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21 de outubro de 2011
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09:36

Após anúncio da FIFA, Porto Alegre tenta não perder a Copa

Por
Sul 21
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Porto Alegre ficou fora das relacionadas para Copa das Confederações e só sediará jogos até as oitavas de final da Copa do Mundo de 2014 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Daniel Cassol e Igor Natusch

Como se previa, a FIFA confirmou nesta quinta-feira (20) que Porto Alegre e o Beira-Rio não sediarão os jogos da Copa das Confederações de 2013, ficando com cinco jogos da Copa do Mundo do ano seguinte. Apontado como principal culpado, em razão do atraso na reforma de seu estádio, a direção do Internacional considerou que houve “decisão política” da FIFA. Enquanto isso, o prefeito José Fortunati colocou a Arena do Grêmio como um “plano B” para que a cidade não perca de vez os jogos do Mundial, possibilidade concreta depois do anúncio desta quinta.

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– Porto Alegre não sediará jogos da Copa das Confederações

A abertura da Copa do Mundo será no Itaquerão, o futuro estádio do Corinthians, no dia 12 de junho de 2014. A final, no Maracanã. Na primeira fase, a seleção brasileira jogará em São Paulo, Fortaleza (17 de junho) e Brasília (23 de junho). Porto Alegre sediará quatro partidas da primeira fase e uma das oitavas de final.

Após o anúncio, vieram as explicações. E quase todas elas apontaram para a demora na assinatura do contrato, entre Internacional e a construtora Andrade Gutierrez, que permitiria a continuidade da reforma do Beira-Rio, paralisada há quatro meses, depois que o clube abandonou a ideia inicial de remodelar o estádio com recursos próprios e passou a negociar com a empreiteira. Sem jogos da competição prévia, Porto Alegre poderia perder a Copa do Mundo?

Siegmann: "A primeira reunião foi em dezembro do ano passado e a partir daí só tivemos reuniões, comissões, subcomissões. Passou quase um ano e não temos nada assinado" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Para Siegmann, houve irresponsabilidade na reforma do Beira-Rio

“É um problema certamente relacionado com o Internacional. Nós lamentamos muito, mas vamos continuar trabalhando para que tenhamos uma boa Copa”, afirmou o governador gaúcho, Tarso Genro, logo após o anúncio do calendário das duas competições, em Zurique (Suíça). “Não há culpados. Foi um imprevisto. Temos que respeitar o tempo do clube, que passou por mudanças de direção. O azar é que esse momento normal de instabilidade coincidiu com a data prevista pela FIFA para uma decisão”, lamentou o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati.

Crítico da direção do Internacional, da qual foi demitido na metade deste ano, Roberto Siegmann atribuiu a perda da Copa das Confederações à lentidão do clube em assinar o contrato. “O processo de reforma do Beira-Rio foi, desde o início, um grande ato de irresponsabilidade”, disparou o ex-vice de futebol do Inter.

“Primeiro, pretendeu-se fazer a obra apenas com recursos próprios, o que mostrou-se impossível. Depois, surgiu a parceria, que eu defendi desde o início e que poderia funcionar. Mas para isso é preciso ter rapidez, celeridade. A primeira reunião foi em dezembro do ano passado e a partir daí só tivemos reuniões, comissões, subcomissões. Passou quase um ano e não temos nada assinado. Essa ausência de convicção, esse temor excessivo de tomar qualquer tipo de decisão foi algo que certamente assustou a construtora. Acompanhei o processo e, infelizmente, não fui surpreendido pela decisão da FIFA”, completou Siegmann.

Inter derrubou parte da arquibancada e decidiu rever modelo da reforma. Contrato com empreiteira é debatido há quatro meses | Foto: Jonathan Heckler/PMPA

Em entrevistas ao longo do dia, o ex-presidente do Internacional, Vitório Piffero, disse algo parecido. O clube teria ficado “refém” da empreiteira, afirmou o dirigente, defendendo até que o Inter cogite deixar de ser sede da Copa e tocar a reforma do estádio com recursos próprios, conforme o projeto original.

Presidente do Inter garante que o Beira-Rio "está à frente de muitos outros estádios" que sediarão a Copa no Brasil | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Inter: decisão política

O presidente do Internacional, Giovani Luigi, chamou entrevista coletiva para esclarecer o posicionamento do clube gaúcho sobre a decisão da FIFA. Segundo o dirigente, a decisão da entidade internacional de não sediar jogos da Copa das Confederações em Porto Alegre não é tão significativa. “Nosso objetivo sempre foi ser o estádio da Copa do Mundo de 2014. Apenas há uns meses é que fomos informados de que existiria a possibilidade de sediar a Copa das Confederações”, garantiu Luigi.

Na visão do presidente colorado, há uma motivação política por trás da decisão tomada pela FIFA. “Se analisarmos as 12 sedes do país, o Beira-Rio é um estádio que funciona, que está de pé e tem uma estrutura avançada. Muitos outros estão em fase inicial de estruturação. Portanto, nós entendemos que o Beira-Rio está na frente de muitos outros estádios”, argumentou. A nota oficial do clube atribuía a perda da Copa das Confederações “por uma escolha política da FIFA e do Comitê Local da Copa”. “Mesmo que o Beira-Rio seja a sede mais avançada, ficou de fora. É o único estádio, por exemplo, que está recebendo jogos atualmente”, dizia o texto.

