Da Redação
O jornalista britânico Andrew Jennings defendeu a união de jornalistas brasileiros e europeus para levar ao mundo as denúncias que envolvem o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira. Para o jornalista britânico, autor de denúncias de corrupção no mundo do futebol, Teixeira é um homem que “tem roubado tanto e por tanto tempo que precisa de ajuda. Vim para o Brasil com a missão de me tornar seu irmão e confessor”, ironizou.
As declarações de Jennings foram dadas em um evento da Agência Pública em julho. O vídeo foi divulgado nesta terça-feira (11).
Jennings tem se destacado por investigar as supostas atividades criminosas envolvendo a FIFA e a organização da Copa do Mundo no Brasil. A união de esforços seria, segundo ele, um modo de driblar as barreiras que envolvem a grande mídia e fazer com que um número maior de pessoas tome conhecimento das denúncias que envolvem Teixeira.
“Não se trata de grande mídia, e sim de um trabalho colaborativo e voluntário”, explica Jennings no vídeo. “Estou trabalhando com muitos jornalistas brasileiros muito bons, que fazem um ótimo trabalho investigativo sobre Ricardo Teixeira. E estamos juntando um grupo de voluntários para transcrever as melhores histórias que os repórteres brasileiros escrevem, mas que acabam não sendo conhecidas pelo mundo por causa da barreira de linguagem”.
No encontro, ocorrido em julho, Jennings incentiva os jornalistas presentes a adotar o jornalismo como uma prática de guerrilha. “A única qualidade necessária para ser um jornalista de guerrilha é desejar ser um”, diz. “Se você está bravo pela maneira como os impostos estão sendo roubados, se está bravo porque o seu governo não vai fazer nada contra isso, você tem essa arma maravilhosa que é a internet. É a voz dos desfavorecidos, dos esquecidos, dos que têm sido esmagados pelas autoridades. É essa arma que vamos usar para lutar essa guerra”.
De acordo com o jornalista britânico, é difícil para o jornalismo diário ir realmente a fundo nas histórias obscuras envolvendo instituições como a FIFA. “Para entender pessoas como Carlos Nuzman e Ricardo Teixeira, você precisa realmente investigar e pesquisar sobre elas. Um repórter diário simplesmente não tem tempo para isso. Mas é isso que abre ótimas oportunidades para os jornalistas de guerrilha. Não derramamos sangue e não deixamos corpos para trás, mas tomara que nosso trabalho ajude a construir uma sociedade mais transparente”.
“Por trás dos muitos aplausos e das mulheres dançando de biquíni em Copacabana, estão as histórias. Pessoas pobres estão sendo retiradas de suas casas para que o terreno seja entregue a empreiteiras. É um jogo para que os ricos fiquem ainda mais ricos”, acusa Jennings. “Se vocês usarem suas capacidades, e pesquisarem, e se encontrarem onde os escândalos estão, talvez em dois ou três anos possamos colocar Teixeira e Carlos Nuzman nus, porque a corrupção deles estará revelada”.
O jornalista voltará ao Brasil no final deste mês para participar de uma sessão no Senado. Ele acusa Ricardo Teixeira e o ex-presidente da FIFA, João Havelange, de terem feito acordo com a Justiça suíça para devolver US$ 9 milhões de dólares obtidos em subornos durante a negociação de direitos de transmissão e patrocínio em Copas do Mundo. “Se você ama esportes, ótimo. Não há nada necessariamente errado com o esporte, e sim com as pessoas que fazem uso dele para enriquecer ainda mais”, concluiu.
