “Brasileirinho”. Os dois foram amigos, inclusive. Waldir partiu em 1980, mas Avendano continua firme, tocando quase todas as sextas e sábados no Liberdade. Às vezes não comparece por que tem bronquite. A rotina de um mestre como Avendano, que passou tanto tempo tocando em um bar do interior do Rio Grande do Sul, podendo estar nos grandes centros do país, desperta curiosidade. “Ninguém acredita que ele toca lá há tantos anos”, afirma Andreazza. No Liberdade, ressalta o diretor, é possível conhecer não apenas as composições de Avendano, como uma sorte de choros e sambas compostos por pelotenses e praticamente desconhecidos fora da cidade.

O diretor diz que o filme procurou ter foco nas pessoas, como Avendano, Seu Lopes e Seu Nogueira, mas também nos frequentadores, como os casais que se esparramam pelo salão à noite. “Sempre foi um bar de coroas, agora as novas gerações estão frequentando. Dança velho com moça e vice-versa. Há também gerações de músicos que vão aprendendo com os mais velhos e outros que já morreram. Procuramos falar de todos, dos que já foram, dos que são e dos que ainda vão ser”, conta. Entre os casais, estão Teresinha e Wilson. Ela loira de cabelinhos cacheados. Ele, um negro delgado. Ambos com mais de setenta anos e viúvos, se conheceram há cerca de cinco anos e desfrutam do Liberdade dançando a noite inteira como dois jovens enamorados.

Lançamento mobilizou a cidade

O documentário foi lançado em Pelotas na última quinta-feira (6), no tradicional Theatro Guarany. Mil e quatrocentas pessoas lotaram o teatro, algumas pessoas ficaram de pé e cerca de quinhentas não conseguiram entrar. “A gente ainda está bem louco com a repercussão”, confessa o diretor. “O pessoal riu, chorou, aplaudiu no meio do filme como se estivesse no bar”.

A segunda sessão será comentada e ocorrerá na Biblotheca Pública Pelotense, no próximo dia 19, às 19h30. “Vamos mandar o filme para festivais e queremos lançar em Porto Alegre, mas ainda não há nada acertado”, conta.


Avendano Júnior toca “Não me queiras mal”, de sua autoria

Na produção de “O Liberdade” foram gastos apenas R$ 23 mil, por meio do Procultura, fundo da Prefeitura de Pelotas que fomenta as atividades culturais. As filmagens ocorreram entre fevereiro e abril deste ano e Andreazza conta que até um dia antes da estreia ainda eram feitos os últimos retoques. “Filme a gente nunca acaba, a gente abandona em determinado momento”, brinca.

Andreazza conta que pairava em Pelotas há muito tempo a ideia de se documentar o Bar Liberdade. Mesmo pessoas de Porto Alegre já haviam registrado imagens do lugar. A Moviola Filmes, produtora que fez “O Liberdade”, chegou a começar a gravar em 2008, mas abortou, retomando o projeto em 2010.

O diretor faz questão de ressaltar que a Moviola Filmes, criada em 2007, quer e vai continuar fazendo cinema no interior do Rio Grande do Sul. “Nas capitais têm mais gente especializada, mais equipamentos, até porque há agências de publicidade para televisão. Tudo aqui é mais reduzido. Cinema é uma atividade cara e o sul do Estado é muito empobrecido, mas a gente compensa na paixão”, afirma.


Um pouco da história de Teresinha e Wilson


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