José Fortunati: "Tenho a convicção de que o Inter assinará com a Andrade Gutierrez. Mas, na eventualidade de isso não ocorrer, temos um plano B” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Arena é plano B, diz Fortunati

Em rápido pronunciamento à imprensa na tarde desta quinta, o prefeito José Fortunati admitiu que a Arena do Grêmio é uma solução que está sendo considerada caso o impasse entre Inter e Andrade Gutierrez persista. “Tenho a convicção de que o Inter assinará com a Andrade Gutierrez e as obras serão retomadas a tempo. Mas, na eventualidade de isso não ocorrer, temos um plano B, que é a Arena do Grêmio”, disse Fortunati.

Na opinião do prefeito, não existem problemas para mudanças de sede do ponto de vista de infraestrutura, já que a área da Arena está sendo capacitada para ser um dos Centros de Treinamento e receberá investimentos. Emendas devem ser aprovadas para liberação de recursos, envolvendo obras na Rodovia do Parque, Ernesto Neugebauer e A. J. Renner.

Se a “decisão política” a que se referiu o Inter tem a ver com uma suposta tentativa de fortalecer a Arena como plano B, a tese foi rechaçada pelo lado gremista da história. “Não tem nada político. Isso não existe. Quem está falando isso, fala besteira”, afirmou ao Sul21 o deputado federal Danrlei (PSD), ex-goleiro do Grêmio. “Se houvesse um favorecimento à Arena, ela teria sido colocada como sede da Copa das Confederações”.

A reportagem conversou com o atual secretário-geral da Grêmio Empreendimentos, que coordena as obras da Arena tricolor, Ricardo Gothe, ex-secretário municipal da Copa em Porto Alegre. “É a mais absurda das teses achar que a FIFA, trabalhando com bilhões de reais, em um negócio de importância planetária como o futebol, vai se deixar guiar pela ação de um indivíduo ou outro, seja onde for”, afirmou Gothe. “Se eu tivesse essa influência toda, talvez estivesse nos quadros da FIFA”, retrucou.

Jonathan Heckler/PMPA
Ricardo Gothe, da Grêmio Empreendimentos: "A FIFA apenas pensou em sua programação. Pegou as cidades onde projeta que as garantias necessárias existem" | Foto: Jonathan Heckler/PMPA

Segundo Gothe, são “questões objetivas” que levam a FIFA a afastar o Beira-Rio da Copa das Confederações. “Para mim, que tenho acompanhado o processo, a FIFA apenas pensou em sua programação. Pegou as cidades onde projeta que as garantias necessárias existem. E Porto Alegre não está entre elas. O resto é bobagem. Não existem garantias no momento, é simples”, argumentou.

Porto Alegre corre risco de perder a Copa?

A falta de garantias de que o Beira-Rio estará pronto em 2014, aliada ao fato de que no Brasil são 12 as cidades-sede da Copa, em vez das tradicionais oito, faz com que se discuta a hipótese de que Porto Alegre perca de vez a possibilidade de sediar jogos da Copa do Mundo. O próprio presidente do Inter, Giovani Luigi, não foi categórico sobre as chances do Beira-Rio não estar pronto para a Copa. Limitou-se a dizer, durante a coletiva de imprensa concedida nesta quinta, que “o Beira-Rio tem tudo para ser o estádio da Copa” de 2014.

“Não há a menor chance de Porto Alegre perder a Copa do Mundo. Não ficaremos sem jogos, isso não vai acontecer em hipótese alguma”, garantiu no entanto o prefeito José Fortunati. Roberto Siegmann, por sua vez, adotou tom bem menos otimista. “A FIFA é pragmática. Temos um número maior de cidades-sede por pressão do então presidente Lula. Para a FIFA, quanto menos cidades, menos custos. Se a situação continuar, o Rio Grande do Sul pode ficar sem a Copa. Nem Beira-Rio, nem Arena: simplesmente tirarem a Copa de Porto Alegre”.

Deputado federal admite que está preocupado com Copa em Porto Alegre: "A FIFA é quem decide, pode reduzir o número de sedes" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Ao Sul21, o ex-goleiro gremista e deputado federal Danrlei (PSD) também deixou transparecer a mesma preocupação. “A minha preocupação hoje, como deputado federal, é colocar forças para que nós tenhamos condições de sediar a Copa. A FIFA é quem decide. Pode decidir reduzir o número de sedes”, avalia.

Durante toda a quinta-feira, a construtora Andrade Gutierrez não se manifestou. De qualquer modo, mesmo admitindo que o Rio Grande do Sul perde dinheiro e projeção internacional com a exclusão da lista de cidades-sede da Copa das Confederações, Tarso Genro e José Fortunati garantem que Porto Alegre continua tendo muito a ganhar. “Sempre falamos em cinco jogos. Nesse sentido, nos sentimos contemplados”, assegura o prefeito da capital gaúcha. “E o mais importante não é a quantidade de jogos que sediaremos, e sim o legado, os ganhos que as obras trarão para a cidade”.


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